Como treinar seu cérebro para lembrar de números, datas e outras informações

Tendemos a achar que a memória de alguém ou é boa ou é ruim, mas a memória é muito mais complexa que isso. Saiba quais são as principais estratégias para conseguir acessar mais facilmente as informações gravadas na sua memória.

13 set 2024 - 06h41
(atualizado às 10h48)
Embora a genética seja responsável por sermos melhores ou piores em lembrar dados, é possível desenvolver a capacidade de lembrar usando estratégias há muito utilizadas
Embora a genética seja responsável por sermos melhores ou piores em lembrar dados, é possível desenvolver a capacidade de lembrar usando estratégias há muito utilizadas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Tendemos a achar que a memória de alguém ou é boa ou é ruim. No entanto, você pode conhecer uma pessoa com uma memória terrível para nomes e rostos, mas excelente para aprender idiomas. Outra pode ter uma capacidade extraordinária de lembrar eventos passados em detalhes, mas dificuldade para gravar números de telefone.

Essas aparentes contradições são o resultado da complexidade da nossa memória. Na verdade, nossa memória é composta de vários sistemas, que são apoiados por uma série de estruturas e mecanismos neurobiológicos que variam dependendo do que estamos aprendendo e como.

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Aprender um novo idioma, por exemplo, não usa os mesmos mecanismos ou processos cerebrais que as informações científicas. Isso dificulta a generalização sobre o que torna uma estratégia de memória mais ou menos eficaz em um ambiente educacional.

Neste artigo, focaremos apenas na memória declarativa: informações explícitas que podemos acessar conscientemente, como fatos, datas, nomes, eventos passados, conceitos e assim por diante.

Estratégias de memória e mnemônica

Estudos sobre especialistas em memória competitiva (pessoas que conseguem lembrar de grandes quantidades de informação) mostraram que, embora a genética seja responsável por sermos melhores ou piores em lembrar dados, é possível desenvolver uma capacidade excepcional de lembrar usando estratégias há muito utilizadas.

As técnicas mais comuns, conhecidas como mnemônica, são baseadas na criação de imagens mentais ou estratégias verbais que geralmente exigem muito treinamento.

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Métodos de visualização — como o método dos loci — consistem em associar os itens a serem lembrados a lugares específicos. Por exemplo, você pode memorizar uma lista de compras seguindo mentalmente sua rota para o trabalho e deixando os itens da lista em diferentes lugares ao longo do caminho. Quando quiser lembrar deles, você só terá que refazer mentalmente a rota.

Esse método é comumente usado por especialistas em memória, e dados de neuroimagem mostram que, durante tarefas de memorização, especialistas em memória têm maior ativação nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento de ambientes espaciais.

A eficácia das estratégias mnemônicas está enraizada em três princípios fundamentais:

  1. Relacionar as informações que você quer aprender com coisas que você já sabe.
  2. Lembrar da rota para acessar a informação junto com a informação em si para recuperá-la rapidamente.
  3. A prática leva à perfeição: treinar e praticar os dois primeiros processos é essencial para uma memória afiada e ágil.

Pesquisas sobre especialistas em memória sugerem que se alguém pode ser treinado em estratégias de memória para lembrar 67.890 dígitos do número pi, isso também pode ser usado para impulsionar o aprendizado nas escolas. No entanto, embora as técnicas mnemônicas espaciais ou verbais tenham se mostrado altamente eficazes, a aplicação na vida cotidiana é limitada.

Na escola, isso significa que elas podem ser usadas para aprender listas — como planetas ou elementos químicos — mas não para assuntos ou informações mais complicadas.

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Você pode memorizar uma lista de compras associando itens a lugares específicos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Codificação de memórias e redes de conhecimento

Por causa dessas limitações em contextos escolares, vale a pena procurar outras formas de melhorar a memória. Podemos fazer isso focando nos elementos envolvidos nos próprios processos de memória e aplicando os mesmos princípios das estratégias mnemônicas.

A criação de uma memória começa quando a informação é percebida, catalogada e codificada pela primeira vez no cérebro. Sabemos que o fator mais importante no aprendizado de novas informações não é a intenção ou o desejo de aprender, mas sim o que fazemos com as informações.

Processar profundamente as informações relacionando-as ao conhecimento existente é a chave para facilitar a memorização — é muito mais eficaz relacionar informações a coisas que já sabemos do que apenas repetir mentalmente algo até que fique gravado.

Portanto, é essencial criar redes ricas de conhecimento nas quais você possa integrar e organizar novos conhecimentos. Lembrar quando o primeiro presidente americano foi eleito será muito mais fácil se relacionarmos com o que já sabemos sobre, por exemplo, a Revolução Francesa. Os pesquisadores chamam isso de codificação semântica.

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O processo de recuperação de uma memória é tão importante quanto o processo de codificação. Muitas vezes sabemos algo, mas não conseguimos acessá-lo, como quando o nome de uma pessoa está na ponta da língua, mas você não consegue lembrar.

Para que o treinamento da memória seja eficaz, devemos, portanto, armazenar as chaves com as quais iremos acessá-lo junto à própria informação. A prática repetida é essencial para que a memorização ocorra de forma mais eficiente e rápida.

Conhecendo sua própria memória

Nas escolas, o método mais eficaz não consiste em simplesmente ensinar técnicas de memorização, mas sim ajudar os alunos a aprender como suas próprias memórias funcionam. Como regra geral, quanto mais conhecimento eles já têm e quanto mais tempo praticam estratégias eficazes de memorização, mais fácil será para eles adquirirem novos conhecimentos.

Também é essencial ensinar aos alunos quais estratégias de estudo são as mais eficazes para diferentes tipos de conteúdo e avaliação, e focar em aplicá-las com flexibilidade.

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* Claudia Poch é coordenadora de Doutorado em Educação e Processos Cognitivos na Universidade de Nebrija e Jorge González Alonso é pesquisador sênior do Centro de Pesquisa Nebrija em Cognição da Faculdade de Línguas e Educação da Universidad Nebrija.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

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