A obesidade associada a diversas patologias é tratada com medicamentos como o Ozempic e Saxenda. Após suspensão do uso, a tendência é de reganho de peso. José Carlos Souto explica que há um estudo da Virta Health que mostrou que, na vigência de uma dieta cetogênica, pacientes não apresentaram reganho de peso após 1 ano da adoção.
A obesidade está associada a um risco aumentado de diversas patologias, dentre elas diabetes, doença cardiovascular, Alzheimer e câncer. O advento dos análogos do GLP-1, drogas seguras e eficazes, conhecidas por nomes comerciais tais como Ozempic e Saxenda, vêm revolucionando o tratamento medicamentoso da obesidade. Acontece que, caso o paciente suspenda o uso da medicação, a tendência é que ocorra o reganho do peso perdido.
Para contornar este problema, muitas autoridades em obesidade recomendam o uso dos medicamentos por tempo indeterminado, o que pode ser difícil para alguns pacientes, já que os análogos do GLP-1 apresentam efeitos colaterais, que incluem azia, refluxo, constipação, diarreia e má digestão. Além disso, o tratamento com tais remédios costuma custar mais de R$ 1 mil por mês, uma quantia muito alta para grande parte das pessoas.
José Carlos Souto, médico referência em low-carb no Brasil e autor best-seller do livro “Uma dieta além da moda - uma abordagem científica para a perda de peso e manutenção da saúde”, explica que a recomendação dos médicos para que seus pacientes continuem a usar Ozempic e Saxenda por tempo indeterminado está calcada no fato de que, até bem pouco tempo, não existia nenhum estudo que houvesse demonstrado uma intervenção dietética ou de estilo de vida que impedisse esse reganho de peso após a parada do tratamento com os remédios.
No entanto, agora há, afirma o autor. Trata-se de estudo realizado pela empresa Virta Health – uma startup que emprega dietas de muito baixo carboidrato no manejo do diabetes tipo 2. Ele demonstrou que, na vigência de uma dieta cetogênica, pacientes que suspenderam o tratamento com Ozempic e similares não apresentaram reganho de peso mesmo após um ano da adoção da dieta de baixo carboidrato.
Conforme Souto, os resultados desse estudo são mais uma boa notícia para o tratamento da obesidade, pois mostram a eficácia de uma estratégia alimentar que tem baixo custo ao paciente e que pode ser mantida por tempo indeterminado.
Tratamento para diabetes
Souto explica que, originalmente, o Ozempic e similares foram aprovados para tratamento da diabetes.
“Mas, rapidamente, o emagrecimento foi percebido como um efeito colateral e, hoje em dia, a maioria das prescrições desta classe de medicamentos tem como objetivo a perda de peso”, diz. P
ara que a droga obtivesse a aprovação da FDA – equivalente à nossa ANVISA nos EUA - para ser utilizada com este fim, relata o Souto, foi usado como base um estudo em que pacientes obesos foram selecionados aleatoriamente para duas intervenções de estilo de vida: uma que orientava reduzir 500 calorias por dia na dieta e praticar atividade física diária; e outra, que além das mudanças na dieta e na atividade física, adotava o uso de 2,4 mg diárias de semaglutida, o medicamento do Ozempic (porém em dose maior).
Cerca de um ano após o início desse estudo, os resultados foram muito impressionantes. De acordo com o autor de Uma Dieta Além da Moda, os participantes que fizeram uso de semaglutida emagreceram quase 18 quilos, enquanto os pacientes sorteados para o placebo, juntamente com a restrição alimentar e atividade física, perderam somente dois quilos, mesmo com acompanhamento nutricional constante para tentar manter uma dieta restritiva durante um ano.
Entretanto, o estudo indicou que os pacientes ganharam 2/3 do peso perdido um ano após a suspensão do medicamento, da dieta e dos exercícios físicos. “O que não deveria ser surpresa, porque é sabido que o corpo tem uma memória e vai tentar atingir novamente aquele peso inicial”, afirma.
Uma dieta além da moda
Virta Health, explica Souto, é uma empresa norte-americana voltada para o tratamento da diabetes por meio da dieta cetogênica. Para isso, oferece a seus clientes serviços e tecnologias que permitem o monitoramento e controle da doença de forma constante. Em seu estudo, a Virta Health avaliou retrospectivamente 154 pacientes diabéticos com sobrepeso e obesidade que estavam usando Ozempic e similares e que suspenderam as medicações. A empresa comparou-os com outros 154 pacientes com características semelhantes, nos quais optou-se por manter os medicamentos. Ressaltando que todos os pacientes estavam fazendo dieta cetogênica.
O estudo constatou que os pacientes, independentemente de terem suspendido ou não o uso dos medicamentos, não retomaram o peso perdido mesmo após um ano de iniciada a dieta very low-carb.
“Ou seja, as pessoas diabéticas que estavam usando Ozempic e similares e que tiveram o medicamento suspenso foram completamente protegidas do reganho de peso graças à estratégia de restrição de carboidratos. Um achado sensacional, porque é a primeira vez que um estudo mostra um resultado assim”, enfatiza Souto.
O médico lança mão de outro estudo para rebater os argumentos daqueles que dizem que a comparações entre os estudos citados não é justa, já que na pesquisa que indicou o reganho de 2/3 do peso, os participantes abandonaram a dieta e a prática de atividade física, enquanto no levantamento da Virta Health, os pacientes estavam sendo monitorados para que mantivessem a sua dieta low-carb.
Nessa outra pesquisa, diz Souto, foram comparados dois grupos: um que usou a semaglutida por 68 semanas e outro que trocou o medicamento por placebo após as primeiras 20 semanas. Em ambos, relata o autor, foi recomendado a continuação da dieta restritiva (500 calorias a menos) e da atividade física (150 minutos de exercício por semana).
“O resultado foi que, mesmo mantendo a dieta e a atividade física, os pacientes que deixaram de tomar a semaglutida voltaram a ganhar metade do peso perdido” conta. Dessa forma, afirma, essa comparação de estudos dá bons indícios de que a diferença entre a manutenção do emagrecimento e o ganho de peso perdido está no tipo de estratégia alimentar utilizada: low-carb, assim como a medicação, reduz o apetite.
Acontece que, enquanto no estudo original com a medicação, os pacientes eram orientados a adotar uma dieta com restrição de calorias (dieta da fome), no estudo da Virta Health, os participantes aderiam a uma dieta cetogênica sem restrição calórica voluntária. Mas, devido à maior saciedade, acabavam por comer menos calorias espontaneamente. Isso acontece porque uma dieta very low-carb prioriza a ingestão de proteínas, vegetais e boas gorduras, o que gera muita saciedade.
“A saciedade produzida pela medicação é substituída pela saciedade induzida pela dieta e os pacientes mantêm o peso perdido mesmo quando suspendem o uso da medição”, conclui o médico.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.