Os dados do Censo divulgados essa semana mostram que a população brasileira “encolheu” em mais de dez milhões de pessoas diante das projeções feitas, e esse fenômeno pode ter impactos importantes em futuras políticas públicas de diversas áreas, sobretudo na área social e da saúde. Quais seriam as causas?
Falta de contagens no meio da década, atraso em mais de dois anos na coleta das informações, e as confusões do governo anterior na condução do processo e da pandemia são algumas das hipóteses.
O fato é que a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2021 era que a população brasileira alcançaria 213,3 milhões de pessoas, diante de um resultado de 203,1 milhões. No Censo anterior, de 2010, a população estava na casa dos 190,7 milhões de pessoas.
Covid-19 e o Censo 2022
Para além das questões metodológicas específicas das pesquisas censitárias, arrisco aqui alguns palpites, baseados em dinâmicas populacionais e de comportamento social observados nos últimos anos, que podem trazer mais alguns elementos para ajudar nessa análise.
Para começar, não se pode deixar de lado a Covid-19. Dados divulgados essa semana pelo governo mostram quase 38 milhões de diagnósticos confirmados e 703.964 mortes pela doença.
Além do impacto direto das mortes no tamanho da população, a gravidade e a longa duração da pandemia podem ter feito muitos casais adiarem seu projeto de ter filhos, o que pode impactar o crescimento populacional.
Em momentos conturbados e de incerteza da história do planeta, tanto do ponto de vista sanitário como econômico, as pessoas podem evitar investir em projetos de aumentar sua família.
A busca por um país mais seguro
Além disso, por conta da polarização política dos últimos anos, do aumento da violência e das sucessivas crises econômicas, muitos brasileiros também deixaram o Brasil na última década sem planos imediatos de volta.
Na maioria das vezes são pessoas jovens em busca de um país em que possam construir seus sonhos e constituir sua família, em um ambiente mais seguro e com maior estabilidade econômica.
Menos filhos
Outro ponto importante é a diminuição do tamanho das famílias, que acompanha a queda nas taxas de fecundidade. Os brasileiros hoje adiam o momento de estabelecer relações mais duradouras e de investir em filhos. Essa questão é complexa e envolve muitas nuances.
A crise econômica pode fazer com que muitos casais demorem mais tempo para alcançar sua autonomia financeira, postergando o projeto de paternidade e o tamanho da sua prole.
Além disso, as movimentações sociais e os novos papéis da mulher no mercado de trabalho, também podem contribuir para gestações que acontecem mais tarde e em menor número. O resultado é uma queda na taxa de fecundidade da população. Esse fenômeno não é exclusivo do Brasil, e já vem sendo observado há décadas nos EUA e na Europa, por exemplo.
Número de domicílios atinge recorde
Na contramão do crescimento da população, que teve sua menor taxa de crescimento (6,4%) na última década, desde que os dados oficiais começaram a ser coletados, o número de domicílios no país explodiu, atingindo o recorde de 90,6 milhões contra 67,5 milhões em 2010, um salto de 34%, ou seja, quase 5 vezes maior que a taxa de crescimento da população.
Com isso, cai o número de pessoas morando em uma mesma residência, de 3,31 em 2010 para 2,79 em 2022, o que reforça a percepção que as famílias estão menores e tendo menos filhos.
Resultados iniciais
Importante lembrar que os dados do censo divulgados essa semana se referem apenas ao tamanho da população e o número de domicílios, o que dá uma visão geral do que acontece, sem entrar muito nos detalhes das mudanças sociais da última década.
Nos próximos meses, novos resultados e análises serão divulgados, o que vai ajudar no entendimento mais profundo das dinâmicas da população brasileira e na estruturação de políticas públicas que atendam melhor as novas necessidades de uma população em profunda transformação. Por tudo isso, fica claro que o Censo é fundamental para o país e não deve atrasar, nunca!