Atire a primeira pedra quem não teve problemas em relação à falta de atenção em plena quarentena. Ficar muito tempo sem poder sair de casa deixou alguns indivíduos desatentos, inquietos e até mesmo com problemas relacionados ao foco. Dessa forma, esses traços causam preocupações entre as pessoas, que podem até acreditar que sofrem de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, o TDAH.
Mesmo o distúrbio sendo mais observado e comentado em crianças e adolescentes, atingindo 5% da população infantil, não pense que adultos não podem possuir esse transtorno. Aliás, muito pelo contrário!
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 4% da população adulta mundial têm o Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). No Brasil, o transtorno atinge aproximadamente 2 milhões de pessoas adultas.
Entenda o transtorno
De acordo com Paulo Sampaio, neuroftalmologista, o TDAH é uma doença neurobiológica. Sendo assim, significa que o problema está nos tecidos do sistema nervoso, que se modificam ainda no útero por uma alteração genética (nem sempre hereditária).
Sintomas
Tanto em crianças e adultos, como já se deve imaginar, o transtorno se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
Na infância, geralmente, os pequenos são tidos como avoados e desatentos. Além disso, segundo a Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA), esses indivíduos com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como, por exemplo, algumas dificuldades com regras e limites.
Porém, Sampaio explica que mesmo com sintomas aparentes, como agitação incansável dos menores, são raras as crianças com menos de 6 anos encaminhadas para avaliação pelos pediatras ou pelos pais.
"Normalmente, a criança começa a ter dificuldade de aprendizado e acompanhamento escolar a partir dos 6 anos. Dessa forma, a própria escola - professora ou orientadora pedagógica - pede para que os pais do aluno o levem para uma avaliação médica e multiprofissional", explica.
Já em adultos, geralmente, ocorrem problemas de desatenção em relação ao cotidiano e a vida profissional, bem como a falha na memória. De acordo com ABDA, são inquietos, fazem diversas coisas em simultâneo, e também apresentam impulsividade.
Ademais, possuem uma grande frequência de outros problemas associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.
Tratamentos
Sampaio explica que é recomendado evitar o início do tratamento medicamentoso com base em uma única consulta médica, onde os responsáveis respondem um "questionário diagnóstico" baseado em algo que não tem valor legal no Brasil, o DSM-V (Manual de Doenças Mentais da Academia Americana de Psiquiatria).
"Uma vez excluída, de fato, qualquer doença que possa simular o TDAH, tem início o tratamento", clarifica. O Neurologista e/ou o Psiquiatra podem escolher entre os diversos medicamentos hoje existentes no mercado, de acordo com as características de cada paciente, claro.
Dessa forma, muitas vezes são necessárias associações de remédios ou elaboração de fórmulas. "Além do tratamento medicamentoso, somos obrigados a recuperar o atraso na escolarização (apoio Psicopedagógico), ajudar psicologicamente o paciente e a família (apoio Neuropsicológico) e corrigir as alterações sensoriais decorrentes do período em que o indivíduo não estava diagnosticado", esclarece Sampaio.
Além disso, os medicamentos podem ser associados a acupuntura, que traz o benefício da redução da dose necessária - ou, em alguns casos, a suspensão total. De acordo com Luciano Curuci, médico acupunturista, em casos de crianças, a acupuntura pode ser aplicada de forma sistêmica convencional, com agulha sendo usadas de forma clássica, ou em alguns casos pode se optar por técnicas de microssistemas, como a auriculoacupuntura e a craniopuntura de Yamamoto (YNSA).
Dessa forma, segundo Curuci, com ou sem tratamento, a doença tende a reduzir os efeitos com a maturação neuronal. "Casos graves permanecem na idade adulta e se não tratados buscam conforto nas drogas psicoativas, que simulam os efeitos dos medicamentos usados no TDAH", clarifica.
E para finalizar, lembre-se que essa matéria não tem valor de diagnóstico. Vale ressaltar que cada pessoa é singular e pode apresentar diferentes sintomas e causas. Apenas um especialista poderá analisar o caso corretamente e traçar a melhor estratégia para solucionar o problema.
Fontes: Paulo Sampaio, neuroftalmologista e diretor médico do Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem; Luciano Curuci, médico acupunturista e presidente do colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo; Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA).