Alguns estudantes não possuem facilidade com a matemática, e outros apresentam uma fobia, repulsa, preocupação, desamparo, pânico, esquiva e medo diante de situações que envolvam a matéria. Esse medo exagerado é conhecido na literatura científica como 'ansiedade matemática', um sentimento negativo que pode modificar o estado cognitivo, fisiológico e comportamental do estudante, ocasionando desmotivação, desinteresse, abandono escolar e fuga de atividades que envolvam a matemática.
Causas da ansiedade matemática
É improvável existirem fatores genéticos específicos para a ansiedade matemática. Vários aspectos podem contribuir para o problema, especialmente quando os estudantes apresentam crenças negativas quanto à sua capacidade, relacionada ao processo de aprendizagem, que interfere na condição subjetiva de bem-estar e pode afetar sua conquista de conhecimento.
Alguns fatores estão relacionados ao ambiente como experiências passadas e motivação. Visto que, ainda hoje, infelizmente, perpetua a crença de que a matemática é para poucos, para pessoas mais habilidosas, que as áreas de exatas são estabelecidas para perfis racionais e destinadas aos homens.
Também é possível afirmar que a exposição a atitudes negativas de outras pessoas, como pais e professores, perante à matemática podem interferir no modo como os estudantes aprendem e lidam com os números.
Situações que despertam a fobia
A ansiedade matemática se manifesta perante a execução de algumas atividades relacionadas à prática, como:
- Resolução de problemas;
- Avaliações;
- Contato com livros didáticos matemáticos;
- Ver uma equação na lousa ou em um papel;
- Ouvir o nome do professor de matemática e, ainda, que é dia de aula de matemática.
Impacto da condição no cotidiano
É importante enfatizar que a ansiedade matemática difere de outras formas de ansiedade, como transtorno de ansiedade, ansiedade geral e a ansiedade social. Entretanto, assim como as demais sensações, modifica o estado cognitivo, fisiológico e comportamental do estudante, trazendo implicações no contexto educacional ou cotidiano, como:
- Estado cognitivo: falta de concentração, dificuldades de memória, problemas de atenção, raciocínio, bloqueio mental, menor eficiência cognitiva e falhas no processamento de informação;
- Estado comportamental: medo, esquiva, agressividade, impotência, repulsa, irritabilidade, nervosismo, tristeza, depressão, angústia, preocupação, insegurança, estresse;
- Estado fisiológico: dor de cabeça, insônia, dor estomacal, desarranjo gastrointestinal, hipertensão, mãos frias, paralisação, sudorese, tremor, sonolência, formigamento.
Papel dos pais e professores no aprendizado
O comportamento, as atitudes e o encorajamento dos pais funcionam como apoio aos estudantes e tem um impacto positivo relacionado à sua participação nas atividades educacionais de seus filhos, colaborando para interação familiar, auxiliando na organização dos estudos, influenciando nos comportamentos e atitudes das crianças e evidenciando a importância da relação nas atividades escolares e extraescolares.
Do mesmo modo, as atitudes dos professores incidem sobre os estudantes. A escola ainda utiliza o controle aversivo por meio de discursos intimidadores, com agressões verbais, suspensão e pontos negativos na média, podendo causar nas crianças e adolescentes estresse, frustração, fuga, desmotivação e medo do fracasso, influenciando diretamente no processo de aprendizagem da matéria.
Por meio de regras inadequadas, pela propagação de que a matemática é difícil, que só existe uma solução correta para as atividades propostas, uso de metodologias impróprias, agressividade verbal do professor e uso de controle aversivo, os educadores podem reforçar as emoções negativas dos estudantes diante da matemática.
Desse modo, quando a fobia não é identificada precocemente, pode se tornar uma bola de neve, levando estudantes a evitarem cursos e opções de carreira relacionadas.
Técnicas para ajudar os estudantes a vencerem a fobia
No caso dos pais, o recomendado é ter expectativas reais, oferecer apoio e incentivo, monitorar o progresso da aprendizagem, demonstrar o uso positivo da matemática, como em hobbies, atividades domésticas, quebra-cabeças e jogos. Aos estudantes, cabe praticar a matéria todos os dias, usar técnicas de estudos, estudar de acordo com seu estilo, se concentrar em sucessos do passado e praticar métodos de relaxamento.
Para os professores, algumas práticas podem ser inseridas na rotina, como:
- Desenvolver habilidades fortes e uma atitude positiva em relação à matemática;
- Relacionar o estudo à realidade;
- Incentivar a aprendizagem ativa e o pensamento crítico;
- Acomodar os variados estilos de conhecimento dos estudantes;
- Colocar menos ênfase nas respostas corretas e na velocidade responsiva;
- Promover grupos de estudos;
- Oferecer apoio e incentivo;
- Evitar colocar os estudantes em situações embaraçosas;
- Nunca usar a matemática como punição;
- Usar materiais manipulativos;
- Utilizar a tecnologia;
- Disseminar preconceitos errôneos;
- Preparar o estudante para testes.
Por Ana Maria Antunes de Campos
Doutora em Educação Matemática, Mestre em Educação e especialista em Educação Matemática. Entre os livros lançados estão "Aprendizagem da Matemática - Da educação infantil ao ensino fundamental" e"Discalculia: superando as dificuldades de aprender matemática" (Wak Editora).