Depois de o secretário de Esporte do Uruguai, Sebastián Bauzá, revelar que Juan Izquierdo, do Nacional-URU, já havia sofrido uma arritmia cardíaca há dez anos, internautas começaram a especular se a carreira como atleta profissional pode ter oferecido riscos à saúde do zagueiro. O jogador teve uma nova arritmia na última quinta-feira, 22, desmaiou durante uma partida de futebol e tem um "quadro neurológico crítico", respirando por ventilação mecânica.
Segundo Fábio Botelho, cardiologista arritmologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, o fato de o uruguaio ter apresentado um quadro de arritmia quando jovem não necessariamente seria um impeditivo para sua carreira.
"São raras as arritmias que impedem a prática de esportes e de atividade física", diz. Mesmo parte das arritmias que poderiam ser consideradas um empecilho, atualmente, tem tratamento, segundo o médico.
Ainda assim, existem casos em que o risco do quadro pode levar os médicos a proibirem exercícios até que algum tratamento definitivo seja realizado.
De acordo com Bauzá, Izquierdo fez exames que identificaram uma arritmia quando ainda tinha 17 anos e atuava na base do Atlético Cerro. O secretário não comentou, porém, detalhes do problema cardíaco detectado à época.
"Não tem como saber qual a arritmia que ele teve no passado, mas muito possivelmente é uma arritmia diferente da apresentada nesse episódio (recente)", analisa o cardiologista.
Para Botelho, a recente arritmia de Izquierdo provavelmente afetou os ventrículos, porção inferior do coração. Embora seja menos frequente, esse tipo de arritmia representa maior risco porque pode levar a uma parada cardíaca.
Foi o que aconteceu com o jogador. O zagueiro foi retirado do estádio MorumBis ainda consciente, mas sofreu uma parada cardíaca ao chegar ao Hospital Israelita Albert Einstein e precisou ser reanimado.
"Pode ter sido uma arritmia que diminuiu o fluxo de sangue para o coração, provocando uma parada cardíaca e a diminuição de circulação para o cérebro", analisa o cardiologista Flávio Cure, coordenador do Centro de Estudos do Hospital Copa Star, da Rede D'Or.
Segundo Carlos Duarte, cardiologista eletrofisiologista e membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), o tipo de arritmia que afetou Izquierdo pode ser uma fatalidade, de forma que pode acontecer com pessoas que não têm histórico de problemas cardíacos. Ainda assim, ele ressalta que cada caso precisa ser acompanhado por um médico especializado.
"Toda vez que a gente tem algum problema cardíaco, a probabilidade de ter arritmias graves vai aumentando. (Mas) Essa estratificação de risco é feita periodicamente para liberação do atleta e o médico vai determinando o grau de intensidade do exercício que o atleta pode atingir", explica Duarte.
Arritmia cardíaca e exercícios físicos
Os especialistas lembram que o acompanhamento com cardiologista antes de praticar atividades físicas é necessário para qualquer pessoa. Nesse processo, o profissional fará exames para verificar se há riscos de arritmia ou outras doenças cardiovasculares que possam prejudicar a saúde durante os exercícios.
Se a pessoa já sofreu alguma arritmia, esse acompanhamento é ainda mais específico e busca garantir a segurança do paciente para que continue se movimentando. "O exercício físico tem um benefício muito maior que o malefício", ressalta Duarte, especialista da Sobrac.
Para Botelho, também é importante que as pessoas saudáveis pratiquem exercícios com regularidade. "Hoje já é sabido que pessoas que praticam atividade física de modo irregular, 'atletas de final de semana', tendem a ter maior chance de morte súbita. Então quem vai fazer atividade física, o ideal é que faça regularmente", orienta.