Cólera de volta após 2 décadas: o que é a doença, como se pega e quais os sintomas?

Novo caso foi reportado em Salvador após quase 20 anos sem registros da doença no Brasil; OMS aprova nova vacina

22 abr 2024 - 15h46
(atualizado às 15h46)

Após 18 anos sem registros locais, o Ministério da Saúde confirmou nesta sexta-feira (19), um caso de transmissão autóctone de cólera em Salvador, o que significa que o paciente contraiu a doença na própria capital baiana, sem viajar a outro lugar.

Foto: iStock

A nota técnica assinada pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente informa que exames laboratoriais identificaram a bactéria causadora da doença (Vibrio cholerae) em um homem de 60 anos que não tinha viajado para países com ocorrência de cólera e nem tido contato com outro caso suspeito ou confirmado.

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No Brasil, os últimos casos autóctones ocorreram em Pernambuco entre os anos de 2004 e 2005, com 21 e 5 casos, respectivamente. A partir de 2006, não houve mais casos autóctones, apenas importados de países como Angola (2006), Republica Dominicana (2011), Moçambique (2016) e da Índia (2018).

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), de janeiro a março deste ano, 31 países registraram casos ou surtos de cólera. A região africana é a mais afetada, com 18 países.

A cólera é uma doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, causada pela ação da toxina liberada por dois sorogrupos específicos da bactéria Vibrio cholerae (sorogrupos O1 e O139). A toxina se liga às paredes intestinais, alterando o fluxo normal de sódio e cloreto do organismo. Essa alteração faz com que o corpo secrete grandes quantidades de água, o que provoca diarreia aquosa, desidratação e perda de fluidos e sais minerais importantes para o corpo.

Colônia de vibrio cólera vista por microscópio eletrônico
Foto: iStock

Sintomas

De acordo com o Ministério da Saúde, a infecção é assintomática ou causa diarreia leve, mas pode também se apresentar de forma grave, com diarreia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras. 

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Também pode ocorrer dor abdominal e, nas formas severas, cãibras, desidratação e choque. Febre não é uma manifestação comum.

Em qualquer caso, a pessoa pode transmitir a bactéria e infectar outras pessoas, que podem ter reações distintas. O período de incubação da bactéria, tempo que leva para provocar os primeiros sintomas no organismo, varia de algumas horas a 5 dias da infecção. Na maioria dos casos, esse período é de 2 a 3 dias. 

Nos casos graves, mais típicos, o início é súbito, com diarreia aquosa, abundante, de difícil controle e com inúmeros episódios diários. Nesses casos, a diarreia e os vômitos determinam uma extraordinária perda de líquidos, que pode ser da ordem de 1 a 2 litros por hora.

“Tal quadro leva rapidamente à desidratação intensa e deve ser tratado precoce e adequadamente, para evitar a ocorrência de complicações e até mesmo da morte”, alerta a pasta.

Como consequência, ainda podem ocorrer as seguintes complicações:

  • Choque hipovolêmico (diminuição da quantidade de sangue circulante no corpo);
  • Necrose renal;
  • Fraqueza intestinal;
  • Queda de potássio no sangue, levando a arritmias cardíacas;
  • Hipoglicemia, com convulsões e coma em crianças.
  • Em gestantes, o choque hipovolêmico pode induzir a ocorrência de aborto e parto prematuro.

Transmissão

A transmissão da cólera ocorre por via fecal-oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados, ou pela contaminação pessoa a pessoa. Os alimentos, de forma geral, podem ser contaminados durante a cadeia produtiva e durante sua manipulação.

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Além disso, como o agente causador da cólera faz parte do ambiente aquático, pode se associar a mariscos (crustáceos e moluscos), peixes e algas, entre outros, possibilitando a transmissão da cólera se esses alimentos forem consumidos crus ou mal cozidos.

O período de transmissibilidade perdura enquanto a pessoa estiver eliminando a bactéria nas fezes, o que ocorre, na maioria dos casos, até poucos dias após a cura. De acordo com o Ministério da Saúde, o período aceito como padrão é de 20 dias.

Diagnóstico

O diagnóstico da cólera é realizado a partir do cultivo de amostras de fezes ou vômito. Quando o Vibrio cholerae é isolado, a bactéria deve ser enviada ao laboratório de referência nacional para realização de análises mais específicas.  

“Além de permitir a confirmação de casos, a análise laboratorial é importante para avaliar e monitorar as características das bactérias circulantes e a ocorrência de resistência a antimicrobianos”, diz o Ministério.

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Tratamento

O tratamento eficiente da cólera se fundamenta na rápida reidratação dos pacientes, por meio da administração oral de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo da gravidade do caso.

Segundo o Ministério da Saúde, em aproximadamente 80% dos casos, os sintomas da cólera são leves ou moderados e devem ser tratados somente por meio da administração oral de líquidos e SRO (planos A e B), ou seja, soro.

Os pacientes que apresentarem desidratação grave devem ser tratados por meio da administração de fluidos endovenosos (plano C), podendo ser administrados, adicionalmente, antibióticos apropriados para diminuir a duração da diarreia, reduzir o volume de fluidos de reidratação necessário e encurtar a duração da excreção da bactéria.

“A cólera tem cura, desde que o tratamento seja iniciado o mais breve possível e seja feito da forma adequada”, alerta a pasta.

Vacina

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na sexta-feira (19) que aprovou uma nova versão simplificada de uma vacina oral contra a cólera, para aumentar a produção e enfrentar o aumento do número de casos em países que relatam  a escassez dos imunizantes.

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Chamada de Euvichol-S, a vacina é uma formulação simplificada da Euvichol-Plus, com menos componentes, o que deve permitir que volumes maiores sejam produzidos em menos tempo. 

Segundo o órgão, a eficácia observada na nova versão é semelhante à das anteriores. “A nova vacina é o terceiro produto da mesma família de vacinas que temos para cólera em nossa lista de pré-qualificação da OMS”, disse o diretor do departamento de Regulamentação e Pré-qualificação da agência de saúde da ONU, Rogerio Gaspar.

O Ministério da Saúde explica que, atualmente, a vacinação é indicada apenas para populações de áreas com cólera endêmica, populações em situação de crise humanitária com alto risco para cólera ou durante surtos de cólera, sempre em conjunto com outras estratégias de prevenção e controle.

Os impactos mais graves estão sendo sentidos em Comores, República Democrática do Congo, Etiópia, Moçambique, Somália, Zâmbia e Zimbábue.

Prevenção

A ocorrência da cólera está diretamente relacionada às condições inadequadas de saneamento e sua prevenção se baseia na adoção de medidas de higiene pessoal e no consumo seguro de água e alimentos. Para prevenir, a Saúde recomenda:

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  • Lave sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar conduções públicas ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas;
  • Lave e desinfete as superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
  • Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em recipientes fechados);
  • Trate a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar);
  • Guarde a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo a “boca” estreita para evitar a recontaminação;
  • Não utilize água de riachos, rios, cacimbas ou poços contaminados para banhar ou beber;
  • Evite o consumo de alimentos crus ou mal cozidos (principalmente os frutos do mar) e alimentos cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias.
  • Ensaque e mantenha a tampa do lixo sempre fechada; quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado;
  • Use sempre o vaso sanitário, mas se não for possível, enterre as fezes sempre longe dos cursos de água.

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Fonte: Redação Terra Você
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