Coronavírus: vacina de Oxford tem resultado preliminar positivo; conheça 4 outras iniciativas promissoras

Nesta segunda-feira (20), foram divulgados resultados detalhados sobre as fases 1 e 2 dos estudos da ChAdOx1. Segundo estudo publicado na plataforma The Lancet, a candidata a vacina indica ser segura e capaz de treinar o sistema imunológico para se defender.

20 jul 2020 - 12h33
(atualizado às 12h52)
Pesquisadores no mundo todo correm contra o tempo em busca de uma vacina contra covid-19
Pesquisadores no mundo todo correm contra o tempo em busca de uma vacina contra covid-19
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A descoberta de uma vacina contra a covid-19 é considerada a melhor chance para o mundo conseguir voltar à "vida normal" pré-pandemia.

Há atualmente quase 140 iniciativas ao redor do mundo de desenvolvimento de vacina contra a covid-19, que serão submetidas a estudos pré-clínicos (sem testes em humanos), três fases de testes clínicos para avaliar segurança e eficácia, além da etapa de aprovação.

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Quase 30 dessas candidatas a vacina iniciaram testes clínicos e menos de 10 estão em etapa avançada de análise de eficácia (fase 3 dos testes). Ou seja, a um passo da aprovação caso se mostrem seguras e eficazes.

Uma delas é a ChAdOx1 nCoV-19 (ou AZD1222), conhecida popularmente como "vacina de Oxford", que é elaborada pela universidade britânica de Oxford com colaboração da multinacional farmacêutica AstraZeneca.

Nesta segunda-feira (20), foram divulgados resultados detalhados sobre as fases 1 e 2 dos estudos da ChAdOx1. Segundo estudo publicado na plataforma The Lancet, a candidata a vacina indica ser segura e capaz de treinar o sistema imunológico para se defender.

Os testes envolveram 1.077 voluntários, e a injeção da ChAdOx1 levou à produção de anticorpos e glóbulos brancos capazes de combater o coronavírus.

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Os níveis de células T, um tipo de glóbulo branco capaz de atacar células infectadas, atingem um pico 14 dias depois da vacina, e o de anticorpos, 28 dias. O estudo ainda não conseguiu apontar se haveria uma imunidade a longo prazo.

Por outro lado, foram identificados alguns efeitos colaterais. Cerca de 70% das pessoas envolvidas nos testes tiveram febre ou dor de cabeça.

"Há muito trabalho ainda a ser feito antes de podermos confirmar que nossa vacina vai ajudar a lidar com a pandemia de covid-19, mas os resultados preliminares são promissores", afirmou a professora Sarah Gilbert, da Universidade de Oxford.

Acordo para o Brasil

A equipe de pesquisadores de Oxford está usando uma versão atenuada de um adenovírus, vírus comum de resfriado responsável por causar infecção em chimpanzés.

O vírus foi alterado geneticamente para que não cresça em humanos e recebeu uma das principais proteínas do coronavírus Sars-CoV-2, que causa a covid-19.

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Mais de mil pessoas no Brasil receberam doses dessa candidata a vacina ChAdOx1 como parte da fase 3 e serão acompanhadas por um ano.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) negociou um acordo com a AstraZeneca para a compra de lotes e transferência de tecnologia, o que permitiria a produção da vacina no Brasil no início de 2021.

O acordo, estimado em quase R$ 700 milhões, prevê a entrega de 15 milhões de doses até dezembro de 2020 e outros 15 milhões até janeiro de 2021. Esse montante seria suficiente para imunizar 15% da população brasileira. Em seguida, seriam produzidas mais de 70 milhões de doses, com custo unitário em torno de R$ 12.

O desenvolvimento de uma vacina segue várias etapas, primeiro no laboratório e depois com testes em animais e humanos
Foto: Getty / BBC News Brasil

Diversos países firmaram acordos milionários para garantir o suprimento de milhões de doses das vacinas mais promissoras, caso alguma delas se mostre eficaz e segura.

Há também iniciativas internacionais público-privadas, como a Aliança para a Vacina (Gavi), que pretendem garantir o acesso a vacinas para os países em desenvolvimento.

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O Reino Unido, por exemplo, anunciou ter assegurado 100 milhões de doses da "vacina de Oxford", 30 milhões da BioNtech/Pfizer, que usa partes do código genético do novo coronavírus, e 60 milhões da Valneva, que usa uma versão inativada do coronavírus.

Kate Bingham, que lidera a força-tarefa do governo britânico para vacinas, afirmou que o fato de haver tantas candidatas promissoras mostra o ritmo sem precedentes no desenvolvimento de uma vacina, processo que costuma levar quase uma década. Mas ela recomendou evitar otimismo exacerbado ou condescendência.

"O fato é que nós podemos nunca obter uma vacina e que se nós conseguirmos uma, temos que estar preparados para ela ser uma vacina que não evita contrair o vírus, mas sim ameniza os sintomas."

Conheça outras quatro candidatas a vacina promissoras

1. Sinovac Biotech (China): fase 3 dos testes

A Sinovac Biotech está desenvolvendo a vacina PiCoVacc (ou CoronaVac), que utiliza o vírus Sars-CoV-2 inativado quimicamente.

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A empresa privada com sede em Pequim, que possui experiência na produção de vacinas contra febre aftosa, hepatite e gripe aviária, criou anticorpos específicos que agem para neutralizar o coronavírus, que segundo a companhia foram bem-sucedidos em neutralizar dez cepas do Sars-CoV-2.

Um estudo foi publicado com revisão por pares na revista científica Science no dia 6 de maio. O estudo com macacos mostrou que os animais que receberam doses maiores da vacina tiveram melhor resposta contra vírus.

A primeira e a segunda fases dos testes clínicos contaram com centenas de voluntários na China. Na terceira etapa, quase 10 mil voluntários no Brasil devem participar do experimento a partir deste mês.

Em junho, a Sinovac chegou um acordo com o Instituto Butantan, centro de pesquisas ligado à secretaria estadual de Saúde de São Paulo, para testar e produzir a vacina. A previsão é que, caso ela se mostre eficaz e segura, comece a ser produzida a partir do fim deste ano.

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Segundo o governo paulista, "se a vacina for aprovada, a Sinovac e o Butantan vão firmar acordo de transferência de tecnologia para produção em escala industrial tanto na China como no Brasil para fornecimento gratuito ao SUS (Sistema Único de Saúde)".

2. Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan, subordinada ao Grupo Farmacêutico Nacional da China, Sinopharm(China): fase 3 dos testes

A terceira candidata do país asiático é uma vacina de vírus inativado, feita a partir de partículas do vírus, bactéria ou outros patógenos cultivados, sem capacidade de provocar doenças.

"Essa é a tecnologia mais comum e mais experimentada na produção de vacinas", explicou Felipe Tapia, engenheiro biotécnico do Instituto Max Planck. "É uma tecnologia que possui produtos que já estão licenciados e comercializados. Portanto, a maioria das estimativas de que uma vacina (para a covid-19) ficará pronta entre 12 e 16 meses é baseada nesse tipo de vacina principalmente inativada."

No dia 23 de abril, 96 voluntários de três faixas etárias diferentes receberam uma injeção. Os resultados preliminares indicaram que ela é segura para humanos e provoca uma resposta imune (100% dos voluntários geraram anticorpos, segundo os estudos).

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No início deste mês, começou a fase 3 de testes clínicos nos Emirados Árabes Unidos com a participação de quase 15 mil voluntários, que serão acompanhados por um ano. É a primeira iniciativa de vacina inativa a ter chegado a essa etapa avançada de testes clínicos.

3. Vacina mRNA-1273 - Moderna Therapeutics (Estados Unidos): prestes a começar a fase 3

A Moderna, uma empresa de biotecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, é uma das empresas farmacêuticas que estão testando novas estratégias de pesquisa para acelerar o desenvolvimento da vacina covid-19.

O objetivo de uma vacina é "treinar" o sistema imunológico de uma pessoa para gerar uma resposta para combater o vírus e prevenir doenças.

As abordagens convencionais usadas para fazer isso geralmente se concentram no uso de vírus vivos atenuados, inativados ou fragmentados.

Mas o mRNA-1273 da Moderna, cujos ensaios são financiados pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, não é produzido com o vírus que causa a covid-19.

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É baseado em um RNA mensageiro (RNAm), ou ácido ribonucleico mensageiro. Isso significa que cientistas usam só um pequeno fragmento do código genético do vírus, que conseguiram criar em laboratório. Com isso, ela não seria capaz de causar infecção ou sintomas da covid-19, mas provocaria uma resposta do sistema imunológico.

Os ensaios clínicos, realizados pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do governo dos EUA, mostraram que a vacina levou à produção de anticorpos que podem neutralizar o coronavírus.

No entanto, o teste para esses anticorpos neutralizantes ocorreu apenas nas oito primeiras pessoas de um total de 45 participantes do estudo.

Os participantes tomaram doses baixas, médias ou alta. Doses mais altas foram associadas a uma maior incidência de efeitos colaterais.

No entanto, a Moderna disse que mesmo as pessoas que tomaram a dose mais baixa tinham anticorpos nos mesmos níveis observados em pacientes que se recuperaram da covid-19.

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E os anticorpos de pessoas que tomaram a dose média "excederam significativamente" os de pacientes recuperados.

A empresa acabou de finalizar seu planejamento para iniciar a terceira fase de testes ainda em julho, se tudo correr dentro do cronograma previsto.

4. Vacina AD5-nCoV - CanSino Biologics (China): prestes a começar a fase 3 e aprovação limitada

No mesmo dia em que a Moderna iniciou seus testes em humanos, em 16 de março, a empresa chinesa de biotecnologia CanSino Biologics, em colaboração com o Instituto de Biotecnologia e a Academia de Ciências Médicas Militares da China, iniciou seus ensaios.

Sua vacina AD5-nCoV usa uma versão de um adenovírus, o vírus que causa o resfriado comum, como vetor.

Esse vetor transporta o gene da proteína da superfície do coronavírus e, assim, tenta provocar a resposta imune para combater a infecção.

Essa vacina é a que está em fase mais avançada, por ter recebido do governo da China aval para imunizar militares do país. Ainda não está claro se a vacinação era obrigatória ou não.

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