Gabriela Silveira tem 31 anos e é webdesigner. Acorda todos os dias às 8h, dá café da manhã para o filho Guilherme, de três anos, enquanto prepara o seu “suco verde, misturando uma fruta doce com alguma verdura”. Entre limpar a casa, fazer compras e lavar a roupa e louça, sempre ouve um “mãe, brinca comigo” – o marido já saiu para trabalhar. Após levar o garoto para a escola, prepara um almoço baseado em salada, arroz integral, legume e peixe ou frango grelhado. “Zero fritura, óleo em casa não entra nem para o macarrão”, diz.
À tarde, depois do trânsito, “organizo a bagunça e começo a trabalhar, afinal, não me formei e pós-graduei à toa”. Atuando como free lancer, corre para entregar os trabalhos antes de buscar o filho na escola no final da tarde e recomeçar a rotina “de quem não tem com quem deixar o filho”. No final do dia, por mais que mantenha uma alimentação saudável, ela sente falta “de dar uma escapada para malhar na academia”.
A rotina de Gabriela é não só comum como representa um retrato bastante fiel do estilo de vida atual da mulher brasileira, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde 2013 divulgada nesta quarta-feira (10) pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE). Preocupadas com uma alimentação mais saudável muito mais do que os homens, elas sofrem com a rotina apertada com afazeres domésticos e não conseguem, portanto, fazer exercícios físicos regularmente.
Segundo o levantamento do IBGE, as mulheres consomem mais frutas e hortaliças (39,4%) dos que os homens (34,8%) em todo o Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda neste caso a ingestão diária de pelo menos 400 gramas de legumes e verduras. Se o tema for o consumo de carne com excesso de gordura, então, a diferença é ainda mais discrepante em solo nacional: eles, 47,2%, e elas, apenas 28,3%.
“Ficou evidente que as mulheres consomem menos carnes com gordura e refrigerantes, diferentemente dos homens de uma forma geral”, avaliou Maria Lúcia Vieira, coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE e uma das responsáveis por este extenso levantamento. Aliás, corroborando o que Maria Lúcia disse, mulheres bebem menos refrigerantes ou sucos artificiais, de acordo com a pesquisa: 20,5% elas, 26,6% eles. O parâmetro, neste caso, é de quem faz uso deste tipo de bebida pelo menos cinco vezes por semana.
Em relação ao consumo de sal, principal causa de crises de hipertensão, as mulheres que consideraram o uso excessivo ficou em 12,5%, contra 16,1% dos homens. Outro fator de risco no aumento de doenças crônicas, o álcool mostra ainda diferença maior no consumo entre brasileiras e brasileiros: 13% contra 36,3%, respectivamente, entre aqueles que confessaram terem ingerido cinco ou mais doses, em uma única ocasião, nos últimos 30 dias.
Além, claro, do cigarro: mulheres compõem 11,2% dos fumantes, enquanto os homens, 19,2%, o que fecha a taxa geral do brasileiro em 15%. “A alimentação saudável complementa a prática de exercícios e vice e versa. O ideal seria estar em dia com ambos. Porém, claro que manter uma alimentação saudável minimiza os efeitos negativos de não estar fazendo exercícios físicos”, afirma a empresária Raphaela Lewin, 34.
Mãe de Valentina e Isadora, ela engrossa a estatística de brasileiras que não conseguem equacionar o tempo com os filhos para ingressar nos dados do IBGE de quem faz exercício físico por lazer: o levantamento diz que 18,4% das brasileiras fazem pelo menos 150 minutos de atividades semanais, de intensidade leve ou moderada, ou 75 minutos de ritmo vigoroso.
Sempre em indivíduos de 18 ou mais anos, a pesquisa constatou, em contrapartida, que os homens já conseguem um número maior de inseridos neste contexto, mesmo com o ritmo cada vez mais intenso de trabalho: 27,1% dos homens se exercitam regularmente – neste que é a principal recomendação preventiva contra doenças vasculares, por exemplo.
“Almoço fora e janto em casa. Procuro ir a restaurantes que tenham pratos saudáveis em sua seleção, livre de molhos e frituras. Em casa é fácil, pois não compro nada que eu não ache legal comer. Não como massa (carboidratos) durante a semana também”, explica ainda Raphaela, que dá sua razão para não conseguir visitar a academia. “Porque o tempo que tenho disponível acabo optando por ficar com minhas filhas. A rotina de uma mãe que trabalha fora é muito atribulada”, diz.
“As mulheres são mesmo mais sedentárias, no lazer, principalmente. Acredito ser mesmo a questão da disponibilidade de tempo. Além das atividades domésticas, que a gente viu na pesquisa que os homens dispendem menos tempo”, avaliou a diretora da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, ao chamar a atenção para as variáveis do tema.
Quando o assunto é atividade física nas atividades domésticas, no mesmo tempo de 150 minutos semanais, o público feminino engloba 18,2%, enquanto os homens, simplórios 5,4% de tempo com as tarefas domésticas em todo o País.
“Elas bebem menos, fumam menos, e não fazem tantos exercícios quanto os homens no lazer, mas quem já fez uma faxina sabe o exercício que é. Pode não ser muito agradável, mas todo mundo sabe o quão cansativo que é. Então, esses fatores podem estar relacionados”, analisa ainda Maria Lúcia.
Embora no quesito deslocamento para o trabalho a diferença entre homens e mulheres não seja significativa, considerando pelo menos 30 minutos de caminhada diária (ida e volta),para Juliana Pellegrini, 33, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). a correria das grandes metrópoles, claro, favorece uma vida mais desregrada.
Ela, que em casa “nunca tive exemplo de alimentação saudável”, gasta em média, diariamente, “quatro horas entre deslocamento casa e trabalho”. “Acabo fazendo um sanduíche em casa à noite”, e sempre que pode “subo as escadas de casa para não usar o elevador, e danço com a Gabriela, minha filha de 10 meses, o que deve funcionar, pois voltei ao peso normal”. “Antes fazia academia das 21h às 23h, agora, com ela, não tem mais como, então procuro sempre andar quando eu posso”, brinca.
Faça uma festa com receitas saudáveis