Aos 60 anos, a professora Vilma de Fátima Alves Di Raimo deu à luz a pequena Rebeca, no dia 8 de outubro. Junto com o marido, o agricultor Constantino Di Raimo, 62, eles realizaram o sonho de serem pais pela segunda vez depois de mais de três décadas. A primogênita do casal, Carolina, foi filha única por 36 anos, até a chegada da irmã.
Vilma conta que sempre quis ter outro filho, mas a vida corrida, de estudo e trabalho, acabou adiando o sonho. O casal chegou a considerar a adoção, mas para Vilma era importante a gestação. Por isso, eles deram início ao processo de fertilização in vitro.
Fertilização in vitro
De acordo com o Dr. Roberto de Azevedo Antunes, diretor médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana e diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), existem duas formas possíveis de se engravidar através de procedimentos de fertilização in vitro após a menopausa, ou em situações de idade mais avançada. A primeira é através do uso de óvulos ou embriões próprios que foram previamente congelados. A segunda alternativa é através do uso de óvulos ou embriões doados.
"Em teoria, mesmo após a menopausa, caso a mulher tenha o seu útero preservado, é possível realizar um preparo do mesmo com uso de estrogênios e progesterona para que o órgão volte a ser apto para receber um embrião. Evidentemente, há uma grande discussão ética sobre os limites da maternidade, mas, na prática, é possível conseguir a gravidez", explica.
De acordo com o especialista, no caso em questão, possivelmente a paciente fez uso de óvulos ou embriões doados para conseguir a gestação. "Afinal, quando o congelamento de óvulos próprios foi formalmente introduzido na prática clínica em 2012, ela já tinha 49 anos", aponta.
"Considerando essa hipótese, mesmo com 59 anos, utilizando óvulos de doadoras com menos de 35 anos, as chances de se obter uma gravidez seriam bastante altas, em torno de 50% por embrião transferido. Outra possibilidade para seu caso é que tenha feito algum tratamento prévio de estimulação ovariana e deixado embriões excedentes congelados", analisa o médico.
Existe uma idade limite para se tornar mãe?
O Conselho Federal de Medicina aconselha os 50 anos como idade limite para gestação por técnicas de reprodução assistida. Porém, esta é uma recomendação e não uma norma. O Dr. Roberto destaca que as mulheres acima de 50 anos que desejam gestar devem ter uma avaliação clínica de suas condições de saúde. Essa avaliação atesta se uma mulher pode ou não passar por uma gestação.
A gestação é um momento de muitas alterações do corpo, lembra Roberto. Afinal, tal fato permite que uma série de problemas de saúde possam ocorrer: aumento de pressão arterial, diabetes, alterações intestinais, insuficiências circulatórias, etc.
"Obviamente, à medida que uma mulher envelhece, as chances de ocorrerem patologias aumentam por si só, e agregar uma gestação em cima pode ser muito perigoso para pacientes que tenham muitas comorbidades. Essa, portanto, é a principal preocupação do Conselho de Medicina em exigir a avaliação clínica em pacientes que desejam gestar com mais de 50 anos", esclarece.
Conforme o médico, o impacto da gravidez no corpo de uma mulher determina alterações circulatórias importantes. Isto é, exige mais do coração, sobrecarrega o sistema venoso, altera o metabolismo da glicose, dentre outras.
"Isso serve para toda paciente que deseja engravidar. Contudo, obviamente, pacientes que possuem mais idade têm maiores chances de apresentarem patologias. É o caso da diabetes melitus, hipertensão arterial crônica, um coração com uma função mais limítrofe. Logo, é importante realizar uma avaliação anteriormente", reforça.
Evidentemente, as mulheres com hábitos de vida saudáveis e que não são portadoras de doenças crônicas, conseguem ter maiores chances de passar por uma gestação. Isso mesmo em uma idade mais avançada. "Cada caso deve ser muito bem discutido e individualizado antes de se cogitar a transferência de um embrião em casos de idade materna mais avançada", enfatiza o especialista.