Para a comediante Kristi Durkin, o dia 1º de janeiro marcou o início de um "jejum": ela entrou na onda de um desafio de 31 dias sem álcool que viralizou nas redes sociais, o #dry january (janeiro sem álcool, em inglês).
"Todo mundo na internet está sóbrio", brinca Durkin, de Chicago, no EUA. "Sou muito suscetível às tendências da internet."
O desafio popularizado pela ong britânica Alcohol Change UK. Todo mês de janeiro, os participantes se comprometem a passar um mês sem álcool, aparentemente para se recuperar após os excessos de fim de ano e explorar os méritos de um estilo de vida sóbrio.
A hashtag #DryJanuary tem mais de 425 milhões de visualizações no TikTok e 529 mil postagens no Instagram. A empresa de inteligência de negócios Morning Consult estimou que cerca de 15% dos adultos norte-americanos participaram do janeiro sem álcool no ano passado.
No Brasil, fazer promessa de ficar um período sem beber é um costume em qualquer mês do ano — mas tende a mais ser frequente na quaresma (período entre o Carnaval e a Páscoa) para os católicos.
O desafio de não beber não significa necessariamente abandonar coqueteis e drinques: bares e casas noturnas têm investido em opções de bebidas que imitam coqueteis mas não levam álcool. E, entre as bebidas que já vêm prontas, há cada vez mais opções de bebidas não alcoólicas além dos sucos e refrigerantes.
Nos EUA, a demanda por coqueteis enlatados sem álcool cresceu 4% ano após ano, de acordo com um estudo da empresa de pesquisa comportamental Veylinx, com sede em Amsterdã.
Até as grandes marcas querem participar do boom. No ano passado, a empresa norte-americana de bebidas Molson-Coors lançou o seu primeiro cocktail não alcoólico, uma mistura enlatada chamada Roxie (que não é vendida no Brasil)
No Brasil, pequenas empresas têm lançado uma série de bebidas diferentes para quem quer pedir algo mais sofisticado no bar do que, digamos, uma coca diet.
Vendida pela internet e encontrada em bares mais descolados de São Paulo, o Kiro se descreve como uma bebida "sem álcool, para maiores" e "com ingredientes de verdade, para paladares exigentes".
Com sabor forte de gengibre, o Kiro se divulga como "um tipo de switchel — uma bebida à base de água, vinagre de maçã, suco de maçã, gengibre e algum ingrediente para adoçar — adoçado com suco de cana" e que também pode vir com sabores como maracujá, cupuaçu, e pimenta jiquitaia.
Já o Baer Mate é uma bebida gaseificada sem álcool à base de chá mate e suco de maçã. É vendida em lata ou em uma garrafa de vidro que pode ser facilmente confundida com uma cerveja long neck.
Mesmo assim, apesar de todas as opções, muitos participantes do desafio de ficar um mês em álcool não estão trocando a cervejinha por por coqueteis não alcoólicos, diz Michael Bevan, chefe de marketing da Veylinx. Quem vai ficar sóbrio por só um mês pode estar menos interessado em bebidas alternativas e mais afim de passar um mês sem álcool.
Durkin, por exemplo, diz que prefere economizar dinheiro e beber uma água com gás. "É mais uma questão de colocar algo na minha mão para saborear."
De fato os coqueteis sem álcool e as novas bebidas não ajudam se o objetivo é economizar.
Nos bares de São Paulo, por exemplo, o preço de um coquetel sem álcool costuma ser o mesmo ou quase o mesmo de um drinque alcoólico. No mercado, o Baer Mate custa entre R$ 7,99 e R$ 10, mais caro do que uma cerveja. Já o Kiro fica cerca de R$ 10 pela latinha, se comprado no site.
Nos EUA, outra categoria emergente em alternativas não alcoólicas são as bebidas destiladas sem álcool. A Monday, com sede na Califórnia, produz uísque, mezcal, gim e rum sem álcool — uma garrafa de gim não alcoolico sai por US$ 40 (194).
No Brasil, os fermentados sem álcool — cervejas, espumantes e vinhos — já são vendidos há bastante tempo, mas os destilados são mais difíceis de encontrar. Uma das poucas opções é o Gin Zero Álcool Nulla, cuja garrafa sai cerca de R$ 80.
Alguns especialistas do setor, no entanto, dizem que o objetivo dos mocktails sofisticados não é oferecer uma substituição para os coqueteis alcoólicos ou ser uma opção econômica.
Hector Diaz, cofundador da loja e bar In Good Spirits, em Chicago, afirma que essas bebidas têm mais a ver com inclusão.
"Trata-se menos de substituir totalmente o álcool e mais de suprir uma necessidade", diz Diaz. "Muitos consumidores que não bebem em geral não tinham opções no passado, e tê-las agora é realmente ótimo".
Ele afirma que o objetivo é incentivar as pessoas a terem mais consciência sobre suas escolhas.
"Muitas pessoas [que visitam nossa loja] não vão necessariamente parar de beber álcool, mas querem ser mais intencionais em suas escolhas - mesmo que isso signifique fazer uma pausa rápida no consumo de álcool durante uma noite de bebedeira", diz Díaz. "É tudo uma questão de equilíbrio."
*com reportagem de Letícia Mori da BBC News em São Paulo