É consenso entre estudiosos de saúde pública e dinâmica de doenças que novas pandemias virão. Cabe à ciência mundial antever possíveis ameaças e, a cada país, fortalecer o sistema de saúde para enfrentar o prognóstico da melhor forma possível.
No Brasil, um dos fatores de risco para o surgimento de novas doenças é o avanço do desmatamento, que corre a uma taxa elevada. Somente na região da Amazônia Legal, mais de 13 mil km2 de floresta foram derrubados em 2021 - o maior número desde 2007, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A tendência de aumento é observada desde 2018.
Essa destruição ambiental, em conjunto com o crescimento populacional, elevam as chances de transmissão de zoonoses, doenças infecciosas transmitidas entre animais e de animais para seres humanos.
Cristiana Toscano, médica epidemiologista e representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Goiás, lembra que o risco iminente dos vírus causadores das emergências sanitárias recentes - covid-19, varíola dos macacos (monkeypox) e ebola - já havia sido apontado por autoridades sanitárias internacionais antes de 2020.
"A percepção de risco precisa aumentar globalmente. O monkeypox circula há mais de 50 anos na África e ninguém prestava atenção. Agora que saiu do continente africano, ocorre um debate mundial. Precisamos de financiamento para as redes de vigilância, treinamento de profissionais de saúde e pesquisa científica, além de integração entre as saúdes humana, animal e ambiental", avalia Toscano.
Ao mesmo tempo, os avanços tecnológicos precisam ser celebrados, como as vigilâncias genômica e epidemiológica, que monitoram agentes infecciosos e incidência de doenças, bem como as plataformas vacinais e laboratoriais disponíveis.
Brasil
No contexto brasileiro, o investimento na atenção básica de saúde deveria ser prioridade para o SUS, de modo a garantir medidas de prevenção, controle de doenças e divulgação de informações baseadas em evidências científicas.
"A comunicação que se faz pela rede capilarizada de saúde é pautada na escuta. Infelizmente, a pandemia chegou ao País num momento em que essa rede estava fragilizada, por falta de investimento e de profissionais", afirma Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília e também vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde.
No caso da pandemia, somou-se a isso a falta de coordenação de estratégias via governo federal que, como afirma o infectologista Marcos Boulos, professor da Universidade de São Paulo (USP), deveria ter seguido normas sanitárias recomendadas mundialmente.
Com base nos aprendizados, Boulos aposta no imunizante como bem público: "A vacina não pode ter dono. A Organização Mundial da Saúde deve distribuir as vacinas de forma equitativa para todos os países. Isso é uma das orientações da Escola de Saúde Pública de Harvard para lidar com futuras pandemias".
O problema da queda na cobertura vacinal infantil no Brasil
Mesmo com a excelência do Programa Nacional de Imunizações do SUS, recentemente, a cobertura vacinal infantil no Brasil despencou. Um levantamento de 2022 da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) situa o Brasil no ranking dos dez países com menores taxas de vacinação infantil.
O patamar brasileiro está em 73%, e o recomendado é de 90% a 95%. Há queda nas vacinas para as principais doenças, como tuberculose (BCG), poliomielite e hepatite B. O isolamento social na pandemia e a falsa sensação de que as doenças desapareceram - controladas justamente por meio de vacinação - são alguns dos motivos para a baixa procura pelos imunizantes.
A covid no Brasil
688 mil pessoas morreram no País - 11% do total de óbitos pelo vírus no mundo foram registrados aqui - e temos 3% da população mundial.