Apesar de não existir alimento proibido – e de todos poderem ser inseridos dentro de um contexto – um hábito alimentar recheado (na maior parte do tempo) por alimentos hiperpalatáveis, cheios de carboidratos simples, gordura saturada, frituras, aditivos químicos e ingredientes sintéticos, podem trazer alguns problemas para a saúde – e também para a fertilidade.
“Muitos trabalhos já mostraram que é possível ‘alimentar’ o óvulo para aumentar as chances de gravidez. Há alguns anos, um estudo da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia mostrou que mulheres que comem menos frutas e mais fast food demoram mais para engravidar e são menos propensas a conceber dentro de um ano”, explica Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.
“Apesar de ser impossível sacramentar que mulheres que comem mais fast food não vão engravidar, o estudo mostra que elas demorarão mais tempo tentando”, acrescenta o médico.
O trabalho foi publicado em 2018 na Human Reproduction, uma das principais revistas de medicina reprodutiva do mundo. O estudo foi feito por meio de pesquisas na Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Irlanda com 5.598 mulheres, que responderam sobre sua dieta.
“As mulheres eram todas tentantes de primeira viagem, ou seja, não tinham tido bebê antes. Em comparação com as mulheres que comiam frutas três ou mais vezes ao dia no mês anterior à concepção, as mulheres que comiam frutas menos de uma a três vezes por mês demoravam meio mês a mais para engravidar. Da mesma forma, em comparação com as mulheres que nunca ou raramente comiam fast food, as mulheres que consumiam fast food quatro ou mais vezes por semana demoravam quase um mês a mais para engravidar”, diz o médico.
Resultados entre inférteis
Entre todos os casais do estudo, 468 (8%) casais foram classificados como inférteis (definidos como tendo mais de um ano para conceber) e 2.204 (39%) conceberam em um mês. Quando os pesquisadores analisaram o impacto da dieta na infertilidade, descobriram que em mulheres com menor consumo de frutas, o risco de infertilidade aumentou de 8% para 12%, e naquelas que comiam fast food quatro ou mais vezes por semana, o risco de infertilidade aumentou de 8% para 16%.
“Ou seja, o risco de não conceber um filho em um ano dobra, quando a tentante come fast food com mais frequência. Essas descobertas mostram que seguir uma dieta de boa qualidade, que inclui frutas, e minimizar o consumo de fast food melhora a fertilidade e reduz o tempo necessário para engravidar”, conta.
Segundo o médico, melhorar a dieta já é uma recomendação para as pacientes que procuram ajuda médica para engravidar.
“Existem muitas orientações dietéticas. Sabemos por exemplo que a célula-ovo requer diferentes nutrientes para diferentes partes. A camada externa (a membrana celular) requer ácidos graxos essenciais, ômega 3 do tipo DHA, presentes na sardinha, no atum, no salmão e nas sementes (de chia e linhaça) e oleaginosas (nozes). A mitocôndria precisa de energia para quando o óvulo se divide após a fertilização; a coenzima Q10 ajuda a causar mudanças químicas no corpo, particularmente a produção de energia, e é necessária para o sistema reprodutivo. Vitaminas B e zinco também são necessários para a divisão celular após a fertilização”, explica o médico.
Minerais, vitaminas e antioxidantes presentes nas frutas também são fundamentais para nutrir o óvulo e protegê-lo contra radicais livres.
O papel da dieta
Muitas pesquisas tendiam a se concentrar no papel que a dieta desempenha em mulheres diagnosticadas ou recebendo tratamento para infertilidade; esse foi o primeiro estudo a observar o impacto da dieta materna antes da concepção na população geral.
Na pesquisa, os fast foods incluíam hambúrgueres, pizzas, frango frito e batatas fritas que eram comprados em estabelecimentos take-away (para retirar) ou fast food. Os fast foods consumidos em casa (comprados em supermercados, por exemplo) não foram incluídos nos dados coletados e, portanto, é provável que o consumo desse tipo de alimento seja subnotificado.
“Os casais foram excluídos da análise se estivessem recebendo tratamento de fertilidade devido à infertilidade do parceiro masculino. A maioria das mulheres não tinha histórico de infertilidade. Os autores ajustaram as relações com a dieta pré-gravidez para levar em conta vários fatores conhecidos por aumentar o risco de infertilidade, incluindo índice de massa corporal elevado [IMC] e idade materna, tabagismo e ingestão de álcool. Como a dieta é um fator modificável, as descobertas ressaltam a importância de considerar a dieta pré-concepcional para apoiar a concepção oportuna para mulheres que planejam engravidar”, finaliza.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.