As imagens que revelam como o cérebro muda durante gravidez

Exames de imagem do cérebro de uma mulher realizados durante a gestação revelam mudanças nunca antes registradas.

17 set 2024 - 08h04
(atualizado às 23h28)
Grandes áreas de massa branca — que fornecem conexões entre diferentes partes do cérebro — apresentaram evidências de aumento durante a gravidez
Grandes áreas de massa branca — que fornecem conexões entre diferentes partes do cérebro — apresentaram evidências de aumento durante a gravidez
Foto: Daniela Cossio / BBC News Brasil

O chamado "cérebro de grávida" realmente existe, de acordo com um dos primeiros mapas detalhados das mudanças no cérebro humano antes, durante e depois dos nove meses de gestação.

Com base em 26 exames de imagem do cérebro de uma mulher saudável de 38 anos, cientistas descobriram "coisas notáveis", incluindo mudanças em regiões ligadas à socialização e ao processamento emocional — algumas das quais ainda eram óbvias dois anos após o parto.

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Agora, segundo eles, são necessários mais estudos em um número muito maior de mulheres para determinar o possível impacto dessas alterações cerebrais.

Estas descobertas podem melhorar a compreensão dos primeiros sinais de condições como depressão pós-parto e pré-eclâmpsia.

"É o primeiro mapa detalhado do cérebro humano durante a gestação", diz Emily Jacobs, autora do estudo, que é neurocientista da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos EUA.

"Nunca testemunhamos o cérebro em um processo de metamorfose como este."

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"Finalmente conseguimos observar mudanças no cérebro em tempo real."

O cérebro da neurocientista Elizabeth Chrastil foi analisado repetidamente durante sua gestação
Foto: Elizabeth Chrastil / BBC News Brasil

As profundas mudanças físicas que acontecem no corpo durante a gravidez são bem conhecidas, mas se sabe muito menos sobre como e por que o cérebro muda.

Muitas gestantes afirmam ter "cérebro de grávida", fenômeno conhecido em inglês como "baby brain", para descrever sintomas como esquecimento, falta de atenção ou névoa mental.

Estudos anteriores se concentraram em exames do cérebro antes e logo após a gestação, em vez de durante todo o processo.

O cérebro estudado na pesquisa, publicada na revista acadêmica Nature Neuroscience, é o da cientista Elizabeth Chrastil, do Centro de Neurobiologia do Aprendizado e Memória da Universidade da Califórnia em Irvine.

Ela estava planejando uma gravidez por fertilização in vitro quando a pesquisa estava sendo discutida — e agora tem um filho de quatro anos.

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É "bacana" estudar seu próprio cérebro em detalhes e compará-lo com o de mulheres que não estavam grávidas, diz Chrastil.

"Sem dúvida, é um pouco estranho ver seu próprio cérebro mudando assim — mas também sei que para começar esta linha de pesquisa era necessário uma neurocientista", acrescenta.

O estudo constatou uma mudança generalizada no volume de massa cinzenta a cada semana da gestação — as cores mais escuras mostram as regiões do cérebro mais afetadas
Foto: Laura Pritschet / BBC News Brasil

Em quase 80% das regiões do cérebro de Chrastil, o volume de massa cinzenta — tecido que controla o movimento, as emoções e a memória — diminuiu em cerca de 4%, apresentando apenas uma pequena recuperação após a gravidez.

Mas houve aumento na integridade da massa branca — uma medida da saúde e qualidade das conexões entre as regiões do cérebro — no primeiro e segundo trimestres da gestação, que voltaram aos níveis normais logo após o parto.

As mudanças são semelhantes às da puberdade, dizem os pesquisadores.

Estudos em roedores sugerem que as alterações podem tornar as futuras mães mais sensíveis a cheiros e propensas a cuidar e a aninhar.

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"Mas os seres humanos são muito mais complicados", afirma Chrastil.

Ela não vivenciou a sensação de "cérebro de grávida" durante a gestação, mas conta que ficou mais cansada e emotiva no terceiro trimestre.

O próximo passo é coletar imagens detalhadas do cérebro de 10 a 20 mulheres, e dados de uma amostra muito maior em momentos específicos, para capturar uma ampla variedade de experiências diferentes.

Desta forma, diz Chrastil, "podemos determinar se alguma destas mudanças pode ajudar a prever coisas como depressão pós-parto, ou entender como algo como pré-eclâmpsia pode afetar o cérebro".

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