Especialistas elogiam inclusão da Coronavac em plano federal

Acréscimo de mais populações vulneráveis nos grupos prioritários foi outro ponto positivo

16 dez 2020 - 22h34
(atualizado às 22h48)

O plano de imunização nacional contra o novo coronavírus divulgado na manhã desta terça-feira, 16, pelo governo federal foi avaliado como "eficiente" e "dentro do previsto" por especialistas ouvidos pelo Estadão, mesmo que ainda não tenha uma data para começar. A cerimônia de apresentação, entretanto, foi alvo de críticas pelo não cumprimento das medidas de segurança contra o vírus, como uso de máscara e distanciamento social.

Nesta quarta-feira, Pazuello citou que outros países, como o Reino Unido, também exige esse tipo de termo de consentimento da população que será vacinada
Nesta quarta-feira, Pazuello citou que outros países, como o Reino Unido, também exige esse tipo de termo de consentimento da população que será vacinada
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

"Foi um péssimo exemplo para a população. Um evento presencial, que não precisava, com a maior parte dos representantes do governo sem máscara, cantando aglomerados, sem espaçamento, como se fosse 'vida normal'. Quase dava para ver as gotículas contaminadas voando por ali", avalia Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).

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Ela aponta, entretanto, que esta foi a primeira vez em que o governo federal considera a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantã em parceria com a chinesa Sinovac, no plano. "Esse foi o ponto alto do evento. Finalmente se referem à Coronavac como 'a vacina do Butantã' e colocam o instituto como um fornecedor de vacinas para o Ministério da Saúde, como sempre foi."

Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri acredita que o governo não teria como estipular uma data de início para a imunização agora. "Ainda não temos vacinas licenciadas e nem submetidas a registro. Esse é um plano anterior, obviamente, e preparatório como deve ser. Mas o plano técnico está bem desenhado, as populações vulneráveis foram bem destacadas e as orientações do corpo técnico incorporadas."

Kfouri acredita que a previsão de 350 milhões de doses apresentada no plano seria o necessário para imunizar todos os brasileiros acima dos 18 anos. "Agora, esse é um desejo. Vamos ver se as vacinas se mostram eficazes e atendem o cronograma estipulado. Precisaremos acompanhar a produção."

Depois do plano preliminar apresentado na última semana, a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Plano Nacional de Imunizações, interpretou o tom comedido do presidente Jair Bolsonaro durante a apresentação como um avanço, assim como o escopo apresentado. "Vejo a grande importância de o governo decididamente assumir que vai comprar a vacina do Butantã. Com a presença dos governadores, independente dos partidos, parece ter havido uma união importantíssima para que a campanha de vacinação seja exitosa e o próprio discurso do presidente amenizou as críticas à vacina. Esperamos que esse seja o discurso daqui pra frente."

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Outro ponto importante que Carla frisa é o planejamento de comunicação apresentado pelo governo. "Ele sequer era citado na apresentação anterior. A questão do sistema de informação também, que era vaga e agora estabelece que a população precisará se inscrever no SUS. Esse não é um plano final, mas é mais claro que antes. Precisamos acompanhar para ver como essa evolução."

O sentimento é compartilhado Wilames Freire, presidente do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que havia se reunido na semana anterior com o governo para cobrar uma unidade federal na aquisição e distribuição das vacinas. "Havia uma corrida de Estados atrás de São Paulo para garantir a vacina, enquanto a população mais humilde estava à margem do processo. Acho que isso coloca um ponto final nessa disputa política e o governo se coloca um posicionamento forte de liderar essa campanha."

Freire acredita que o registro de qualquer vacina junto à Anvisa não ultrapasse o limite de 72 horas, graças à lei que libera a aplicação de um imunizante no Brasil quando este tiver aprovação de uma entre quatro agências reguladoras internacionais. "O que temos de focar agora é na organização dos insumos, como seringas, agulhas e os EPIs necessários para os municípios terem a condição necessária de fazerem o trabalho. A Anvisa vem acompanhando todas as etapas da Fiocruz e do Butantã, então não terá muita dificuldade [no registro]."

Virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio da Fonseca observa que a campanha de vacinação contra o coronavírus é "sem antecedentes" na história do País e, apesar de reconhecer a qualidade técnica do plano apresentado, lamenta que ele tenha sido feito às pressas. "Ele foi gerado a partir de exigências que não deveriam ser feitas, da sociedade e do poder judiciário. O governo deveria ter trabalhado nisso há mais tempo e não por pressão da crítica pública. Se vai funcionar ou não, não sabemos."

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