No início da semana passada, a atriz e bailarina Claudia Raia anunciou uma gravidez aos 55 anos de idade. Em 2020, ela revelou que havia congelado alguns de seus óvulos e que tinha vontade de ser mãe novamente. Caso de Claudia, a gravidez espontânea acima dos 50 anos é considerada por especialistas como um acontecimento muito raro; as chances são de um a cada mil mulheres. "Claro que é raro, mas existe", disse a atriz neste domingo, 25, em entrevista para o programa Fantástico, da Rede Globo.
Ela e o marido, o também ator e bailarino Jarbas Homem de Mello, tentaram uma vez o procedimento da fertilização in vitro, mas os embriões resultantes, formados a partir de óvulos congelados quando ela tinha 48 anos, não se formaram da forma adequada. Claudia, que já estava na menopausa, decidiu que tentaria apenas uma vez, mas, alguns meses mais tarde, veio a surpresa: ela ovulou e engravidou de forma espontânea.
Saiba mais
Embora não tenha sido bem-sucedida no caso da atriz, a fertilização in vitro representa a chance da maternidade para muitas mulheres que tiveram a fertilidade comprometida por algum fator. "Existem muitos casos de mulheres após os 50 anos que conseguem engravidar", disse Claudia durante a entrevista.
Para Fernando Prado, médico ginecologista e membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), trata-se de uma resposta para um dilema muito atual: "É uma oportunidade para que elas não fiquem preocupadas com aquela escolha entre carreira profissional e formar família. Ela pode ter as duas coisas, porque preserva a fertilidade para o momento mais adequado", resume.
Ele relata que, desde o início da pandemia de covid-19, a procura por esses procedimentos aumentou em 30% em seu consultório: "Era um período de muita incerteza do futuro e muita gente não queria engravidar sem saber quanto tempo tudo aquilo ia durar. O congelamento de óvulos acabou trazendo uma resposta para isso."
Segundo dados de relatório do Sistema Nacional de de Produção de Embriões (SisEmbrio), criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de embriões congelados subiu de 88.503 em 2020 para 114.372 no ano seguinte. O crescimento também foi registrado nos ciclos de fertilização in vitro realizados no Brasil, de 34.623 para 45.952, uma evolução de 32,7%.
Ainda de acordo com o relatório, a Região Sudeste é a que mais conta com embriões congelados, enquanto o Estado de São Paulo é o que tem o maior número de Centros de Reprodução Humana Assistida (CRHAs) do País.
Para os processos de congelamento de óvulos e fertilização in vitro, os custos podem variar de R$ 15 mil a R$ 25 mil reais, dependendo da clínica em que forem realizados.
O valor compreende três etapas: o tratamento inicial com hormônios, os custos do laboratório que incluem anestesia, coleta dos óvulos, congelamento e fertilização, e por fim o custo dos honorários médicos. Para manter as células congeladas, a anuidade cobrada varia de R$ 1 mil a R$ 1.500 e, por isso, estudos indicam que a melhor idade para iniciar o tratamento é por volta dos 34 anos, considerando o custo-benefício.
Na maioria dos casos, o congelamento de óvulos e a fertilização in vitro não são cobertos por planos de saúde ou pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas existem alguns hospitais públicos que recebem repasses e realizam os procedimentos. É o caso do Hospital Pérola Byington e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Passo a passo do congelamento de óvulos
O processo se aproveita de um fato biológico que se repete mensalmente; para cada óvulo que se desenvolve e é liberado na ovulação, muitos outros acabam atrofiados. O tratamento consiste então em fazer crescer também alguns desses outros, para que eles possam ser recolhidos e congelados.
Para isso, a paciente recebe injeções subcutâneas de hormônio folículo estimulante (FSH) diariamente por um período de cerca de dez dias, enquanto o tamanho dos folículos é acompanhado por exames de ultrassom transvaginal.
Quando o tamanho das bolsas indica que os óvulos estão maduros, o procedimento de coleta é marcado para 36 horas depois, e ocorre por meio de uma pequena cirurgia com sedação que dura cerca de meia hora. São aspirados dos ovários um total de dez a vinte gametas femininos.
A partir daí, eles ficam sob os cuidados da equipe de embriologia, que separa as células em grupos de até cinco e faz o congelamento com uma técnica chamada vitrificação, mais rápida que o congelamento tradicional e que não forma cristais, que podem danificar os óvulos.
"Esse processo ajuda que eles tenham taxas de sobrevivência mais alta no futuro, quando forem usados", explica Prado. Depois, eles são colocados em um tanque de nitrogênio líquido até que chegue o momento escolhido para a implantação.
Fertilização in vitro
Quando a paciente decide engravidar, é iniciado um processo de preparação do endométrio (a mucosa que reveste a parte interna do útero) com hormônios em comprimidos. Com o espessamento do endométrio, os óvulos são descongelados e fertilizados em laboratório.
Por cinco dias, os embriologistas acompanham o crescimento dos embriões e quando eles se encontram na fase chamada de blastocisto, uma esfera oca de células embrionárias preenchida com fluido, são selecionados e implantados no útero com um procedimento simples que lembra a realização do exame papanicolau.
Os hormônios continuam sendo usados por um período de três meses, para diminuir as chances de abortos espontâneos. Em dez dias, um exame de gravidez é realizado para verificar se a implantação foi bem-sucedida. Os embriões que não foram implantados podem ser recongelados para uma eventual tentativa futura.
O sêmen utilizado para a fertilização pode ser de um parceiro ou de um banco de sêmen. Além disso, também é possível realizar a fertilização in vitro com os óvulos de uma doadora. Essa é uma boa opção para mulheres acima dos 45 anos, já que, dessa idade em diante, as chances de engravidar com óvulo próprio são de cerca de 1%. Nesse caso, o acréscimo no valor da fertilização in vitro pode chegar a 30%.