O deputado estadual de São Paulo Eduardo Suplicy revelou recentemente que recebeu o diagnóstico para Parkinson. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o petista de 82 anos afirmou que a doença foi detectada em estágio inicial, com sintomas leves, no fim do ano passado. Agora, ele está tratando a doença com cannabis medicinal (ou canabidiol, o CBD).
Suplicy disse que importou um vidro de Cannabis industrializada em fevereiro. Ele toma cinco gotas do remédio no café da manhã, outras cinco à tarde e mais cinco à noite. Além disso, o medicamento Prolopa, receitado pelos médicos, também faz parte do seu tratamento.
CBD no tratamento do Parkinson
O Parkinson é uma doença neurológica que afeta os movimentos do paciente, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita.
Para o neurologista Dr. Flavio Geraldes Alves, Presidente da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC) e consultor médico da NuNature Labs, o uso da cannabis medicinal pode ter um impacto positivo na vida de pacientes com doenças degenerativas, como o Parkinson, em diversos aspectos.
Segundo ele, o CBD inclui a possibilidade de melhoria dos sintomas motores, ajudando a reduzir os tremores, a rigidez muscular e a lentidão de movimentos. Isso se dá principalmente através do alívio dos sintomas não-motores (como a dor, depressão e insônia) e da melhora da qualidade de vida como um todo.
O neurologista explica que a cannabis atua no tratamento do Parkinson através da ação dos canabinóides no sistema endocanabinoide, um sistema de sinalização presente em todo o corpo humano. "Os canabinóides são substâncias que se ligam aos receptores canabinóides, presentes nas células nervosas. Quando isso ocorre, eles desencadeiam uma série de efeitos, como a redução da inflamação e do estresse oxidativo", afirma.
De acordo com o médico, esses são fatores que contribuem para a progressão da doença. Isto é, a proteção das células nervosas produtoras de dopamina, que são as células afetadas pelo Parkinson, e a tentativa de regulação da função motora, através da ativação de receptores canabinóides no cérebro. Além disso, o CBD alivia os sintomas não-motores da doença, como dor, depressão e insônia.
A cannabis não é capaz de curar a doença
Flavio destaca que a cannabis medicinal não é capaz de regredir a doença, mas pode ajudar a melhorar os sintomas e a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, ele aponta que a substância é contraindicada para gestantes e lactantes, bem como para pacientes com histórico de psicose e com arritmia cardíaca.
De acordo com o neurocirurgião especialista em Parkinson Dr. Bruno Burjaili, alguns grandes estudos mostram que os sintomas motores associados à doença, não têm respondido aos medicamentos canabinóides. Além disso, pesquisas menores sugerem o uso de THC em altas doses para controle do tremor. No entanto, é preciso levar em consideração possíveis efeitos colaterais.
O médico reforça que o CBD atua aliviando os sintomas não-motores, tais como dor, alterações de sono e alterações de humor. "Porém, as evidências na literatura médica são bastante preliminares e ainda inconsistentes. Desse modo, mesmo que seja possível tentar esse tipo de tratamento para situações muito especiais, devemos considerar que o valor financeiro pode ser alto e o grau de certeza sobre seu efeito ainda é baixo", analisa o profissional.
Para o Dr. Bruno Burjaili, o tratamento com cannabis medicinal somente deve ser considerado quando todos os demais tratamentos tiverem sido tentados ou, no mínimo considerados, e não tiverem conquistado o efeito desejado, ou quando essa tentativa for proibitiva por alguma característica clínica específica do paciente.
Vale lembrar que, além do CBD, Suplicy utiliza o remédio Prolopa para tratar o Parkinson. "É comum que pacientes com Parkinson tomem mais de um medicamento para controlar os sintomas da doença. O Prolopa (levodopa e cloridrato de benserazida) é um medicamento que ajuda a aumentar os níveis de dopamina no cérebro. A cannabis medicinal, por sua vez, pode ajudar a melhorar principalmente os sintomas não-motores da doença, como dor, depressão e insônia", enfatiza.