Sete sociedades médicas expressaram preocupação crescente sobre o uso indevido de implantes hormonais no Brasil em uma carta dirigida à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com essas entidades, a aplicação desses implantes, muitas vezes contendo esteroides anabolizantes e apelidados de "chip da beleza", está sendo promovida como parte de estratégias que exaltam um ideal de corpo perfeito e estilo de vida saudável. No entanto, as sociedades médicas alertam que essa prática carece de respaldo ético e científico.
A endocrinologista Eliana Teixeira lembra que o “chip da beleza” recebeu esse nome por causa de um hormônio chamado gestrinona, utilizado para tratamento de endometriose, que tem efeitos androgênicos.
“As mulheres que tinham uma boa alimentação e praticavam atividade física, tinham um pouco de resposta estética, quando utilizavam essa substância”, explica a especialista.
O upgrade do chip contendo ocitocina com a promessa de auxiliar no emagrecimento, no entanto, preocupa profissionais da área da saúde. Uma jovem chegou a ser internada em estado grave ao desenvolver um edema cerebral 24 horas após colocar o implante com a substância.
“A ocitocina tem um efeito antidiurético, então ela tira a diurese do nosso corpo e devido a isso, a gente começa a reter grandes volumes de líquidos, o que pode levar ao edema cerebral”, explica a especialista.
A ocitocina é uma substância que tem como função fazer contração muscular uterina durante o parto e ejeção do leite na amamentação. Além disso, é popularmente conhecida como “hormônio do amor”, pois é liberada pelo corpo humano em momentos de alegria e prazer. De acordo com a médica, os efeitos da ocitocina são de estimular a sociabilidade, o estreitamento de ligações sentimentais e favorecer a melhora da ansiedade.
“Não existe nenhum trabalho que comprove a eficácia da ocitocina no emagrecimento. Não existe nenhuma substância via implante que promove emagrecimento. Não existe, no momento, nenhum trabalho, nenhum estudo que mostre indicação nem da substância ocitocina e nem de uma outra substância via implante hormonal que promova o emagrecimento”, afirma a endocrinologista.
Ainda na nota enviada à Anvisa, as entidades enfatizaram que “a ‘chipagem hormonal’, apresentada por supostos especialistas e comercializada como 'medicina moderna', revela-se, na verdade, uma prática antiquada e obsoleta, uma vez que utiliza medicamentos descontinuados pela Medicina Baseada em Evidências”.
O documento foi assinado pela ABESO (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), a SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte), a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e a SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).