A designer Andrea Riane Rocha (59 anos) está na fila para transplante de córneas pela segunda vez. Em decorrência de estresse e de outros fatores clínicos, ela precisará repetir o procedimento, já que está com a visão comprometida novamente. Ela não é a única a encarar esta espera.
Segundo o Ministério da Saúde, só em 2022, foram realizadas quase 14 mil cirurgias para reposição de córnea no Brasil. A taxa de rejeição do procedimento, porém, é alta – cerca de 15% -- e, ainda que os transplantados voltem a enxergar com uma nova operação, as chances diminuem a cada transplante.
A córnea fica localizada na parte anterior do globo ocular (na frente do olho). É um tecido fino, delicado e transparente que faz com que enxerguemos com nitidez.
Andrea conta que, na primeira vez, ficou na fila por cerca de 3 anos. Na época, ela tinha 40 anos e a operação ocorreu normalmente. "Fui fazer uma cirurgia para correção de vista e o médico detectou que eu tinha ceratocone (condição que faz com que a córnea projete-se para a frente, formando uma saliência e comprometendo a visão). Esperei durante alguns anos e durante o tempo de espera praticamente só enxergava de um olho”, detalha.
Enquanto aguardava o primeiro transplante, Andrea relembra que sofreu com coisas que, para muitos, são banais, como pegar um ônibus, por exemplo. "Eu cheguei a sofrer bullying e recebi apelidos na infância. Eu batia e tropeçava em tudo, era motivo de piada por não conseguir enxergar bem".
Agora a situação está mais “controlada”. Por situações de estresse e desgaste físico, ela precisou entrar na fila de transplante novamente, no final do ano passado. "Tenho que visitar o médico de mês em mês. Por sorte, agora a visão está mais estabilizada. Ainda assim, gasto uma fortuna com colírios e fico imaginando como fica quem não tem dinheiro para os remédios", diz.
Além dela, por conta de um acidente, o irmão de Andrea também precisou entrar na fila de transplante. "Ficar sem enxergar piora muito a qualidade de vida”, garante a designer.
Novidades no Brasil
Mais recentemente pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram a 1ª córnea artificial 100% nacional, que se chama ceratoprótese. A intenção com a prótese é ampliar acesso ao tratamento, combater o índice de rejeição aos órgãos transplantados e, também, diminuir a dependência de materiais importados.
A córnea artificial é feita de material biocompatível, polímero de acrílico (PMMA) e titânio 3D impresso. “Não há cura para cegueira e ainda não temos essas ceratopróteses disponíveis para fornecer aos pacientes. Para que isso se torne realidade, precisamos do apoio das agências fomentadoras”, diz Paulo Schor, um dos líderes da pesquisa.
Além disso, os pesquisadores frisam que o uso da prótese não substitui o transplante do órgão e deve ser considerada apenas um complemento. Este tipo de solução é recomendado para uma pequena parcela dos pacientes, que têm prognóstico de transplante de córnea.