Ao participar de uma festa, com muita diversão e bebida à vontade, pouca gente se preocupa com os excessos. Mas até que ponto ‘beber até cair’ coloca a vida em risco?
O tema ganhou a mídia a partir da morte do estudante de engenharia Humberto Moura Fonseca, 23, após consumir bebidas alcoólicas durante uma festa universitária no último sábado (28), em Bauru, no interior de São Paulo.
A polêmica maior diz respeito a uma competição entre estudantes, que tinha o objetivo de verificar quem tinha a capacidade de ingerir álcool em maior quantidade.
Rogério Alves, hepatologista do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, faz um cálculo por alto da quantidade ingerida por Humberto – que teria bebido 30 doses de vodca na festa. “Ele deve ter consumido aproximadamente 600 gramas de álcool. Para se ter uma noção, para uma pessoa desenvolver cirrose no fígado tem que tomar 60 gramas de álcool por dia em pelo menos dez anos”, compara.
José Luis Carlos Aquino de Campos Velho, clínico geral do Hospital Santa Catarina, ressalta que as bebidas destiladas têm ação mais rápida, devido à maior concentração de álcool. “No caso dele, o problema maior foi a quantidade em um curto espaço de tempo, e isso acabou induzindo ao coma. E, provavelmente, as pessoas ao redor também estavam embriagadas e não perceberam essa situação”, observa.
Os especialistas concordam que a morte por coma alcóolico não é algo comum, e enfatizam que os quadros mais graves geralmente ocorrem entre as pessoas que não estão acostumadas a beber, justamente por terem uma tolerância menor ao álcool.
No entanto, eles alertam sobre todos os problemas e sequelas mais graves que um consumo exagerado, como o deste caso, pode trazer.
Entrando em coma
Quem está bebendo perde o senso de julgamento para frear a bebedeira antes de chegar a um quadro de coma. O corpo, no entanto, é que sofre as consequências do ato.
José explica que o excesso de álcool afeta o sistema nervoso central, o que pode evoluir para uma depressão respiratória. Sem respirar, a pessoa sofre a parada cardíaca.
Outro agravante, segundo Rogério, é que o álcool sobrecarrega o fígado e faz com que o órgão perca a capacidade de metabolizar algumas substâncias, em especial a glicose. “O cérebro é muito dependente de glicose, que é o combustível do nosso organismo. Sem suporte de energia, o corpo entra em coma”, explica.
A falta de socorro imediato, como no caso de Humberto, pode levar à morte. Outras consequências graves, explica José, são as sequelas neurológicas que podem acontecer em decorrência da pouca oxigenação no cérebro. “Podem ocorrer lesões cognitivas, de raciocínio ou até resultar em um estado vegetativo. Isso pode lesar permanentemente as células nervosas.”
Sintomas
Andrea Sette, clínica geral do Hospital São Luiz Itaim, alerta para os sintomas mais comuns da embriaguez intensa, que pode vir a se tornar um quadro de coma.
A mudança de comportamento é o primeiro deles. “Ao beber, geralmente as pessoas podem ficar lentas, sonolentas, agitadas e agressivas. Quando o nível de intoxicação chega a um quadro de coma alcoólico a pessoa não responde a estímulos: você chama a pessoa, ela não responde”, explica.
Rogério acrescenta que, de um modo geral, a pessoa sai de um estado de euforia para a letargia, começa a ter confusão mental e perder as capacidades motoras.
Primeiros socorros
Os especialistas são unânimes ao dizer que, identificando o coma alcóolico (quando a pessoa não responde aos estímulos, podendo estar desmaiada), é preciso pedir por auxílio médico com urgência.
Em seguida, deve-se checar se ela tem pulso no pescoço. “Caso a vítima não tenha pulso, faça massagem cardíaca até chegar a ajuda médica”, informa.
Quando a pessoa ainda está acordada, vale mantê-la hidratada. Porém, se estiver desmaiada, não é prudente oferecer nada via oral – nem água, nem comida - porque é mais perigoso. "Ela pode aspirar e isso vai acabar piorando o quadro", explica Rogério.
João reforça ainda que, para reestabelecer a respiração da pessoa, é preciso usar técnicas específicas, daí a importância da chegada urgente da equipe médica.
Evitando o coma
Beber com consciência é o primeiro passo para quem quer preservar a saúde e não colocar a vida em risco. “O importante é lembrar que a tolerância ao álcool varia de pessoa para pessoa. O nível de tolerância da mulher costuma ser inferior ao do homem”, reforça Andrea.
Para quem quer prevenir o quadro de embriaguez, vale lembrar daquelas dicas básicas. “Beba menos, alterne com água, se alimente bem. Evite beber em combinação com outras drogas, pois elas potencializam o efeito do álcool”, recomenda Rogério.
E mesmo com todas essas precauções, informa José, nada disso é impeditivo para que o consumo exagerado evolua para um coma.
Ele ressalta que o alcoolismo é uma doença grave. “Para se tornar um alcoólatra basta começar a beber com frequência”, pontua. “E quanto mais tempo você se expõe ao agente, maior o risco de desenvolver doenças relacionadas a isso, então é uma questão de prevenção”, acrescenta.
Entre as doenças associadas ao álcool, enumera o especialista, estão cirrose, gastrite, esofagite, além de problemas de memória e outros transtornos psiquiátricos. “Fora a violência gerada pelo álcool e os acidentes de trânsito, que são as consequências mais comuns”, ressalta.
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