Desinteresse em exercício físico pode ter origem em falhas na aprendizagem motora na infância

Estudo analisou o repertório motor de crianças e a frequência com que realizam atividade física moderada a vigorosa

11 jul 2024 - 17h01
(atualizado às 23h38)
Mulher sofrendo enquanto faz exercício
Mulher sofrendo enquanto faz exercício
Foto: iStock

Em todas as fases da vida, a prática de atividade física é essencial. Colocar o corpo em movimento pode influenciar aspectos importantes da saúde e, por isso, é um hábito que deve ser cultivado desde a infância.

Durante os primeiros anos de vida, espera-se que as crianças adquiram habilidades motoras fundamentais como correr, pular, arremessar e equilibrar. Desenvolver essas habilidades é importante tanto para a realização de tarefas cotidianas quanto para a prática de esportes no futuro.

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Segundo um estudo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, o desenvolvimento inadequado dessas habilidades pode ser um dos motivos que afastam crianças da prática de atividade física, que deveria ser de, em média, 60 minutos diários, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A pesquisa, realizada em colaboração com outras universidades, investigou a relação entre o desempenho de habilidades motoras fundamentais das crianças e o tempo que elas dedicam à prática de atividade física moderada a vigorosa durante a semana e o fim de semana. Os resultados constataram que as crianças com habilidades motoras mais desenvolvidas são mais ativas, mas que a intensidade da prática diminui conforme o aumento da idade.

Para chegar aos resultados, a pesquisa utilizou dados obtidos entre janeiro de 2022 e junho de 2022 pelo Projeto React: de volta à ação. Realizado em parceria com a Universidade do Porto, o projeto teve como intuito examinar o desenvolvimento motor das crianças portuguesas após a pandemia de covid-19. As habilidades motoras fundamentais consideradas para a análise foram arremessar, chutar, driblar, receber/agarrar e rolar a bola.

Ao total, foi analisado o desempenho de 1.014 crianças entre 6 e 10 anos, selecionadas aleatoriamente entre as 4.691 avaliadas pelo projeto. Todas tinham uma aula de educação física por semana na escola e participavam do programa Atividades Curriculares de Enriquecimento (ECA), que oferece de uma a duas aulas semanais envolvendo jogos e esportes. Os dados foram coletados durante as sessões de aprendizado do programa.

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As avaliações foram registradas por meio da plataforma digital Meu EducAtivo, desenvolvida pelo professor Fernando Garbeloto, também principal responsável pelo estudo. No aplicativo, os professores conseguem classificar a performance dos alunos em cada habilidade por meio de três níveis (Perito, Aventureiro e Explorador), do mais avançado ao mais iniciante.

Após a seleção dos dados, as crianças foram divididas em três grupos considerando a quantidade de habilidades motoras em que eram classificadas como proficientes. Assim, o grupo 1 reunia as crianças com desempenho avançado em quatro ou cinco habilidades, o grupo 2 as com desempenho avançado em duas ou três habilidades e, por fim, o grupo 3 as com desempenho avançado em, no máximo, uma habilidade.

Importância da atividade física desde a infância

As conclusões obtidas pelo estudo confirmaram que crianças com habilidades motoras fundamentais mais avançadas são geralmente mais ativas e possuem maiores chances de atingir as recomendações da OMS. O grupo 1, que possuía proficiência em quatro ou cinco habilidades, teve resultados significativamente melhores do que os grupos 2 e 3.

Mesmo aos finais de semana, quando o tempo dedicado à prática de atividade física costuma ser menor, o grupo 1 se manteve mais ativo. Além disso, os resultados constataram maior atividade por parte dos meninos em relação às meninas e diminuição de frequência da prática de atividade física moderada a vigorosa conforme o aumento da idade.

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Segundo os pesquisadores, um dos motivos que podem explicar os resultados é a autoconfiança obtida com o domínio das habilidades: "À medida que as crianças ampliam sua proficiência se tornam mais confiantes, o que leva a uma melhor percepção da competência motora e a um maior envolvimento em diferentes atividades físicas ou esportivas".

Os achados mostram que promover o aprendizado das habilidades motoras fundamentais desde os primeiros anos da escola é um caminho importante para diminuir o sedentarismo entre as crianças, problema que pode ocasionar diversos transtornos para a saúde física e mental.

"É preciso conceber projetos que estimulem o aprendizado dessas habilidades e também se atentar às crianças com repertório motor menos desenvolvido, fazendo com que elas consigam desenvolver as competências e autoconfiança necessárias para participar de forma mais intensa e gratificante da prática de atividade física, o que auxilia a promover a saúde e bem-estar geral", afirmaram os pesquisadores.

Publicada no American Journal of Human Biology sob o título Is there an association between proficiency in fundamental movement skills and mderate-to-vigorous physical activity in childhood on weekdays and weekends? The REACT project, a pesquisa pode ser acessada por meio deste link.

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