Exame de sangue pode detectar Alzheimer 20 anos antes

Cientistas desenvolveram técnica para identificar a doença precocemente e com precisão pelo sangue, o que pode levar a diagnóstico laboratorial acessível da doença

29 jul 2020 - 11h26
(atualizado às 11h49)

Uma técnica que detecta no sangue pequenas quantidades de uma proteína fragmentada, ligada à doença de Alzheimer, pode levar a um exame simples que possibilita o diagnóstico anos antes de aparecerem os sintomas. O estudo foi publicado na terça-feira, 28, na revista científica Journal of Experimental Medicine e apresentado no mesmo dia na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer em Chicago (EUA).

Terapia felina - O gatinho Donny é muito dócil e amoroso. Adotado pela americana Susan Smith, esse gato fofo atuou como 'terapeuta' da mãe dela, que fazia tratamento contra um câncer no pulmão. Os serviços do felino foram estendidos para pacientes com Alzheimer e demência. Confira aqui.
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Foto: Instagram/blossom_and_her_family / Estadão Conteúdo

Pesquisadores de quatro países liderados pela Universidade de Lund, na Suécia, observaram que os níveis da proteína P-tau-27, abundante no sistema nervoso central e no sistema nervoso periféricos, aumentam durante as etapas iniciais do Alzheimer. Eles estimam que o método, baseado nesta proteína, poderia detectar as mudanças cerebrais até 20 anos antes de aparecerem os sintomas da doença.

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O diagnóstico do Alzheimer por exame de sangue é uma descoberta muito aguardada pela comunidade médica mas. Para essa técnica ser usada clinicamente, o estudo precisa passar por mais etapas de pesquisa e ser validado em testes com diversas populações.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença é a forma mais comum de demência e representa entre 60 e 70% de todos os casos de síndromes envolvendo deterioração memória, pensamento, comportamento e a capacidade para realizar atividades diárias.

No mundo, há aproximadamente 30 milhões de pessoas afetadas pela enfermidade. Perceptível com mais frequência em pessoas acima de 65 anos, a condição começa antes em cerca de 5% dos casos. O tempo médio de vida do paciente com a doença vai de três a nove anos e o atendimento a esta população é um dos tratamentos mais caros da medicina nos países desenvolvidos.

"Existe uma necessidade urgente de ferramentas que sejam simples, de baixo custo e não invasivas para o diagnóstico da doença", disse Maria Carrillo, cientista e porta-voz da Associação de Alzheimer dos Estados Unidos. "A possibilidade de uma detecção precoce, que permita intervir com tratamento antes que a doença cause perdas significativa no cérebro, seria uma grande mudança para os pacientes, as famílias e nosso sistema de saúde", acrescentou.

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A doença de Alzheimer é caracterizada pela presença de placas, que formam no cérebro uma proteína chamada amilóide B e a aglomeração da proteína tau. Esta é responsável por formar "nós" de fibras nos neurônios dos pacientes.

Atualmente, as mudanças cerebrais que acontecem antes da manifestação de sintomas podem ser vistas somente em tomografia por emissão de pósitrons (conhecida pela sigla em inglês, PET) ou medindo as proteínas amilóide e tau no líquido na medula espinhal.

Esses métodos são caros, invasivos e geralmente não são acessíveis por quem não tem plano de saúde.

Os cientistas envolvidos na pesquisa já haviam descoberto que um fragmento modificado da proteína tau, conhecido como P-tau-217, se acumula no líquido da espinha (também chamado de líquor ou líquido cefalorraquidiano) dos pacientes antes que apareçam os sintomas cognitivos. Esse fragmento aumenta o progresso da doença e pode prever com precisão a formação de placa amilóide.

Os pesquisadores também estimaram que a P-tau-217 poderia ser encontrado no sangue de pacientes com Alzheimer, embora em níveis muito baixos que dificultariam a detecção. A equipe desenvolveu um método baseado em espectrometria de massa para medir a quantidade desse fragmento e outros da proteína tau em apenas 4 mL de sangue, mesmo que as amostras sejam tão pequenas e contenham menos de um bilionésimo de grama de P-tau-217.

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Os cientistas encontraram que, igual como ocorre com os níveis deste fragmento no líquor, os níveis de P-tau-217 no sangue eram muito baixos em voluntários saudáveis, mas se mostravam mais elevados em pacientes com placas amiloides, mesmo naqueles sem sintomas cognitivos. / Com EFE

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