Dietas personalizadas podem ajudar a perder peso

Cientistas testaram dietas específicas para diferentes perfis de "comilões"

15 jan 2015 - 07h47
(atualizado às 10h45)
Foto: BBC Mundo / Copyright

Cientistas britânicos dizem ter identificado, entre as pessoas que comem em excesso, três perfis distintos de "comilões". Eles testaram dietas específicas para cada grupo e, com base nos resultados, estão esperançosos de que uma abordagem personalizada venha transformar os tratamentos para obesidade no futuro. O experimento, envolvendo especialistas das universidades de Cambridge e Oxford, na Grã-Bretanha, foi tema de um documentário apresentado nesta semana pela BBC.

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Tradicionalmente, janeiro é um mês em que muitos iniciam - e abandonam - dietas bem intencionadas para perder o excesso de peso. Segundo a equipe britânica, a falta de sucesso da maioria dessas dietas não tem nada a ver com a força de vontade dos envolvidos e, sim, com as características particulares a cada indivíduo: sua herança genética, seus hormônios e a psicologia de cada um. Portanto, solução é, em vez de optar por uma dieta padrão, cada pessoa deve seguir uma dieta feita sob medida para suas necessidades.

A teoria foi posta à prova em um experimento envolvendo 75 pessoas de várias cidades britânicas que foram monitoradas em suas casas durante três meses. Os participantes foram divididos em três categorias: aqueles que acham difícil parar de comer, aqueles que têm vontade de comer o tempo todo e os que comem por razões emocionais - quando estão estressados ou ansiosos.

Sem Parar

Segundo a equipe britânica, baixos níveis de certos hormônios poderiam ajudar a explicar o comportamento de pessoas que, quando começam a comer, não conseguem parar.

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Quando uma pessoa come, assim que o alimento chega ao intestino, esses hormônios são liberados e viajam pelo sangue até o cérebro, sinalizando para o organismo que a pessoa já ingeriu o suficiente e, portanto, pode parar de comer. "Algumas pessoas têm níveis incrivelmente baixos de certos hormônios do intestino e não recebem esses sinais", diz Susan Jebb, da Oxford University.

Desejo Constante

Os pesquisadores identificaram, entre as pessoas que comem excessivamente, o grupo daquelas que sentem vontade de comer o tempo todo. Com frequência, os "cérebros famintos" desses indivíduos as levam a buscar alimentos gordurosos e cheios de açúcar.

Esse comportamento teria raízes genéticas: determinados genes interferem na forma como o corpo sinaliza para o cérebro que a pessoa já pode parar de comer, induzindo o cérebro a "pensar" que os estoques de gordura do organismo precisam ser repostos continuamente.

"O papel dos genes na perda de peso é inquestionável e graças a mudanças na tecnologia estamos começando a descobrir que genes são esses", disse Giles Yeo, da Cambridge University.

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Foto: BBC Mundo / Copyright

Conforto na Comida

Em situações de estresse e ansiedade, a pessoa que come por razões emocionais procura algum tipo de recompensa, ou conforto, no alimento. "As pessoas pensam que fazer dieta é uma questão de força de vontade", diz Jebb. "Não é por aí. Dietas são uma questão de hábito. Nunca soube de um estudo que concluiu que as pessoas podem perder peso por meio de força de vontade. O que elas podem fazer é mudar seus hábitos".

Então, que tipo de dieta cada um desses três grupos deveria seguir para perder peso?

Três Dietas

O grupo dos que começam e não param mais de comer seguiu uma dieta cujo objetivo era fazer com que se sentissem satisfeitos o maior tempo possível. Ou seja, uma alimentação rica em proteína e com baixo Índice Glicêmico (alimentos cujo açúcar é absorvido mais lentamente pelo organismo).

Por exemplo, peixe, frango, arroz basmati, lentilha, grãos e cereais. Segundo os especialistas, esses alimentos melhoram a sinalização feita pelos hormônios do intestino. A batata não é indicada, já que o açúcar da batata é absorvido muito depressa.

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"Proteínas e carboidratos de absorção mais lenta são absorvidos mais adiante no intestino, levando à produção, em maior quantidade, dos hormônios que nos fazem sentir mais cheios", diz a especialista em hormônios do intestino Fiona Gribble, da Cambridge University.

Pessoas que sentem vontade de comer o tempo todo têm dificuldade em seguir dietas sete dias por semana. Em vez disso, a equipe recomendou que reduzissem drasticamente a quantidade de calorias ingeridas (para apenas 800 calorias diárias) durante dois dias por semana. Nos outros cinco dias, o grupo foi orientado a comer normalmente, porém de forma saudável. Esta dieta é conhecida como jejum intermitente.

Tentações estão por toda a parte

"Pessoas que constantemente desejam comida têm mais dificuldade (em perder peso), já que têm forte predisposição a ser obesas", diz Jebb. "O objetivo dessa dieta é colocar seus corpos em estado de choque para que queimem gordura".

Indivíduos que buscam conforto emocional na comida fazem isso por hábito - e esse hábito é difícil de ser rompido, dizem os cientistas.

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Além de adotarem uma dieta saudável, foram orientados a integrar grupos de apoio na internet e frequentar reuniões. O objetivo dessas estruturas de apoio era encorajá-los e motivá-los a perseverarem em suas dietas. Também receberam sessões de Terapia Cognitiva Comportamental para ajudá-los a compreender os pensamentos e comportamentos associados à forma como se alimentavam.

Dicas Úteis

O estudo britânico confirmou outras práticas que podem ajudar pessoas de todos os grupos a perderem peso.

• Coma devagar. Isso pode aumentar os níveis de hormônios do intestino que dizem ao cérebro que é hora de parar de comer.

• Sempre tome café da manhã. Isso diminui o desejo de comer alimentos pouco saudáveis. "75% das pessoas que tiveram sucesso em suas dietas tomam café da manhã", diz Yeo.

Sopa faz você se sentir mais cheio. Especialistas dizem que uma sopa espessa deixa você mais satisfeito do que legumes sólidos.

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• Cansaço atrapalha a tomada de decisões e pode aumentar o desejo por comidas pouco saudáveis. Tenha consciência disso e não faça a lista do supermercado quando estiver cansado e com fome.

Rompendo Mitos

Crenças populares relacionadas ao efeito de exercícios e do índice metabólico do indivíduo sobre a dieta também foram testadas - e derrubadas - pelo experimento. Exercícios podem ajudar a pessoa a perder peso, mas com frequência ela fica menos ativa depois de se exercitar, o que anula grande parte dos benefícios que a atividade física teria trazido. A forma mais efetiva de se perder peso é quase sempre mudar a dieta, os cientistas ressaltam.

Outro grande mito associado a dietas é o efeito do índice metabólico sobre a perda de peso, diz Jebb. O índice metabólico tem a ver com a velocidade com a qual seu organismo digere o alimento e o transforma em energia. Esse processo pode ser afetado por muitos fatores, como a idade, gênero e tamanho. Com frequência, pessoas obesas acham que não conseguem perder peso porque têm um metabolismo lento, e que pessoas magras têm metabolismos mais rápidos.

"O que sabemos é que pessoas maiores têm índices metabólicos mais rápidos, isso porque têm corações e pulmões maiores", diz Jebb. "São necessárias mais calorias para manter seus corpos em funcionamento, é como um carro maior que usa mais combustível".

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A pesquisadora explica que o índice metabólico diminui à medida que você perde peso. Um teste feito como parte do estudo mostrou que, em média, o índice metabólico de todos os participantes caiu 5% à medida que eles emagreceram. Essa "contra-partida biológica" dificulta a perda de peso a longo prazo para todas as pessoas. É por isso que o peso de uma pessoa que faz dieta se estabiliza a partir de um ponto.

Os três grupos foram desafiados a diminuir em 5% seu Índice de Massa Corporal (IMC, fórmula que se baseia na altura, sexo e idade de uma pessoa para determinar seu peso ideal) - mas acabaram perdendo 8%. Coletivamente, os 75 participantes perderam 654 kg. O grupo dos que que sentiam desejo constante de comer teve mais dificuldade. A categoria dos que não conseguem parar foi a que perdeu mais peso.

Todos expressaram alívio ao compreender por que tinham tanta dificuldade em emagrecer. "Finalmente entenderam por que sua estrutura biológica trabalhava contra eles e isso lhes deu mais controle e auto-confiança", diz Yeo.

A equipe britânica ressalta que a ciência das dietas personalizadas ainda engatinha, mas diz que a nova abordagem tem grande potencial.

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