O Dia Mundial do Sono é uma oportunidade para pensarmos sobre a importância de dormir bem. Afinal, não há nada como uma boa noite de sono. Infelizmente, a maior parte dos brasileiros não sabe o que é dormir bem. Segundo dados coletados por pesquisadores da USP e UNIFESP, 65% da população do país relata problemas para dormir, o que pode ter impactos desastrosos na saúde.
"A qualidade de sono é um dos grandes pilares da medicina do estilo de vida. O ideal é dormir consistentemente de sete a oito horas por dia. Fugir desses valores é colocar a saúde em risco. Irritabilidade, dificuldade de concentração e cansaço durante o dia podem ser sinais de que você não está dormindo o bastante ou seu sono não está sendo reparador, mesmo se você tem a impressão que dormiu tempo suficiente", explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Mas de que forma exatamente a falta de sono afeta a saúde? Um time de especialistas ajudou a responder essa questão. Confira:
Sono de má qualidade favorece o ganho de peso
Dormir bem é fundamental para manter o peso sob controle. "O papel do sono na saúde metabólica é objeto de estudo há anos. Para muitas pessoas, a quebra do padrão normal do sono resulta invariavelmente em ganho de peso e problemas fisiológicos. Graves perturbações da ordem temporal, bioquímica, fisiológica e dos ritmos comportamentais mexem também com a expressão de alguns genes que regulam nossas vias metabólicas e nossos hormônios. Muitos pacientes que enfrentam mudanças nesse ciclo não conseguem seguir um plano alimentar. Eles também têm maior carga de estresse e impulsos alimentares", afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Também reduz a fertilidade
Dormir mal de maneira contínua pode interferir na fertilidade. "O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula presente no cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários e dos testículos. Logo, quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade, essa glândula não funciona da maneira como deveria. Consequentemente, isso interfere na fertilidade", explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime.
Um sono ruim interfere na saúde dos rins
As horas mal dormidas podem interferir no bom funcionamento dos rins. "Pesquisas mostram que dormir poucas horas por noite aumenta o risco de perda da função renal. Mulheres que dormem 5 horas ou menos por noite, por exemplo, têm um aumento de 65% de chances de sofrerem rápido declínio das funções renais se comparadas àquelas que dormem 7 ou 8 horas", explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
"As evidências sugerem que os distúrbios do sono afetam o desenvolvimento da doença renal. Possivelmente, como resultado do meio inflamatório e da ativação simpática que ocorrem no leito vascular renal. Isso danifica estruturas como a membrana basal glomerular e o aparelho tubular renal, partes anatômicas importantes para a filtração do sangue", acrescenta a médica.
Também aumenta a predisposição a doenças cardiovasculares
O coração e a circulação também sofrem impactos do sono inadequado. "Um sono curto e sem qualidade pode aumentar o risco de desenvolvimento de quadros de hipertensão e arritmias cardíacas. Isso porque não há a liberação suficiente dos hormônios cortisol, adrenalina e noradrenalina, levando a complicações cardíacas", afirma a Dra Marcella Garcez.
Além disso, dormir mal prejudica a pele
Uma boa noite de sono é fundamental para uma pele saudável e bonita. "Durante o sono ocorre um relaxamento muscular, que evita as rugas de expressão pela mímica facial durante o dia, e a liberação de substâncias como o hormônio do crescimento (GH), que é responsável pelo desenvolvimento e renovação celular, inclusive das células de colágeno, que são fundamentais para a firmeza e viço da pele", explica a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
"Uma noite mal dormida, além de diminuir a produção de colágeno, pode aumentar a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol, com consequente aumento de radicais livres, oxidação das células da pele e aceleração do processo de envelhecimento cutâneo", destaca a profissional
Como dormir melhor?
Para prevenir esses problemas, não basta apenas dormir bastante. Afina, é preciso que o sono seja de qualidade. "Se mesmo após 7 ou 8 horas os sintomas forem de cansaço e sonolência pode ser que a qualidade do sono esteja ruim, sendo importante então investir em alguns cuidados para melhorar esse quadro, como exercitar a higiene do sono", explica a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
"A higiene do sono consiste, basicamente, em adotar uma rotina que avisará o cérebro que está na hora de dormir. Então tome um banho, coloque um pijama, cuide da pele, escove os dentes, apague a luz e deite-se na cama. Enquanto isso, seu cérebro gerará sinais para que o organismo passe a produzir hormônios reguladores do sono, como a melatonina e a serotonina, e pare de produzir hormônios de alerta, como o cortisol. Mas evite utilizar qualquer tipo de equipamento eletrônico uma hora antes de dormir, seja o celular, o tablet ou a televisão, pois a luz azul emitida por dispositivos pode desestabilizar a produção de melatonina, interferindo assim na qualidade do sono", recomenda a médica.
E se nada der certo?
Mas se seu sono continuar ruim mesmo, é interessante consultar um médico para verificar se existe alguma condição que está impedindo que você durma adequadamente. É muito comum, por exemplo, que pessoas que possuem deformidades do nariz e problemas nos seios da face tenham dificuldade para dormir por conta dos problemas respiratórios e do ronco.
"Nesses casos, é possível realizar uma rinoplastia associada à septoplastia para corrigir essas deformidades nasais que dificultam a respiração, prejudicam o sono e atrapalham a qualidade de vida do paciente", afirma o Dr. Paolo Rubez, cirurgião plástico, membro da BAPS (Brazilian Association of Plastic Surgeons) e da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS).
"Mas, antes de optar por um procedimento no nariz, é importante conversar com o médico especialista para a indicação correta do melhor tratamento para o seu caso", finaliza o médico.