Diego Paiva dos Santos, de 20 anos, morreu em agosto em decorrência de um infarto pulmonar. Ele foi hospitalizado após uma infecção, apresentando choque séptico. Em quatro dias, houve melhora no funcionamento do fígado, rins e coração, mas o pulmão não respondeu da mesma forma.
Lia Paiva, mãe de Diego, divulgou a radiografia do pulmão do filho, revelando que ele fumava vape desde os 15 anos. O contraste da imagem em relação a um pulmão saudável surpreende.
Em entrevista ao Terra Você, o médico pneumologista Alexandre Kawassaki comenta que a situação observada no raio-x do rapaz indica que ele pode ter sido vítima de uma uma lesão pulmonar chamada de evali. Essa condição é uma lesão aguda associada ao uso de vaporizadores eletrônicos.
Existem dois tipos de lesões associadas ao uso de cigarros eletrônicos
O especialista explica que existem dois tipos de lesões associadas ao uso de vapes: as lesões agudas, que ocorrem rapidamente com pouco tempo de uso, e as lesões crônicas, que se manifestam após anos de uso, podendo aparecer após 10, 15 ou até 20 anos.
As lesões crônicas são motivo de maior preocupação do ponto de vista de saúde pública, pois, embora haja sinais e associações que indicam que o vape pode causar os mesmos problemas que o cigarro convencional, ainda não existem dados robustos devido ao tempo relativamente curto de uso dos vapes.
Em relação às lesões agudas, a mais clássica é a lesão pulmonar aguda relacionada ao cigarro eletrônico (conhecida como evali) que pode causar um quadro grave, semelhante a uma pneumonia nos dois pulmões, levando à falência do órgão.
A falência pulmonar pode desencadear a liberação de hormônios que afetam outros órgãos, como fígado, rins, coração e cérebro. A recuperação desses órgãos varia, podendo haver desde sequelas permanentes até uma recuperação completa e rápida, dependendo do órgão atingido.
“Pode ser que o rim demore mais para se recuperar do que o pulmão, por exemplo, e há casos onde a pessoa fica com uma sequela renal, às vezes grave, e uma recuperação completa da parte pulmonar”, explica o médico.
Imagem de pulmão saudável não deve ter manchas esbranquiçadas
O médico analisa que no raio-x divulgado pela mãe de Diego, é possível observar que se perde a transparência normal dos pulmões, ou seja, aquelas áreas que estão bem escurecidas, que é o normal, encontram-se com várias alterações brancas, borradas.
"Normalmente isso indica a substituição das áreas onde entra o ar, para que haja a troca de gás carbônico pelo oxigênio, por um material que não permite essa troca normal, e aí por isso a pessoa entra em insuficiência respiratória. Esse material varia dependendo da causa desse pulmão branco, mas em geral é uma mistura de líquido, de inflamação, de células, de pus e de, muitas vezes, agentes infecciosos", define o especialista.
No caso da evali, o pulmão libera diversas substâncias inflamatórias que acabam atraindo líquido para essa região. Como resultado, os espaços que deveriam estar preenchidos por ar são ocupados por esse líquido, impedindo a adequada troca de oxigênio e gás carbônico.
Além disso, células inflamatórias do sistema imunológico são recrutadas e também acabam preenchendo esses espaços. Isso gera um ciclo vicioso: as células inflamam ainda mais a região, agravando a troca de gases e piorando progressivamente a função respiratória, como explica o pneumologista.
Casos podem ocorrer sem sintomas
O médico conta que não existem sintomas que possam predizer o desenvolvimento de um quadro grave em pessoas que usam vaporizadores eletrônicos.
No entanto, o especialista alerta para alguns sinais que podem indicar complicações pulmonares como: tosse, falta de ar, cansaço para coisas habitualmente comuns, febre, perda de capacidade do uso do próprio aparelho.
“Infelizmente, na hora que ele se instala, ele já se instala com uma gravidade importante. Então na hora que os sintomas de uma evali iniciarem, o processo já começou e o tratamento tem que ser feito de suporte para evitar maiores complicações”, conclui.