vc repórter: por amor e preconceito, mulher perde 140 kg em 1 ano e 5 meses

19 fev 2014 - 22h08
(atualizado às 22h11)

Adriana Aparecida dos Santos perdeu 140 kg em 1 ano e 5 meses. Não fez cirurgia. Não contraiu nenhuma doença.  A mulher de 31 anos natural de Morungaba (SP) se reeducou ao cortar quilos do prato e se motivou misturando dois ingredientes antagônicos para ter força de vontade: amor e preconceito. O resultado ela vê no espelho, na autoestima, e, principalmente, na balança, que hoje anota 80 kg.

O preconceito a paulista sente desde cedo. Sempre foi acima do peso. Mas um episódio em particular a fez senti-lo ainda mais. Em 2006, durante uma consulta médica – aos 24 anos, Adriana sofria de trombose, pressão alta e diabetes – recebeu a recomendação de ir a uma nutricionista. Foi. A especialista em alimentação decretou, sem rodeios: “nossa balança pesa até 180 kg, você vai precisar se pesar numa balança de pesar bois, no mercado municipal”.

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“Eu fiquei arrasada, me senti muito humilhada. Acabou que não me pesei em balança de boi coisa nenhuma”, relembra. Descontou na comida. O peso foi escalando ainda mais. No dentista também não podia ir, a cadeira não a suportaria. “Nem no cabelereiro me deixaram entrar, para não quebrar a cadeira e para não espantar as clientes”, lamentou.

"Eu vou te ajudar"

Mas o amor lhe deu forças. Em 2007, um ano após a morte do ex-marido, Adriana conheceu Anacleto. O encontro aconteceu em circunstâncias peculiares. Ela estava na Universidade de Campinas (Unicamp), participava de um grupo que pleiteava uma cirurgia de redução de estômago. “Nós, eu e o Anacleto, conversávamos pela internet. Eu sempre o via pela web cam, mas ele nunca me via, eu só mandava fotos falsas pra ele, por vergonha de ser obesa”. Uma coisa que ela não sabia é que um amigo em comum já havia alertado Anacleto sobre a obesidade mórbida de seu amor virtual e contado onde Adriana estaria.

Anacleto então decidiu que iria vê-la pessoalmente. O rapaz deixou Americana, também no interior paulista, e surpreendeu Adriana em plena Unicamp. “Na hora eu não sabia onde me esconder, até chorei de vergonha, fiquei com a cabeça baixa”. A aparência não importava pra ele. “Não fica assim, estou com você e vou te ajudar”, foi o que ele disse pra ela.

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A frase marcou o casal, mas Adriana ainda encontrava dificuldades em perder peso e se recusou a fazer a cirurgia por, segundo ela, ter visto muita gente morrendo na fila. “Quem é obeso sabe: basta algum problema para descontarmos na comida. Assim, eu fui comendo mais e mais, até chegar a 220 kg, em 2012”, relembra.

Decidida a mudar de vida, já em uma união estável com Anacleto, hoje seu marido, Adriana conseguiu outro impulso. “Eu li uma reportagem do Terra de 2013 sobre um catarinense que tinha perdido muito peso, o Naury Weber. Eu adicionei ele no Facebook e ele me deu muitas dicas. Decidi que faria mais exercícios e controlaria mais a alimentação”.

Não deu outra. Depois de muita corrida e alimentação controlada de porções pequenas de pão light, frutas e frango grelhado em substituição às pratadas de mais de 1 kg de arroz com feijão e pizza, Adriana chegou perto do objetivo de, com 1,70, envergar 70 kg.

Missão

Com 80 kg e uma silhueta de dar orgulho em vez de vergonha, Adriana quer agora servir de exemplo, não só em sua cidade de residência, Americana. Os muitos quilos a mais que a fizeram se distanciar no passado até da sogra, irredutivelmente contra a nova parceira do filho, hoje fazem parte da lembrança.

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Da lembrança e do excesso de pele que carrega no tronco, nas pernas e nos braços. São mais de dez quilos de pele que só serão extirpados via cirurgia plástica. Adriana, agora, busca recursos ou a solidariedade de algum médico disposto a ajuda-la de graça. Enquanto isso não acontece, usa das redes sociais para mostrar seu feito incrível e incentivar outras pessoas, mesmo que motivadas por razões que não o amor e o preconceito, a acrescentar o prefixo “ex” antes da alcunha “obeso” que carregam.

A leitora Adriana Aparecida dos Santos, de Morungaba (SP), participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

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