Brasileiros em Wuhan gravam apelo a Bolsonaro por retirada da China

Governo brasileiro disse que estuda estratégias para buscar brasileiros no país, mas é preciso antes resolver entraves diplomáticos, jurídicos e orçamentários.

2 fev 2020 - 07h48
(atualizado às 09h55)

Um grupo de brasileiros na China fez um apelo ao governo de Jair Bolsonaro para a retirada de cidadãos do país afetado pelo surto do coronavírus.

Foto: BBC News Brasil

Na carta-aberta, gravada em um vídeo publicado no YouTube na manhã deste domingo, 2, eles lembram as operações de evacuação já feitas por diversos países e dizem estar dispostos a passar pelo período de quarentena fora do território brasileiro. A carta-aberta é datada de 30 de janeiro, e todos os que assinam a carta são residentes —alguns ainda estão em Wuhan, na província de Hubei, epicentro do surto, e outros já deixaram a região.

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"Nós somos homens, mulheres e crianças de vários estados e regiões do Brasil. Estudantes e trabalhadores, indivíduos e famílias de brasileiros na China", diz um dos brasileiros no vídeo. "No momento em que essa carta está sendo escrita, não há, entre nós, quaisquer casos de contaminação comprovada ou até mesmo sintomas de infecção por coronavírus", afirma outro. Todos os brasileiros terminam o vídeo dizendo: "Brasil, casa de todos nós".

Questionado neste domingo, 2, pela BBC News Brasil, o Palácio do Planalto informou que não comentará sobre o vídeo.

O presidente Jair Bolsonaro vem até agora descartando a possibilidade de repatriação dos brasileiros. Nesta sexta, 31, ele afirmou que o governo estuda estratégias para buscar esses brasileiros que vivem na China e querem retornar ao Brasil. Mas, segundo ele, é preciso antes resolver entraves diplomáticos, jurídicos e orçamentários. O presidente se reuniu na sexta, 31, com ministros no Palácio da Alvorada, em Brasília, para discutir estratégias e a situação de brasileiros nessas áreas de risco na China.

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O grupo de brasileiros, que se reveza no vídeo lendo trechos da carta-aberta, lembra também da colaboração logística que o governo chinês tem oferecido a essas operações, já conduzidas por países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, entre outros. O período de quarentena, uma vez fora do território chinês, tem sido de 14 dias, tempo considerado máximo para que sintomas possam se manifestar.

Uma das razões pelas quais o governo brasileiro não estaria organizando a retirada de brasileiros seria a falta de legislação específica para determinar a quarentena dos brasileiros em território nacional após o desembarque. "Nós não temos uma lei de quarentena. Ao trazer brasileiros para cá, nossa ideia obviamente era colocar em local para quarentena, mas qualquer ação judicial tira de lá e aí seria uma irresponsabilidade", disse Bolsonaro.

No vídeo, no entanto, os brasileiros mencionam que estariam dispostos a cumprir o período em um local seguro fora do Brasil.

O presidente brasileiro também mencionou os custos envolvidos em uma operação de repatriamento de brasileiros. A jornalistas, afirmou que um voo fretado pode custar até US$ 500 mil (R$ 2,1 milhões). "Pode ser pequeno para o tamanho do orçamento brasileiro, mas precisa de aprovação do Congresso", disse.

Evacuações

Com o agravamento da situação provocada pelo coronavírus, o governo chinês decretou uma espécie de quarentena na região de Wuhan, onde surgiram os primeiros casos de complicações pelo novo vírus no início de dezembro de 2019. Não é possível deixar a região sem autorização expressa do governo, que tem sido concedida a cidadãos estrangeiros parte de programas de evacuação de cidadãos.

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Isso seria um entrave diplomático, segundo o minis

tro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que é citado no vídeo dos brasileiros. "É preciso negociar com o governo chinês primeiro, para que deixe sair os brasileiros, mas não é uma coisa óbvia e imediata também", disse. Nos últimos dias, países como Alemanha, Austrália, Coreia do Sul, Estados Unidos, Espanha, Filipinas, França, Índia, Reino Unido e Japão já retiraram seus cidadãos da China ou iniciaram trâmites para fazê-lo.

Neste domingo, 2, por exemplo, 11 cidadãos britânicos voarão da China para a França e, da França, para o Reino Unido. Vão se juntar a outros 83 cidadãos do país que foram evacuados e estão em quarentena. Cerca de 100 cidadãos alemães também foram levados para a casa.

Os Estados Unidos evacuaram 195 cidadãos americanos, que foram colocados em quarentena em uma base militar na Califórnia —uma das quatro bases no país providenciadas para tanto, com 250 quartos cada.

O Paquistão é um dos países que não está evacuando seus cidadãos da China. Segundo autoridades do país, regulações de quarentena impedem que evacuem mais de 500 paquistaneses que estão na região. Já os vizinhos Bangladesh e Índia estão trabalhando para retirar os cidadãos do país. A Índia já evacuou 300 pessoas.

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Mortes

Até agora e desde a primeira identificação do vírus, em dezembro, mais de 300 pessoas morreram por causa da doença —a maioria das pessoas estavam na província onde fica Wuhan, Hubei. Mais de 14 mil pessoas foram infectadas. Esse novo vírus, contudo, se espalha mais rápido, mas mata menos do que os da SARS, que causou um surto na China em 2002 e 2003, e que o H1N1.

Neste domingo, 2, a primeira morte fora da China foi confirmada: um homem de 44 anos morreu nas Filipinas após ser infectado. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), ele não foi infectado dentro do país. Ele havia viajado de Wuhan às Filipinas via Hong Kong.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, existem 16 casos suspeitos. Nenhum foi confirmado.

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