Dormir de conchinha pode ser ainda melhor do que parece. Além do contato próximo com quem se ama, o hábito pode trazer benefícios para a qualidade do sono e, consequentemente, para a saúde de cada parte do casal.
Segundo um estudo publicado na revista Frontiers in Psychiatry, dormir de conchinha pode aumentar em até 10% o tempo de sono no estágio conhecido como "movimento rápido dos olhos" (REM, da sigla em inglês), no qual uma pessoa dorme mais profundamente, sonha e consolida memórias e aprendizados. Como resultado, o casal passa mais tempo dormindo e tem um descanso mais reparador.
O hábito também oferece vários benefícios para a saúde mental, como:
- Níveis mais baixos de depressão;
- Níveis mais baixos de ansiedade;
- Níveis mais baixos de estresse;
- Menor risco de apneia do sono;
- Menor gravidade da insônia;
- Maior satisfação com a vida e os relacionamentos.
Não é só a conchinha
O mesmo vale para outros encaixes na hora de dormir, como ficar de mãos dadas ou encostar apenas os pés. Isso porque não é a posição que gera os benefícios, mas a presença do parceiro, que causa segurança, fortalece o vínculo afetivo e permite o toque.
Para Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o hábito de dormir junto a um companheiro toca em aspectos psicológicos e fisiológicos. A segurança que o casal sente se enquadra no primeiro aspecto e diminui o nível de estresse de ambos, facilitando o estado de relaxamento. "Do ponto de vista fisiológico, a presença traz a elevação de alguns hormônios, como a ocitocina, que gera uma sensação de tranquilidade e paz, menos ansiedade e também maior conexão emocional", explica.
Além disso, dormir de conchinha ou próximo ao parceiro pode ajudar a regular a temperatura do corpo, especialmente em dias mais frios, o que também contribui para o relaxamento e o sono de qualidade.
Em geral, esses benefícios são resultado apenas da interação entre casais. Quando compararam a noite de sono com um parceiro, com um filho ou com um pet, pesquisadores notaram que dormir em casal é que faz a diferença. Nos outros casos, estar acompanhado pode ter o efeito oposto, atrapalhando a qualidade do descanso.
Segundo Márcia Assis, neurologista e vice-presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS), os arranjos que um casal faz para dormir junto também são importantes para que tenham uma rotina de sono. Isso inclui decidir um horário em comum, deitar ao mesmo tempo, apagar a luz e ter um momento preparatório para dormir.
Essas estratégias fazem com o corpo saiba distinguir o horário de descanso daquele de despertar e auxiliam na qualidade do sono e na saúde. Não à toa, criar uma rotina para dormir faz parte da orientação de especialistas da área. "É especialmente importante nos dias de hoje, em que muitas pessoas usam celular perto do horário de descansar", afirma Márcia.
O que importa é o sono
Mas há quem não consiga dividir a cama com outra pessoa, mesmo que seja seu parceiro romântico. Nesse caso, dormir separado pode ser mais saudável. Inclusive, muitos casais preferem até ter seu próprio quarto.
Em geral, dois parceiros encontram dificuldades para dormir juntos quando existe algum distúrbio do sono envolvido. Por exemplo: o ronco, a apneia do sono e a insônia, que podem atrapalhar o descanso do outro membro do casal. "Lembrando que todas essas condições podem e devem ser tratadas", alerta Márcia. Depois de resolvê-las, é possível que o casal volte a dormir junto.
Mas, enquanto esses problemas persistem, dividir a cama e o quarto pode até trazer danos à saúde. Isso porque a recomendação para um adulto é de sete a nove horas de sono por noite e, quando esse tempo de descanso não é atingido, a pessoa é prejudicada durante o dia. Uma noite mal dormida pode levar a:
- Sonolência;
- Maior risco de sofrer um acidente;
- Irritação;
- Instabilidade do humor;
- Prejuízo à memória;
- Danos à atenção e à concentração.
Além de prejudicar o desempenho nos estudos, no trabalho e nas relações sociais, a falta de sono de qualidade a longo prazo também pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas. Por isso, os especialistas orientam o diálogo entre o casal, balanceando as vantagens e desvantagens de dormir junto. "É importante que eles conversem entre si, que seja consensual e que isso não afete a intimidade e a conexão entre o casal. Consequentemente, ambos vão ter um padrão de sono satisfatório e um relacionamento mais feliz", conclui Kanomata.