Desde o início da pandemia de Covid-19, entre o final de 2019 e o início de 2020, a vida de todas as pessoas mudou. Durante o período em que ainda não existiam vacinas para controlar a transmissão do coronavírus, quase todos precisaram se manter em quarentena, por meses e meses.
Medida necessária para evitar que o número de mortes por Covid-19 continuasse a subir descontroladamente. Mas, que também nos deixou sequelas físicas e psicológicas. E entre as crianças diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), o prejuízo parece ter sido maior ainda.
De acordo com um estudo de coorte transversal feito na Espanha, para avaliar o impacto da Covid-19 sobre as crianças e adolescentes com TDAH durante a primeira onda de isolamento social, 70% das crianças e adolescentes de 7 a 12 anos com TDAH apresentaram distúrbios do sono. Enquanto 54% tiveram sintomas de ansiedade e 9% sintomas depressivos
Um outro estudo, publicado pela Revista Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, que entrevistou 40 cuidadores de crianças com TDAH, demonstrou um maior agravamento de ansiedade e na tolerância à frustração.
"Nesse período de pandemia, notamos que muitos pais ou responsáveis perderam seus postos de trabalho e sentiram dificuldade em manter o acompanhamento interdisciplinar dos pacientes. Seja porque não havia na rede pública um acompanhamento online ou porque os responsáveis não tinham condições financeiras para dar continuidade ao tratamento", observa a neuropsicóloga, Dra. Alessandra Bernardes Caturani, coordenadora do Núcleo de Avaliação Interdisciplinar da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC).
Entenda o TDAH
E hoje, 13 de julho, é o Dia Mundial do TDAH. Uma data simbólica, criada, justamente, para conscientizar as pessoas sobre o problema.
"O TDAH é um transtorno multifatorial, de alta frequência e grande impacto sobre o portador, sua família e a sociedade. É caracterizado por dificuldade de atenção, hiperatividade e impulsividade que podem combinar-se em graus variáveis, tendo início na primeira infância e podendo persistir até a vida adulta", completa o Dr. Rubens Wajnsztejn, médico neurologista da Infância e da Adolescência, ex-presidente e atual diretor da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI).
Sintomas
Tanto em crianças e adultos, como já se deve imaginar, o transtorno se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
Na infância, geralmente, os pequenos são tidos como avoados e desatentos. Além disso, segundo a Associação Brasileira do Deficit de Atenção (ABDA), esses indivíduos com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como, por exemplo, algumas dificuldades com regras e limites.
Porém, segundo o Dr. Paulo Sampaio, neuroftalmologista e diretor médico do Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem, mesmo com sintomas aparentes, como agitação incansável dos menores, são raras as crianças com menos de 6 anos encaminhadas para avaliação pelos pediatras ou pelos pais.
"Normalmente, a criança começa a ter dificuldade de aprendizado e acompanhamento escolar a partir dos 6 anos. Dessa forma, a própria escola - professora ou orientadora pedagógica - pede para que os pais do aluno o levem para uma avaliação médica e multiprofissional", explica.
Já em adultos, geralmente, ocorrem problemas de desatenção em relação ao cotidiano e a vida profissional, bem como a falha na memória. De acordo com ABDA, são inquietos, fazem diversas coisas em simultâneo, e também apresentam impulsividade.
Ademais, possuem uma grande frequência de outros problemas associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.
Tratamentos
Sampaio explica que é recomendado evitar o início do tratamento medicamentoso com base em uma única consulta médica, onde os responsáveis respondem um "questionário diagnóstico" baseado em algo que não tem valor legal no Brasil, o DSM-V (Manual de Doenças Mentais da Academia Americana de Psiquiatria).
"Uma vez excluída, de fato, qualquer doença que possa simular o TDAH, tem início o tratamento", clarifica. O Neurologista e/ou o Psiquiatra podem escolher entre os diversos medicamentos hoje existentes no mercado, de acordo com as características de cada paciente, claro.
Dessa forma, muitas vezes são necessárias associações de remédios ou elaboração de fórmulas. "Além do tratamento medicamentoso, somos obrigados a recuperar o atraso na escolarização (apoio Psicopedagógico), ajudar psicologicamente o paciente e a família (apoio Neuropsicológico) e corrigir as alterações sensoriais decorrentes do período em que o indivíduo não estava diagnosticado", esclarece Sampaio.
Além disso, os medicamentos podem ser associados a acupuntura, que traz o benefício da redução da dose necessária - ou, em alguns casos, a suspensão total. De acordo com Luciano Curuci, médico acupunturista e presidente do Colégio Médico de Acupuntura do Estado de São Paulo, em casos de crianças, a acupuntura pode ser aplicada de forma sistêmica convencional, com agulha sendo usadas de forma clássica, ou em alguns casos pode se optar por técnicas de microssistemas, como a auriculoacupuntura e a craniopuntura de Yamamoto (YNSA).
Dessa forma, segundo Curuci, com ou sem tratamento, a doença tende a reduzir os efeitos com a maturação neuronal. "Casos graves permanecem na idade adulta e se não tratados buscam conforto nas drogas psicoativas, que simulam os efeitos dos medicamentos usados no TDAH", clarifica.
E para finalizar, lembre-se que essa matéria não tem valor de diagnóstico. Vale ressaltar que cada pessoa é singular e pode apresentar diferentes sintomas e causas. Apenas um especialista poderá analisar o caso corretamente e traçar a melhor estratégia para solucionar o problema.