Era maio de 2015 quando Sabrina Parlatore passou a mão no colo, sem querer, e sentiu "um carocinho". Dali até a consulta médica, exames e diagnóstico não demorou uma semana.
"A gente nunca imagina que vai acontecer com a gente. Levei um choque, fiquei triste, chorei muito", conta a apresentadora em entrevista ao Terra. "Mas a gente não tem nem muito tempo pra sofrer".
Essa percepção se deve à urgência do tratamento em casos de câncer. A apresentadora tinha um tumor "crescidinho", com 2,7 cm, na mama. Assim, resolvida a burocracia, Sabrina logo operou. Depois, passou por ciclos de quimioterapia e radioterapia.
Venceu o câncer, mas o episódio deixou marcas — suas chances de engravidar, por exemplo, foram anuladas e hoje, aos 48 anos, já na menopausa, não pode fazer reposição hormonal.
Confira abaixo trechos da entrevista concedida ao Terra, em que a ex-VJ da MTV conta como foi de paciente a ativista contra o câncer de mama.
O impacto da descoberta
"A gente nunca imagina que vai acontecer com a gente, não era uma preocupação minha. Eu estava sempre me cuidando. Minha mãe dizia que eu não ia ter porque a gente não tem casos na família, o que é um erro. Depois eu vim saber que os casos hereditários só correspondem a 10% dos casos de câncer de mama, então está todo mundo sujeito a ter."
A porcentagem citada por Sabrina é confirmada pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) ao frisar que a ideia de que a hereditariedade seria o principal fator de risco para a doença é um mito.
"Estudos comprovam que apenas 5% a 10% de casos têm de fato na sua base uma composição genética familiar, ou seja, em sua maioria a causa do câncer de mama é chamada de tumores esporádicos, que acontecem ao acaso", diz a entidade.
No caso da apresentadora, ela também não apresentava mutação no gene BRCA, comum em pessoas que desenvolvem esse tipo de tumor. Para a ciência, a causa do seu câncer é ainda desconhecida, mas a artista considera a influência de fatores emocionais.
O tratamento
"Em menos de um mês, fiz a cirurgia, o que foi excelente. (...) É um alívio depois que termina. Fiz minha parte, cumpri tudo direitinho, consegui pegar o tumor ainda em fase inicial".
A descoberta antes que o quadro se agravasse permitiu que o tumor fosse retirado sem a supressão de toda a mama. Sabrina nem sequer precisou de prótese.
Após o procedimento cirúrgico, ela passou por 16 ciclos de quimioterapia ao longo de seis meses, e mais 32 sessões de radioterapia durante um mês e meio.
Mas o processo poderia ter sido mais simples. Isso porque exames feitos um ano antes já apontavam a suspeita do tumor, indicando a necessidade de uma biópsia. No entanto, o médico que a acompanhava à época descartou qualquer gravidade.
As sequelas
"Eu tive câncer de mama justamente numa idade onde a mulher já está mais próxima da menopausa, então as chances dela ficar infértil começam a ser significativas por causa da quimioterapia", pontua.
"Na época, eu estava querendo ser mãe, então eu fiz, às pressas, uma retirada de óvulo pra congelamento. Só que eu só tive uma oportunidade, um ciclo. A retirada foi muito pequena e, pela idade, a qualidade dos óvulos foi muito baixa".
Assim, engravidar não era mais uma possibilidade. Com o tempo, Sabrina acabou desconsiderando outros meios para a maternidade e não fez disso um fardo. Mas entende que pode ser um peso para outras mulheres.
O que ainda a afeta é o impacto na menopausa. Por ter enfrentado um tumor na mama, Sabrina não pode fazer reposição hormonal, tratamento que ajuda a aliviar os sintomas dessa fase na vida da mulher.
O ativismo
"Foi sem querer", responde Sabrina à pergunta sobre como foi de sobrevivente do câncer à ativista do combate à doença.
"Durante o meu tratamento, eu comecei a sentir necessidade de ouvir outras histórias. Comecei a me corresponder com outras mulheres daqui do Brasil e de fora, já que eu poderia ser uma pessoa que as outras parariam pra ouvir".
Como a própria Sabrina pontua, os médicos incentivam essa postura por parte de figuras públicas para disseminar informações sobre o assunto. Afinal, quanto mais mulheres conscientes, maiores as chances de diagnóstico precoce. Por consequência, também são maiores as chances de cura da doença.
É a mensagem levada por outras famosas, como Ana Furtado, recentemente curada do câncer de mama que a atingiu mais de cinco anos atrás, e de Sabrina Parlatore. A ex-VJ da MTV aliou a pauta a seu trabalho. Ela atua como mestre de cerimônia de eventos e, principalmente durante o Outubro Rosa, se dedica a projetos ligados à saúde.
Em meio a isso, a apresentadora tem dois projetos em preparação: o lançamento de uma biografia, em que conta sua trajetória na luta contra a doença, e um podcast. Esse último é mais abrangente, prometendo explorar questões do universo feminino, sua carreira, a experiência na saudosa MTV e, claro, o câncer de mama. "É um pouco de tudo de Sabrina".