Isaquias levou prata em Paris com apenas um rim: 'Maior desafio é superar os meus próprios limites'

Medalhista da canoagem perdeu um dos órgãos há 2 décadas, aos 10 anos; médico nefrologista aponta cuidados adicionais que o atleta deve ter

24 jul 2024 - 05h00
(atualizado em 9/8/2024 às 11h47)
Isaquias Queiroz com a medalha de prata
Isaquias Queiroz com a medalha de prata
Foto: Alexandre Loureiro / COB

Desde criança, Isaquias Queiroz, 30, está reunindo evidências de que não veio a este mundo a passeio. O baiano de Ubaitaba, que conquistou nesta sexta-feira (9) a medalha de prata em Paris, superou inúmeras dificuldades desde o início da vida. Uma das maiores lhe ocorreu aos 10 anos, quando subiu em uma árvore para conferir uma serpente morta, caiu de costas sobre uma pedra e feriu um dos rins, que precisou ser retirado.

No entanto, um rim a menos não impediu que Isaquias se tornasse o primeiro campeão olímpico brasileiro na canoagem, dono agora de cinco medalhas olímpicas, alcançando ainda o título de primeiro brasileiro a conquistar três medalhas numa única edição dos Jogos, na Rio-2016.

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Foi Isaquias também que representou o Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 desfilando pelo rio Sena como porta-bandeira ao lado de Raquel Kochhann, do rugby.

Em entrevista ao Terra Você, concedida antes da Olimpíada e publicada originalmente em 24 de julho de 2024, o canoísta contou que, apesar das adversidades que precisou enfrentar durante sua jornada, não ter um rim há duas décadas estava longe de ser o maior desafio da sua vida. 

“Não dá para definir um [desafio] ou outro, o importante é que eu busco vencê-los sempre, acho que o maior desafio é superar os meus próprios limites, pra mim esse sempre será o mais desafiador”

Isaquias Queiroz, medalhista olímpico da canoagem

Isaquias Queiroz nos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023, ele conquistou a medalha de prata no C1 1000m da canoagem velocidade
Foto: Divulgação/William Lucas/COB

Dieta especial

Acompanhado de perto pelo técnico da Seleção Brasileira Olímpica de Canoagem, Lauro de Souza Junior, o atleta explicou como lidou com a pressão de competir em alto nível, especialmente carregando muitas expectativas para o país.

“Eu vou na água para competir e superar os meus próprios desafios, não adianta ter frio na barriga na competição se você deu mole nos treinamentos, quando você treina bem e faz o seu dever de casa, na competição é só o fechamento do resultado que tivemos”, destacou Isaquias.

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O atleta ainda revelou uma dieta "especial" que o ajudou na preparação para as provas durante as competições: “A nutrição é sempre a comida caseira feita pela minha esposa, essa é a melhor nutrição que um atleta pode ter."

O baiano já havia revelado em outras entrevistas que Paris seria sua última participação como atleta nos Jogos Olímpicos, mas os planos mudaram e Isaquias ainda almeja competir nos Jogos Olímpicos de Verão em Los Angeles, em 2028. 

“Vou dar uma descansadinha depois dos Jogos Olímpicos, curtir mais minha família, viajar e depois me preparar para o próximo ciclo olímpico.”

Isaquias Queiroz, medalha de prata em Paris 2024

Atletas precisam de cuidados adicionais

O médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, José A. Moura Neto, explica que desde que sejam tomados alguns cuidados, é possível ter uma vida relativamente normal com um rim só. No entanto, os atletas devem tomar alguns cuidados adicionais. 

“Manter-se hidratado, evitar uso de medicamentos potencialmente nefrotóxicos e suplementos de proteína, que podem sobrecarregar o rim, além de manter hábitos de vida saudáveis”, explicou o médico ao Terra Você.

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Entre os cuidados preventivos que atletas com um único rim devem seguir para manter a saúde renal a longo prazo, o especialista destacou:

  • Manter um estilo de vida saudável;
  • Alimentação balanceada;
  • Evitar excessos de proteína e alta ingestão de sal;
  • Manter-se hidratado;
  • Evitar uso de drogas nefrotóxicas;
  • Evitar uso de qualquer suplementação sem orientação médica, pois muitas delas podem ser prejudiciais aos rins;
  • Controlar e monitorar fatores de risco, como obesidade, colesterol alto, diabetes e a pressão arterial. 

Exames simples e baratos, como o exame de urina e o exame de creatinina no sangue, estão amplamente disponíveis no Brasil - inclusive na rede pública - e são capazes de avaliar a presença de lesão no rim e a função renal. 

“Não há suplementos que possam beneficiar atletas com rim único, mas a modificação na dieta pode ser benéfica para esses pacientes. Suplementos devem ser discutidos com um médico, pois podem ser prejudiciais para a função dos rins”, orientou

o médico.

Fonte: Redação Terra Você
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