O ronco, muitas vezes visto como uma perturbação noturna comum, diz muito sobre sua capacidade de descansar a noite - e também sobre a sua saúde. Isso porque o sintoma pode estar associado a um risco significativamente elevado de acidente vascular cerebral (AVC). É o que revelou um estudo publicado no The Lancet Regional Health.
A análise dos dados mostrou que o ronco estava intimamente ligado ao AVC. Isso porque há um aumento notável na incidência desse desfecho entre os que sofriam com os roncos noturnos. Dos casos de acidente vascular cerebral registrados, 11.483 foram classificados como isquêmicos, enquanto 5.710 foram identificados como hemorrágicos.
"Os resultados do estudo confirmam que as pessoas que roncavam tinham uma chance 56% maior de ter um AVC. Além disso, quando olhamos mais de perto, vemos diferenças significativas entre os dois tipos de acidente. O risco de AVC hemorrágico aumentou em 50% para aqueles que roncavam, enquanto o risco de AVC isquêmico mais do que dobrou, com um aumento de 102%", declara o coordenador do departamento de Medicina do Sono da ABORL-CCF, Dr. Alexandre Ordones.
A fim de enfatizar a importância da respiração no sono, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), celebra o Dia Mundial do Sono (15/03) com a campanha "respire bem e durma melhor". O objetivo é explorar um problema que, muitas vezes, é visto como um simples incômodo.
Problemas do ronco
De acordo com Alexandre, a respiração nasal é essencial para a qualidade do sono e uma noite sem rouquidão. "A obstrução nasal pode levar a fragmentação do sono, reduzindo a capacidade de sono profundo, que é a fase do sono na qual as ondas cerebrais estão mais lentas, 'descansando'", explica.
Além disso, a dificuldade de respirar pelo nariz pode levar à fragmentação do sono, reduzindo a quantidade de sono profundo. Segundo o coordenador do departamento do sono, isso pode ocasionar sonolência diurna, fadiga, alterações de memória, dores de cabeça pela manhã, sensação de perda de energia e cansaço crônico.
O ronco pode estar associado ainda à apneia obstrutiva do sono, quando há pausas respiratórias recorrentes durante o descanso noturno. Essa doença pode provocar quedas frequentes nos níveis noturnos de oxigênio no sangue, condição que pode levar à inflamação sistêmica, afetando o funcionamento de todo o organismo.
Prevenção e tratamento
Para realizar um tratamento de problemas com o sono é preciso avaliar cada caso cuidadosamente. Já o diagnóstico é feito por um exame chamado polissonografia, um procedimento não invasivo realizado durante o sono do paciente.
"Durante uma noite de sono, dados são coletados para que o médico possa diagnosticar distúrbios do sono, tais como apneia obstrutiva, movimentos periódicos das pernas e comportamentos noturnos, como sonambulismo", informa o especialista.
Ordones dá algumas dicas são úteis para melhorar a qualidade de sono e evitar o ronco noturno. Confira:
- Manter um peso saudável, pois o ganho de peso pode resultar na acumulação de gordura nas estruturas ao redor da faringe e da língua, o que diminui o espaço disponível para a passagem de ar;
- Evitar o consumo de álcool, uma vez que a bebida pode relaxar os músculos da faringe, o que facilita a ocorrência de apneia;
- Não fumar por pelo menos 4 horas antes de deitar, já que o tabagismo inflama as vias aéreas superiores, o que pode dificultar a respiração;
- Praticar atividade física regularmente, pois esse hábito melhora a capacidade cardiorrespiratória e diminui a pressão sanguínea, reduzindo assim o risco de AVC.