Embolização de artéria meníngea média: entenda novo procedimento que será feito em Lula

Objetivo é bloquear o fluxo sanguíneo e evitar formação de novos hematomas; equipe diz que procedimento já estava previsto

11 dez 2024 - 19h09
(atualizado às 22h24)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve passar por uma nova cirurgia na manhã desta quinta-feira, 12. Segundo a equipe médica, o procedimento já estava previsto como parte complementar à trepanação realizada na madrugada de terça-feira, 10.

O anúncio de que Lula será submetido a uma embolização da artéria meníngea média foi feito por meio de um boletim divulgado na tarde desta quarta-feira, 11. Em seguida, o cardiologista e médico pessoal do presidente, Roberto Kalil Filho, conversou com jornalistas em frente ao Hospital Sírio-Libanês, onde Lula está internado, e deu mais informações sobre o procedimento.

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Kalil afirmou que a embolização estava planejada. Depois, declarou que a decisão final foi tomada nesta quarta-feira. "A necessidade é avaliada conforme a evolução do paciente", disse.

O médico descreveu o procedimento como uma espécie de cateterismo, com o objetivo de reduzir o risco de novos sangramentos. "É uma cirurgia simples, sem grandes riscos", declarou.

Quadro de Lula está associado à queda sofrida pelo presidente em banheiro do Palácio da Alvorada, em outubro deste ano
Quadro de Lula está associado à queda sofrida pelo presidente em banheiro do Palácio da Alvorada, em outubro deste ano
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO / Estadão

O neurologista Diogo Haddad, chefe do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explicou que a embolização da artéria meníngea média é um procedimento preventivo para evitar novos sangramentos relacionados a hematomas subdurais (entre a cabeça e o crânio), como o que acometeu o presidente.

Segundo Haddad, a realização da embolização não indica, necessariamente, piora no quadro clínico. "Pode ser uma medida preventiva e protocolar para garantir o controle eficaz do sangramento e minimizar o risco de recorrência do hematoma. É uma estratégia complementar para otimizar os resultados do tratamento."

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O ressurgimento dos hematomas é uma questão com estatísticas preocupantes, segundo a neurologista Sheila Martins, chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento. De acordo com estudo divulgado no periódico da American Heart Association, a taxa de recorrência após trepanação, cirurgia feita pelo presidente, varia de 5% a 30%.

"A embolização é uma técnica que, recentemente, ficou comprovada em estudos internacionais como muito eficaz para reduzir essa recorrência", afirmou Sheila.

O procedimento é realizado com o paciente sob anestesia. Um cateter fino é inserido em uma artéria, geralmente na virilha, e guiado até a artéria meníngea média no cérebro com auxílio de imagens de raios-X em tempo real.

"Uma vez em posição, materiais embolizantes, como espirais de platina ou adesivos líquidos, são liberados para bloquear o fluxo sanguíneo na artéria alvo, controlando o sangramento e prevenindo novos hematomas", detalhou Haddad.

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Após o procedimento, o paciente pode necessitar de observação em hospital por um ou dois dias. Já a recuperação completa pode variar de algumas semanas a meses, com a necessidade de evitar atividades intensas. "Geralmente, o paciente pode retornar gradualmente às atividades cotidianas, dependendo do progresso individual."

Kalil acrescentou que o presidente deve permanecer as 48 horas já previstas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Segundo ele, a decisão de realizar a cirurgia nesta quinta-feira não é emergencial. "Vamos aproveitar a retirada do dreno — uma espécie de 'bolsa' fixada à cabeça para drenar o sangue acumulado —, que já estava programada, para realizar o novo procedimento", afirmou o cardiologista.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, embora a embolização seja um recurso previsto nesse tipo de tratamento, provavelmente não serão necessários novos procedimentos. "Mas, obviamente, se tratando de um caso neurocirúrgico, eventualmente pode acontecer uma piora do quadro ou ressangramento, fazendo necessária uma nova abordagem", disse Letícia Rebello, neurologista do Hospital Brasília.

Além do anúncio sobre o procedimento, o novo boletim médico informou que Lula passou o dia bem, sem intercorrências, realizou fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares.

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Hematoma subdural e cirurgia de trepanação

Na madrugada da última terça-feira, 10, o presidente foi diagnosticado com um hematoma subdural, um acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio, e precisou passar por uma cirurgia de emergência. A condição foi identificada após exames de imagem realizados devido a fortes dores de cabeça.

Em coletiva de imprensa no mesmo dia, a equipe médica responsável pelos cuidados de Lula informou que o quadro estava diretamente relacionado à queda sofrida pelo presidente no banheiro do Palácio da Alvorada, que resultou em uma lesão na cabeça.

"Com os exames de rotina, conseguimos observar a evolução do hematoma, que até então só apresentava sinais de redução", contou Kalil na ocasião. A expectativa era de que o sangue proveniente do impacto em outubro fosse reabsorvido espontaneamente com o tempo. No entanto, houve um episódio de sangramento repentino e de grande volume, o que resultou na formação de um hematoma de cerca de 3 centímetros.

"Em alguns casos, o sangramento é intermitente: há uma pequena perda de sangue, seguida de melhora, e assim por diante. Já em outros casos, o sangramento pode se intensificar de forma abrupta e repentina, expandindo rapidamente, e o cérebro não consegue se adaptar, o que gera sintomas como dor de cabeça intensa. Foi o que aconteceu nesse caso", explicou o neurocirurgião Marcos Stavale, que também integra a equipe médica de Lula.

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Como tratamento, o presidente precisou passar por uma trepanação, procedimento em que há perfuração do crânio com o objetivo de acessar o espaço intracraniano. A técnica é utilizada no tratamento de diversas condições neurológicas e, no caso do presidente, o objetivo foi drenar o acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio.

"O hematoma não atingiu diretamente o cérebro, mas, por estar localizado entre essas duas áreas, causava uma compressão cerebral que, se mantida, poderia resultar em complicações", explicou Kalil. Ele ressaltou ainda que, por não haver envolvimento direto do cérebro, o quadro de Lula não envolve risco de sequelas.

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