Nesta terça-feira (24), a atriz Angelia Jolie anunciou que se submeteu a uma cirurgia preventiva para retirar os ovários e as trompas de Falópio, dois anos depois de uma dupla mastectomia também preventiva. O procedimento foi considerado a melhor opção melhor por Jolie, que perdeu a mãe, a avó e uma tia para o câncer.
Além disso, Angelina tem uma mutação no gene BRCA1, cujo papel é proteger o organismo de possíveis cânceres. A junção dos fatores representava, então, um risco de 50% de desenvolvimento do câncer de ovário, além de 85% de câncer de mama, já diminuído significativamente com a mastectomia.
Em entrevista ao Terra, Jesus Paula Carvalho, chefe de equipe de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, explicou que a recomendação foi certeira, considerando o histórico familiar da atriz. Ao longo dos anos, a “herança” do câncer de ovário se mostrou cada vez mais decorrente. “Há 20 anos, acreditava-se que 5% dos casos eram hereditários, hoje o número chega até mais de 20%”, lembra o médico. Dentre os fatores hereditários, ele destaca a mutação de dois genes BRCA1 e BRCA2, responsáveis no organismo por "consertar" algum possível dano no DNA.
Quando a mulher tem essa mutação comprovada pelo exame de sangue, como aconteceu com Jolie, suas chances de desenvolver o câncer de ovário são ainda maiores. “A chance de ela ter em algum momento da vida o câncer de ovário é próxima a 50%. E a doença é incurável. Então é um risco muito elevado”, pondera o especialistas.
No entanto, a retirada dos ovários (ooforectomia) compromete não só o sistema reprodutivo da mulher, como ocasiona uma menopausa precoce. “Ela não vai poder ter filhos, e vai perder sua fonte de estrogênio. Então a retirada por um lado é necessária pra prevenir uma doença fatal, mas é muito difícil de ser aceita pela mulher. A reposição hormonal pode ser feita, mas ela só resolve parte do problema”, completa Carvalho.
Segundo o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli, a discussão não é simples. Apesar de Angelina Jolie optar por uma alternativa mais resolutiva, muitas mulheres preferem um tratamento clínico, em vez de um cirúrgico. “É muito relativo e vai muito de mulher pra mulher. Hoje em dia, falar em risco não significa que a mulher terá o câncer. No caso da atriz, ela perdeu a mãe de câncer de ovário, então foi uma decisão baseada em um trauma”, considera.
Como o câncer de ovário é descoberto
“O ovário tem dezenas de tipos de tumores, mas tem um tipo chamado carcinoma seroso, que é o mais agressivo de todos, e representa 80% de todos os tumores. Uma vez diagnosticado, a chance de a paciente estar viva depois de cinco anos é de no máximo 50%, independente de todos os tratamentos que ela faça. É um tumor que evolui muito rápido, em semanas”, explica Jesus Paula Carvalho.
Não existem sintomas que necessariamente indiquem a presença do tumor. A mulher pode até sentir um desconforto abdominal, mas as queixas podem ser relacionadas a outras questões, como intolerâncias alimentares. Os exames tradicionais, como o exame ginecológico, a ressonância magnética, a ultrassonografia e a tumografia, portanto, são os únicos meios de detectar a doença. No entanto, o especialista lembra que há muitos anos se procura um método para que se faça um diagnóstico precoce do câncer de ovário, mas que até hoje não há um que tenha impacto significativo na redução da mortalidade.
Prevenção e tratamento
Além das recomendações que já conhecemos a respeito da prevenção do câncer, os tais “hábitos saudáveis” que incluem atividades físicas e boa alimentação, já existem suplementações usadas como tratamento alternativo à retirada dos ovários, para as mulheres com alto risco de desenvolverem a doença.
“A grande maioria é natural e a paciente toma a vida inteira. Essas suplementações suprimem a expressão do gene do câncer”, explica o Mantelli. O uso de anticoncepcionais também está na lista de práticas não recomendadas para quem tem a mutação no gene BRCA1 e BRCA2. “Deve ser feita uma avaliação completa, considerando a idade da mulher também. Então é controverso mesmo, não existe regra, vai muito da conversa com o paciente e da decisão conjunta de optar pelo tratamento cirúrgico ou clínico”, conclui o médico.