Além dos mais de 8,3 mil cubanos que deixarão o País até o fim do ano, o Brasil corre o risco de perder outros 3,3 mil profissionais do Mais Médicos caso o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) cumpra a promessa de exigir revalidação do diploma de todos os médicos do programa. Esse é o número de participantes chamados de intercambistas, ou seja, brasileiros formados no exterior ou estrangeiros de outras nacionalidades que também foram dispensados da revalidação do diploma para atuar no País.
Em entrevista coletiva dada na quarta-feira, quando Cuba anunciou a saída do Mais Médicos, o presidente eleito afirmou que o Revalida será cobrado de todos. "(De) qualquer profissional de saúde trabalhando no Brasil, nós exigiremos uma prova de que eles realmente são competentes, conhecida como Revalida", disse ele. A atitude foi elogiada pelo Conselho de Segurança dos EUA
Bolsonaro não deixou claro, no entanto, se esses profissionais já seriam suspensos do programa assim que o novo governo tomar posse ou se poderiam continuar trabalhando até passar pela prova, que costuma ocorrer uma vez por ano.
A edição de 2018 já teve inscrições encerradas, portanto, os profissionais interessados em fazer o exame só poderiam prestá-lo no fim de 2019.
A reportagem tentou contato com as assessorias do governo de transição e do presidente eleito para questionar como seria o processo de revalidação do diploma desse grupo, mas não obteve retorno até as 22 horas desta sexta. Questionado sobre o assunto, o Ministério da Saúde disse que não poderia responder por decisões que serão tomadas na próxima gestão.
Se esse grupo também deixar o programa, sobrarão apenas os 4,6 mil médicos brasileiros formados no Brasil, já que além dos 8,3 mil cubanos e 3,3 mil intercambistas (ambos os grupos sem Revalida), outras 2 mil vagas do Mais Médicos estão ociosas por falta de interessados.
Reposição
Nesta sexta-feira, 16, representantes do Ministério da Saúde se reuniram com membros da Organização Panamericana de Saúde (Opas), intermediária do acordo de cooperação entre Cuba e Brasil, para definir os detalhes da saída dos cubanos e da reposição desses profissionais.
De acordo com a pasta federal, o edital de chamamento para os cerca de 8,3 mil postos que ficarão vagos será lançado já na semana que vem. Uma nova reunião entre os dois órgãos será realizada na próxima segunda-feira para definir os detalhes do edital. Assim como nos chamamentos anteriores, será dada preferência a médicos brasileiros e, caso as vagas não sejam preenchidas por estes, o processo seletivo será aberto também a profissionais estrangeiros.
O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, disse nesta sexta que também se reunirá na semana que vem com a equipe do governo de transição para discutir ações relacionadas à saída dos cubanos e também para propor medidas para a a área da saúde. Uma das propostas levantadas pela atual gestão é chamar os estudantes formados por meio de Financiamento Estudantil (Fies) para ocupar as vagas deixadas pelos médicos cubanos. Segundo o ministro, existem de 15 mil a 20 mil médicos aptos a participar do edital e, por isso, ele acredita que as vagas serão preenchidas.