Popularmente conhecido como “whey de maconha”, o cânhamo tem conquistado destaque como uma boa alternativa no mundo dos suplementos para ganho muscular e na prevenção de doenças cardíacas.
A cepa da planta Cannabis sativa, comumente utilizada para fins industriais, tem pouco tetra-hidrocarbinol (THC) - único canabinóide com propriedades psicotrópicas e alucinógenas, capaz de causar dependência química nos usuários - em suas flores. No entanto, não há diferença visual entre as plantas
Em entrevista ao Terra Você, a médica psiquiatra estudiosa sobre os usos terapêuticos da cannabis, Cíntia Braga, explica que as plantas do gênero Cannabis, entre elas o hemp ou cânhamo, são muito versáteis.
“A planta pode ser totalmente utilizada para os mais diversos fins e suas sementes e folhas têm altos valores nutricionais. É considerada uma ‘Super food’, ou seja, rica em componentes nutricionais”, diz a médica.
Além disso, a semente, pela facilidade de armazenamento, é mais utilizada na alimentação e tem grande porcentagem de proteína em sua constituição. Seu plantio e manejo são mais favoráveis para o solo e meio ambiente que outras plantas, como a soja, por exemplo.
A especialista destaca que a semente dessa planta não possui fitocanabinoides, compostos químicos naturais encontrados em plantas do gênero Cannabis, que interagem com o sistema endocanabinoide do corpo humano, responsável por regular uma variedade de processos fisiológicos, como humor, dor, apetite e inflamação.
Óleos de semente de hemp ou cânhamo e mesmo de outros strains de Cannabis, ricos em THC, são livres dessas substâncias, possuindo apenas nutrientes, como proteínas, carboidratos, vitaminas e ácidos graxos.
“Os fitocanabinoides estão presentes predominantemente nas flores, armazenados nos tricomas. As folhas, principalmente as maiores, também têm quantidades irrisórias de fitocanabinoides. Apenas as pequenas folhas, muito próximas das flores - às quais chamamos de sugar leaves, que pela presença de alguns tricomas, parecem estar polvilhadas com açúcar, apresenta alguma quantidade pequena de fitocanabinoides”, destaca a especialista.
A médica conta que além do alto valor nutricional das folhas e sementes, os fitocanabinoides presentes nas flores são importantes aliados dos atletas e já faz parte da rotina de muitos, melhorando a saúde muscular, questões ligadas à saúde mental, resposta inflamatória e dores, principalmente as do pós-treino. Desde os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o CBD (Canabidiol) não é considerado doping.
Cânhamo para a saúde cardiovascular
A profissional explica que um dos principais componentes das sementes são os ácidos graxos da família dos Ômegas, principalmente o 3 e 6, essenciais para a saúde cardiovascular. Além disso, os fitocanabinoides apresentam potente ação antiinflamatória, podendo ser úteis na prevenção e manejo de condições cardiovasculares.
“Também são úteis no controle de sintomas como ansiedade e transtornos do sono, que tem influência no desenvolvimento e piora de questões ligadas a doenças cardíacas e cardiovasculares”, completa a médica.
Contraindicações
Em relação às sementes, a profissional diz que as contraindicações são menores, visto que é apenas um suplemento alimentar, sem ação psicotrópica. Em relação aos fitocanabinoides, há que se tomar um pouco mais de precaução, devido a ser um medicamento fitoterápico e poder causar efeitos colaterais - ainda que, na maioria das vezes, leves e transitórios.
A atenção especial vai para as crianças, idosos e gestantes. Para as crianças e gestantes, por terem os seus sistemas endocanabinóides em formação - do feto, no caso das gestantes - essa medicação não deve ser a primeira escolha. No caso de idosos, a interação medicamentosa e o risco de hipotensão devem ser monitorizados.
Por se tratar de uma medicação, o uso de fitocanabinoides sempre deve ser avaliado e acompanhado por um médico.