A busca por uma pele saudável e bem-cuidada faz parte da rotina de muitas pessoas, mas quando esse interesse ultrapassa o autocuidado e se transforma em uma obsessão por alcançar uma aparência "perfeita", pode indicar um transtorno conhecido como “cosmeticorexia”.
Esse comportamento, que também é chamado de dismorfia da aparência relacionada à cosmética, leva a uma busca constante por tratamentos, produtos e procedimentos para corrigir imperfeições na pele – que, muitas vezes, são mínimas ou até mesmo inexistentes.
Transtorno pode causar sofrimento psicológico
Em entrevista ao Terra Você, o biomédico Thiago Martins explica que a cosmeticorexia "é uma obsessão por aperfeiçoamento estético, marcada por uma busca incessante por tratamentos e produtos para corrigir ou melhorar imperfeições percebidas na pele".
Martins explica que essa obsessão se diferencia de um interesse saudável pelos cuidados com a pele porque ultrapassa o limite do autocuidado. “Promove um comportamento compulsivo, insatisfação crônica e gastos excessivos”, aponta, ressaltando que o transtorno pode afetar profundamente a percepção do próprio corpo e levar a uma visão distorcida da aparência, desencadeando sofrimento psicológico.
Fatores como a pressão social por uma pele perfeita e o fácil acesso a informações e procedimentos estéticos e dermocosméticos podem contribuir para o desenvolvimento da cosmeticorexia. Além disso, condições psicológicas, como ansiedade e baixa autoestima, tornam algumas pessoas mais vulneráveis ao transtorno.
“A procura incessante por produtos e tratamentos alimenta um ciclo de insatisfação e insegurança”, diz o profissional. Em vez de trazer confiança, essa busca pode piorar a percepção de si mesmo e aumentar o desconforto com a imagem, gerando ainda mais ansiedade e reduzindo a autoestima.
A identificação precoce dos sinais de cosmeticorexia é importante para prevenir que o transtorno afete ainda mais a saúde mental e física. Entre os principais sinais estão a fixação em imperfeições que outras pessoas não notam, o uso exagerado de produtos, a troca constante de tratamentos e até evitar eventos sociais por medo de expor as “falhas” na pele.
Cuidar da mente é essencial
Para pessoas que sofrem com a cosmeticorexia, o suporte psiquiátrico é um recurso essencial. A médica psiquiatra, Cíntia Braga, explica ao Terra Você que a psicoeducação – ou seja, o processo de orientar o paciente sobre seu transtorno – é fundamental para que ele compreenda que as preocupações excessivas com a aparência são sintomas de um transtorno e não representam a realidade.
“Esse entendimento inicial é essencial para o sucesso do tratamento”, afirma a psiquiatra.
Uma das abordagens terapêuticas mais eficazes nesse contexto é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda o paciente a reconhecer e modificar pensamentos distorcidos sobre sua aparência. Técnicas de exposição e prevenção de resposta, por exemplo, são utilizadas para reduzir comportamentos compulsivos e lidar melhor com a ansiedade que envolve a própria imagem.
“Em alguns casos, o tratamento medicamentoso pode ser indicado, especialmente se houver sintomas intensos de ansiedade ou depressão”, explica a médica, destacando a importância do acompanhamento de um psiquiatra para avaliar os benefícios e efeitos colaterais dos medicamentos.
Outra opção terapêutica é a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), que incentiva o paciente a aceitar suas percepções e emoções em vez de lutar contra elas. “Na ACT, o foco está em desenvolver a capacidade de aceitar a própria aparência e redirecionar a energia para valores e atividades significativas”, esclarece a psiquiatra, observando que o objetivo é promover uma vida mais satisfatória para além da imagem corporal.
Para completar, o apoio de familiares e amigos é crucial no tratamento. Segundo Braga, essas pessoas devem ser orientadas para que compreendam o transtorno e saibam como oferecer um suporte efetivo, evitando julgamentos e incentivando a adesão ao tratamento.