Dois artigos publicados recentemente na revista científica Clinical Infectious Diseases, ligada à Universidade de Oxford, mostram que a reinfecção pelo novo coronavírus ocorreu de forma precoce em um dos casos e sem sintomas em outra situação. As descrições somam-se a outros relatos semelhantes, incluindo alguns investigados no Brasil. Os cientistas destacam que todos os novos achados ainda levantam dúvidas sobre a duração da resposta imune à covid-19.
No primeiro relato, publicado no fim de semana por cientistas dos Estados Unidos, um homem de 42 anos, militar na área da saúde, testou positivo para o Sars-CoV-2 em 21 de março após exposição à covid-19 no trabalho. Ele sentiu febre, tosse e dores musculares, mas se recuperou e voltou a um estado de saúde considerado excelente após 51 dias. Em 24 de maio, porém, além da febre e tosse, ele apresentou falta de ar e sintomas gastrointestinais. Desta vez, a doença foi confirmada após exposição dentro de casa. Um exame de raio-X indicou infiltração pulmonar e um novo exame RT-PCR deu positivo para o vírus.
"Notadamente, os sintomas foram significativamente piores quando comparados com a síndrome inicial", escreveram os pesquisadores americanos em uma carta ao editor da revista científica. Análises do genoma do Sars-CoV-2 das duas ocasiões identificaram "diversas variações potenciais", o que sugere que os vírus eram distintos e, portanto, tratava-se de uma reinfecção.
"Os dados clínicos, epidemiológicos e de sequenciamento deste caso sugerem uma reinfecção precoce com Sars-CoV-2, apenas 51 dias após a resolução da infecção inicial. É importante ressaltar que isso foi observado em um jovem paciente imunocompetente", pontuaram os pesquisadores, que reforçaram o fato de a segunda infecção ter sido mais grave, diferente de outros casos já relatados. Segundo eles, a gravidade ocorreu "potencialmente devido ao aprimoramento imunológico, aquisição de uma cepa mais patogênica, ou
talvez um inoculo maior de infecção, visto que a segunda exposição foi de dentro da casa".
Já o segundo estudo, publicado nesta quarta-feira, 23, no mesmo periódico, relatou o caso de dois profissionais de saúde da Índia que apresentaram reinfecção assintomática, o que gerou uma preocupação maior por parte dos investigadores. "O relatório destaca a possibilidade de reinfecções por Sars-CoV-2 não detectadas e a necessidade de vigilância nos sistemas de saúde", disseram.
No país asiático, um homem de 25 anos e uma mulher de 28 testaram positivo para a covid-19 por meio do exame RT-PCR nos dias 5 e 17 de maio, respectivamente. Embora estivessem sem sintomas, foram hospitalizados e, posteriormente, testaram negativo em 13 e 27 de maio. Após seguirem normalmente com o trabalho em hospitais, o homem foi diagnosticado novamente com o novo coronavírus em 21 de agosto e a mulher, em 5 de setembro. Novamente, ambos não tiveram sintomas, mas apresentaram uma alta carga viral nesse segundo episódio.
O sequenciamento do genoma das cepas da primeira e da segunda infecção também apontaram diferenças, o que indica, de fato, uma reinfecção. "Em conjunto, nossa análise sugere que a reinfecção assintomática pode ser uma entidade potencialmente subnotificada", disseram os pesquisadores. Eles destacam ainda que "uma variante genética encontrada durante a reinfecção na mulher possivelmente confere resistência a anticorpos neutralizantes".