Infecção por covid acelera progressão da demência, indica estudo

Covid demonstrou acelerar o processo de deterioração cognitiva, agravando até mesmo quadros estáveis de demência

7 mai 2023 - 16h02
(atualizado em 8/5/2023 às 16h57)

Desde a primeira onda de covid-19, os neurologistas notaram que a doença era capaz de causar síndromes neurológicas agudas de longo prazo e sequelas neuropsiquiátricas. Apesar disso, até então o entendimento sobre o impacto do coronavírus na cognição humana permanece obscuro Por isso, os neurologistas se referem a uma "névoa cerebral".

Um grupo de pesquisadores investigou os efeitos da covid-19 no comprometimento cognitivo em 14 pacientes com demência preexistente que sofreram maior deterioração cognitiva após o coronavírus. No total, foram quatro indivíduos com doença de Alzheimer, cinco com demência vascular, três com demência da doença de Parkinson, e dois com a variante comportamental da demência frontotemporal.

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"Especulamos que deve ter havido algum efeito nocivo da covid em pacientes com demência preexistente, extrapolando nossa compreensão do impacto cognitivo dessa infecção viral em pacientes sem demência", explicam os pesquisadores Souvik Dubey, MD e DM do Departamento de Neuromedicina do Bangur Institute of Neurosciences (BIN), localizado em Calcutá, na Índia, e Julián Benito-León, MD e Ph.D. do Departamento de Neurologia da Universidade Hospital 12 de Octubre, em Madri, na Espanha.

Segundo eles, a avaliação de deficiências cognitivas em pacientes com demência preexistente é difícil devido a vários fatores de confusão e vieses.

Danos progressivos

A dupla descobriu que todos os subtipos de demência, independentemente dos tipos anteriores da doença nos pacientes, comportavam-se como demência progressiva após a covid. Além disso, os cientistas perceberam que a linha de demarcação entre os diferentes aspectos da enfermidade ficava mais difícil após a covid-19.

Os pesquisadores também descobriram que as características de um determinado tipo de demência mudaram após o contágio com o vírus. Além disso, as demências degenerativas e vasculares começaram a se comportar como mista, tanto clínica quanto radiologicamente. Um curso de deterioração rápida e agressiva foi observado em pacientes com início insidioso, demência lentamente progressiva e que era previamente estável cognitivamente.

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Os achados do estudo sugerem que os cérebros previamente comprometidos têm pouca defesa para resistir a um novo insulto. Ou seja, um "segundo golpe" como uma infecção promove uma resposta imune desregulada e inflamação.

Névoa cerebral?

De acordo com o Dr. Dubey e seus co- investigadores, "Névoa cerebral" é uma terminologia ambígua. Além disso, sem atribuição específica ao espectro de sequelas cognitivas pós-covid. "Com base na progressão de déficits cognitivos e na associação com alterações na intensidade da substância branca, propomos um novo termo: 'FADE-IN MEMORY'. Ou seja, Fadiga, diminuição da fluência, déficit de atenção, depressão, disfunção executiva, velocidade de processamento de informações reduzida e comprometimento da memória subcortical."

Outras questões associadas à descoberta

A pesquisadora Mahua Jana Dubey, MD do Departamento de Psiquiatria do Berhampur Mental Hospital, em Berhampur, na Índia, lembra que os déficits cognitivos, quando acompanhados de depressão e/ou apatia e fadiga em pacientes com ou sem demência preexistente, exigem uma avaliação meticulosa. Isso porque eles impõem estresse e sobrecarga aos cuidadores. "Esta é uma das questões mais importantes, mas muitas vezes esquecidas, que podem ter o potencial de dificultar o tratamento."

"Como o envelhecimento da população e a demência estão aumentando globalmente, acreditamos que o reconhecimento de padrões de déficits cognitivos associados à covid-19 é urgentemente necessário para distinguir entre as deficiências cognitivas associadas ao coronavírus e outros tipos de demência", concluiu o Dr. Souvik Dubey.

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Fonte: Souvik Dubey et al, The Effects of SARS-CoV-2 Infection on the Cognitive Functioning of Patients with Pre-Existing Dementia, Journal of Alzheimer's Disease Reports (2023).

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Foto: Shutterstock / Saúde em Dia
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