A popularização da semaglutida como substância usada indiscriminadamente para emagrecer segue em pauta. A discussão da vez é o chamado "rosto de Ozempic", que faz referência ao nome comercial do medicamento mais famoso com o principal ativo.
Tal expressão se refere ao aspecto flácido deixado na face. Mas é culpa do remédio? Na verdade, não. Essa aparência é reflexo da perda de peso acelerada que ocorre com a semaglutida, mas pode também ser obtida por meio de outros métodos, a exemplo de cirurgias.
Ozempic é recomendado para diabetes
Como já reforçado pela fabricante Novo Nordisk, o Ozempic é previsto para pacientes com diabetes tipo 2. Mas dada a eficácia da medicação para o emagrecimento, médicos passaram a prescrevê-lo, de modo off-label, para pacientes com obesidade.
Em entrevista anterior ao Terra, a endocrinologista Claudia Chang disse que não há problemas com essa indicação, e sim com o uso indiscriminado feito por pessoas sem quadro de obesidade e/ ou sem acompanhamento médico.
"A grande questão é que a gente precisa sempre fazer a orientação específica daquela medicação, não só pra avaliar a resposta em si do paciente, o segmento clínico, mas também pra acompanhar os possíveis efeitos colaterais que aquela medicação pode acarretar", avalia a especialista, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e coordenadora da pós-graduação em Endocrinologia do Instituto Superior de Medicina (ISMD).
Vale ressaltar também que a bula do Ozempic já indica que o tratamento deve ser feito "em conjunto com dieta e exercícios". A manutenção desses hábitos é ideal para que, quando o paciente fizer o desmame da medicação, ele não recupere o peso perdido.
Dose certa para a obesidade
Médicos que receitam Ozempic para tratamento de obesidade, logo não precisarão mais recorrer a essa prescrição fora da bula. Isso porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já liberou a comercialização do Wegovy, medicação com o mesmo princípio ativo, mas com dosagem indicada para quem precisa emagrecer.
Também comercializado pela Novo Nordisk, o remédio deve começar a ser vendido no Brasil ainda no segundo semestre deste ano.
Alerta das entidades médicas
Toda a discussão sobre o uso da semaglutida tem preocupado a comunidade médica. Em nota conjunta enviada à imprensa, a Associação Brasileira para o estudo da Obesidade (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) defendem a segurança e eficácia de medicamentos para obesidade aprovados pela Anvisa, caso da semaglutida.
"É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança", diz o texto, ao reforçar que tais medicamentos "não devem ser condenados".
"O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade", lembram as entidades.