Fiocruz irá coordenar pesquisas de tratamentos para covid-19

No País, vão participar 18 hospitais de 12 estados, com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde

27 mar 2020 - 12h08
(atualizado às 12h20)

A Fiocruz vai coordenar no Brasil os esforços mundiais para investigar a eficácia de quatro tratamentos contra a covid-19, entre eles a cloroquina e hidroxicloroquina, usadas contra a malária e que se mostrou promissora em alguns testes iniciais, ainda feitos com poucas pessoas no mundo. Os testes farão parte do ensaio clínico Solidariedade (Solidarity), lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) há uma semana.

No País, vão participar 18 hospitais de 12 estados, com o apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.

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De acordo com a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, os medicamentos que o estudo clínico apontar como os mais adequados à doença poderão ser produzidos em Farmanguinhos, a fábrica de remédios da Fiocruz.

A fundação também iniciou a construção de uma nova estrutura para ajudar os governos estadual e municipal a combater a doença. O Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19 - Instituto Nacional de Infectologia terá 200 leitos exclusivos de tratamento intensivo e semi-intensivo de pacientes graves infectados pelo novo coronavírus. Cem devem ser oferecidos nos próximos 100 dias e o resto depois.

Para o teste clínico, serão testadas também as drogas: remdesivir; uma combinação de dois medicamentos para o HIV, lopinavir e ritonavir; e a mesma combinação mais interferon-beta, um mensageiro do sistema imunológico que pode ajudar a paralisar vírus.

"Ameaças globais exigem respostas e colaboração globais. Vimos que existem vários ensaios clínicos em andamento ou que vão começar, mas a maioria com um número limitado de pessoas. O risco é de não conseguir dar a resposta para a pergunta: que remédios funcionam e quais não funcionam. Este estudo vai ser conduzido em vários países, com a proposta de ter um grande número de voluntários e ter uma resposta rápida", diz a diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Valdiléa Veloso.

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Segundo Valdiléa, o ensaio vai ter uma análise dinâmica. Pacientes internados com a doença nesses 18 hospitais serão convidados a participar e vão receber uma das drogas do ensaio. Tão logo haja resultados suficientes, se uma droga não se mostrar adequada, será retirada do teste. Assim como uma droga que se mostrar mais promissora, poderá já ser incorporada nos tratamentos. A expectativa é que 1.200 pacientes participem no Brasil.

Sobre a recomendação que o Ministério da Saúde já fez para o uso da cloroquina e hidroxicloroquina mesmo sem ainda haver evidências robustas sobre a eficácia da droga, a médica explica que se trata de uma postura do tipo "off label", ou seja, fora do que está prescrito na bula do medicamento. É uma prática que é feita, segundo ela, "para uso humanitário", para um grupo de paciente que possam ter consequências graves. "Foi nesse âmbito que a cloroquina foi liberada, para cada médico decidir para cada paciente. Ele define se cabe ou não o uso. Como não existe evidência, o off label se faz para situações limitadas." Ela informou que se houver evidência, aí vai ser recomendado para todos os pacientes.

Valdiléa fez questão de frisar, porém, que as duas drogas causam efeitos colaterais que podem levar a mortes, principalmente afetando os batimentos cardíacos. Ela lembra que foram registradas mortes, no decorrer da pandemia, na África e nos Estados Unidos de pessoas que resolveram por conta própria o medicamento de forma profilática.

"Não usem, não comprem para usar para esse fim de prevenir ou tratar. (Fora do ensaio clínico), apenas os médicos com pacientes muito graves vão avaliar se pode ser tentado para o tratamento, levando em conta interações medicamentosas de pacientes que usam outras drogas", diz. Problemas cardiológicos, por exemplo, podem agravar a toxicidade da cloroquina, explica a médica.

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