Com Beyoncé entre os adeptos, veganismo 'meio-período' se populariza

21 jan 2014 - 12h20
(atualizado às 13h11)
<p>Beyoncé e Jay-Z aderiram ao veganismo "meio-período"</p>
Beyoncé e Jay-Z aderiram ao veganismo "meio-período"
Foto: BangShowBiz / BangShowBiz

O veganismo já foi associado aos ativistas defensores dos direitos dos animais, àqueles que queriam uma vida mais saudável e aos religiosos. Mas, um número cada vez maior de pessoas estão testando a dieta vegana temporariamente, por uma semana ou até 30 dias, segundo a Vegan Society, uma organização de caridade britânica de promoção do veganismo.

De acordo com a organização, houve um aumento de 40% do número de pessoas aderindo ao veganismo "meio-período" nos primeiros dois meses de 2013 em comparação com o mesmo período de 2012. Entre os casos mais famosos está o da cantora Beyoncé e o marido, o rapper Jay-Z, que aderiram à dieta vegana por 22 dias como parte de uma "limpeza espiritual e física". E uma nova campanha chamada Veganuary já conseguiu a adesão de 3,2 mil pessoas à dieta vegana no mês de janeiro, segundo os organizadores. 

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Motivos

Muitos destes veganos "meio-período" não são contra o consumo de produtos animais,

como ocorre com os veganos tradicionais. Os novos veganos podem ter se inspirado em nomes conhecidos que adotaram este estilo de vida para valer e não apenas por um período limitado, como o cineasta americano James Cameron, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e o fundador da Microsoft, Bill Gates.

Segundo a Vegan Society britânica, existem 150 mil veganos na Grã-Bretanha, uma em cada 400 pessoas. Esta taxa aumenta nos Estados Unidos, uma para cada 150 pessoas, segundo o Vegetarian Resource Group, o que faz com que os números totais de veganos americanos fiquem em torno de 2 milhões. Como os vegetarianos, eles não comem carne vermelha, frango, peixes ou produtos ligados a animais. Os veganos também não consomem laticínios ou ovos.

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Mas quem realmente está ganhando destaque são os veganos temporários e eles podem adotar esta dieta devido a várias motivações. Alguns querem apenas se livrar dos excessos cometidos no Natal e Ano Novo, outros querem uma boa desintoxicação. Segundo Juliet Gellatley, diretora do grupo vegano e vegetariano britânico Viva, o que geralmente move esses novos veganos são dois motivos: preocupação com a saúde e uma maior consciência sobre como os animais são tratados.

"As pessoas podem ter uma tendência para ter doenças do coração ou querem diminuir o colesterol. Ou pode ser porque eles viram algo sobre agricultura industrial. Mas, uma vez que as pessoas se abrem para o veganismo, elas geralmente abrem as mentes para outras questões também", disse. "O terceiro fator, que é mais incomum, são as razões ambientais como aquecimento global e devastação das florestas", acrescentou.

Hormônios e dieta

Rachel Hollos, diretora de marketing global de uma empresa em Londres, foi uma das pessoas que adotou o veganismo por um mês. "Li muitos artigos sobre como nós não precisamos de laticínios e como o leite de vaca tem muitos hormônios que desregulam nossos hormônios", afirmou.

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Ela também viu algumas propagandas das investigações do grupo ativista Pessoas Pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta, na sigla em inglês). Rachel contou que a dieta vegana é muito diferente da dieta normal que ela segue, que geralmente incluía muitos ovos, peixe, leite de cabra e iogurte. A mudança foi fácil durante a semana, quando ela consegue preparar as refeições e lanches em casa. Mas tudo ficou mais difícil no final de semana, quando ela come fora.

"Também sinto falta dos bolos e chocolate, e a maioria dos bolos contém manteiga e ovos, e a maioria dos chocolates tem leite. Definitivamente sinto que tenho mais energia e me sinto menos inchada, mas também sinto muita fome todo o tempo", disse.

Os que defendem a dieta insistem que o veganismo não se resume a esta sensação de fome. Juliet Gellatley afirma que é fácil evitar esta sensação planejando cuidadosamente as refeições e optando por feijões, lentilhas, entre outros para ajudar a manter a sensação de saciedade.

O personal trainer Luke Graham, do País de Gales, afirma que aderiu ao veganismo no mês de janeiro em parte por uma questão de "ética e saúde, em parte para fazer uma experiência". E, por enquanto, ele afirma que seus nívels de energia estão bons. "Preciso ficar forte e em boa forma para meu trabalho e eu temia que, virando vegano, o contrário aconteceria. A última vez que tentei (esta dieta) não entendia muito sobre nutrição. Agora, elaborar planos de nutrição faz parte do meu trabalho", afirmou.

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Veganos diurnos e escândalos

Há dietas veganas para vários gostos, como a VB6, que defende a dieta vegana até as 18h e virou moda depois de o articulista de gastronomia do The New York Times Mark Bittman ter publicado um livro a respeito em 2013. Também há vários produtos como comida crua, sucos de limpeza, dietas com sopas que envolvem diminuir o consumo de carne e outros produtos ligados a animais.

Esta é também uma fatia de mercado que está em crescimento na Grã-Bretanha, o de produtos livres de carne, como tofu, hamburgueres vegetarianos entre outros. Este mercado foi avaliado no país em 625 milhões de libras (mais de R$ 2 bilhões), um aumento de 21% em relação a cinco anos atrás, segundo a companhia de pesquisas Mintel. 

A queda no consumo de carne também pode estar ligada a escândalos como a descoberta de carne de cavalo em produtos vendidos em supermercados da Europa no ano passado. Outros afirmam que campanhas divulgadas por celebridades, como as Segundas Sem Carne, que Paul McCartney lançou para estimular as pessoas a diminuírem a pegada de carbono ao cortarem o consumo de carne por um dia da semana, também podem ter contribuído.

Para Juliet Gellatley está ocorrendo uma grande mudança e a dieta vegana não é mais vista como algo totalmente estranho. "As pessoas não estão, necessariamente, virando veganas, mas elas parecem admirar as pessoas que cortaram um pouco mais (a carne), ... elas dizem 'sei que não é bom para o meu coração'", disse. Para Juliet, adepta do veganismo há 21 anos, não há problemas em aderir ao estilo de vida apenas por um período limitado.

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"Na minha opinião, qualquer mudança é positiva. Qualquer coisa que leve à comer menos animais é boa. Além disso, poucas pessoas vão direto para uma dieta vegana. Algumas mudam do dia para a noite, mas recebemos emails de pessoas todos os dias dizendo que não comem mais carne vermelha, e depois peixe, depois os laticínios etc. A maioria vira vegetariano antes de virar vegano", acrescentou.

Para Rachel, de Londres, a dieta vegana só vai durar o mês de janeiro mesmo. Ela pretende voltar a comer peixe em fevereiro e, possivelmente, carne branca orgânica depois. "A dieta vegana realmente me fez pensar sobre o que eu coloco no meu corpo e descobri vários benefícios nutricionais e receitas saborosas que vou continuar fazendo. Acho que há bom senso em muitas teorias e, definitivamente, é um desafio que vale a pena", afirmou.

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