O que é e como se perde a virgindade? É possível ficar grávida mesmo sendo virgem? Dá para ser mãe sem nunca ter tido uma relação sexual? Para saber se as adolescentes sabem as respostas destas perguntas, um grupo de especialistas da Universidade da Carolina do Norte ouviu 7.870 jovens entre 1995 e 2009 nos Estados Unidos e concluiu que uma pequena porcentagem das jovens pode ter uma imagem distorcida do que é a virgindade, além de observarem que para algumas a religião e os conceitos culturais influenciam muito na maneira como lidam e expressam às outras pessoas sua relação com o sexo. Isto porque 0,5% das entrevistadas (45 meninas) disseram ser virgens mesmo sendo mães e confirmaram ainda que não usaram nenhum tipo de método de reprodução assistido para engravidar. Mas é possível?
Sim. Ficar grávida sendo virgem é possível, mas é raríssimo. “Já temos casos descritos, mas não é nada comum”, diz a ginecologista e obstetra do Hospital São Luiz, Dra. Daniela Maeyama. Ela explica que pode acontecer quando o homem ejacula na região interna da coxa, próximo à vagina da mulher e os espermatozóides são capazes de ultrapassar a mucosa do hímen – que é perfurada – e chegar até as trompas e ao útero.
“Em mais de dez anos de profissão, vi um caso, em um hospital público de uma menina que ficou grávida sem ter tido relação e teve o filho de cesárea, continuando a ser virgem após o parto porque não rompeu o hímen”, contou o ginecologista e obstetra Dr. Domingos Mantelli.
Ele comenta que a situação é tão incomum que gera desconforto entre a família, que demora um pouco a entender como isso é possível. “Foi o caso de uma menina nova de 14, 15 anos, então para a família é difícil aceitar isso e socialmente é muito difícil explicar também”, comenta.
Outro quadro considerado é quando existe a penetração, mas o hímen é complacente – um tipo elástico que não se rompe com facilidade. “Mesmo tendo a relação, a menina pode ser considerada medicamente virgem”, afirma o Dr. Mantelli.
Pois este conceito médico de virgindade é simples e definido exclusivamente pelo rompimento desta membrana chamada hímen. “Teoricamente, o rompimento do hímen caracteriza ser ou não virgem, mas a questão vai muito além disso”, diz Dra. Daniela Maeyama.
Conceito médico x conceito social
Para o psicólogo Antonio Carlos Egypto, do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), o conceito de virgindade já não tem mais tanta importância e não se resume à parte fisiológica, mas precisa estar também atrelado ao lado social: primeiro, porque hoje é possível “recuperar” a virgindade fazendo cirurgia de reconstrução do hímen e, segundo, porque as meninas usam de métodos alternativos para burlar esta teoria. “Para manter a virgindade, as meninas fazem várias coisas, como sexo anal e oral, mas não o vaginal. Mas ela não pode ser chamada de virgem, porque quem já participou da vida sexual em vários aspectos não podem ser considerada como tal”, afirma.
Apesar da discussão sobre a diferença destas abordagens e conceitos, os especialistas não acreditam que as brasileiras não saibam o que é virgindade, mas sim “mentem” sobre o assunto. De acordo com a pesquisa norte-americana, as meninas que responderem que eram virgens mesmo sendo mães tinham feito voto de castidade diante da igreja ou afirmaram vir de famílias em que sexo eram um assunto “proibido” e nunca foi explicado.
“Alguns grupos religiosos e culturais atribuem outro significado à virgindade. Para nós, brasileiros, significa a primeira vez que está tendo uma relação sexual e temos bem claro o conceito de virgindade”, resume a psicóloga Profa. Dra. Maria Alves de Toledo Bruns, líder do grupo de Pesquisa Sexualidadevida da USP de Ribeirão Preto.
Ela explica que, há 30 anos, a virgindade era um passaporte para o casamento, mas atualmente o conceito acompanha as mudanças sociais, políticas e culturais do País. “Hoje ainda existem grupos de adolescentes que se casam virgens e são focados nesta mentalidade mais cristã. No entanto, não existe em um número muito significativo”, comenta a psicóloga.
Nos consultórios, o assunto é claro e discutido com facilidade entre as pacientes mais jovens. “As pacientes chegam ao consultório bem esclarecidas, já tirando dúvidas e perguntando sobre anticoncepcionais”, diz a Dra. Daniela Maeyama.