SÃO PAULO - Uma estratégia de isolamento social que só mantenha idosos em casa, como sugere o presidente Jair Bolsonaro, ainda poderia levar à morte cerca de 530 mil pessoas no Brasil em decorrência da covid-19. A taxa é um pouco menos da metade da que poderia ocorrer se nada fosse feito no País para conter a dispersão do novo coronavírus. Mas é muito mais alta do que os resultados que poderiam ser conseguidos com uma estratégia rápida e ampla de isolamento social.
Os números fazem parte da nova pesquisa do Grupo de Resposta à Covid-19 do Imperial College de Londres, instituição que vem fazendo quase em tempo real projeções matemáticas do crescimento da pandemia e avaliações das ações em andamento. Foi um trabalho dessa turma com projeções para os Estados Unidos e o Reino Unido, que fez o primeiro-ministro, Boris Johnson, recuar sobre a ideia de adotar um isolamento vertical.
A pesquisa mais recente, divulgada nesta quinta-feira, 26, expandiu a modelagem para 202 países. Os cientistas, liderados por Neil Ferguson, comparam os possíveis impactos sobre a mortalidade em vários cenários: ausência de intervenções, com distanciamento social mais brando, que eles chamam de mitigação, ou mais restrito, que é a chamada supressão.
As estimativas foram feitas com base nos dados da China e de países de alta renda, o que pode significar que para os países de baixa renda a realidade possa ser ainda mais grave que a apontada no trabalho.
Os pesquisadores consideram que se houvesse no Brasil uma restrição mais ampla de isolamento no Brasil, e rápida, ainda haveria cerca de 44 mil mortes.
A eficácia do isolamento mais amplo ocorreria em todo o mundo, de acordo com os pesquisadores. Eles estimam que na ausência de intervenções, a covid-19 resultaria em 7 bilhões de infecções e 40 milhões de mortes em todo o mundo este ano.
"Estratégias de mitigação focadas na blindagem de idosos (redução de 60% nos contatos sociais) e desaceleração, mas não interrupção da transmissão (redução de 40% nos contatos sociais para uma população mais ampla) poderia reduzir esse ônus pela metade, salvando 20 milhões de vidas, mas prevemos que, mesmo nesse cenário, os sistemas de saúde em todos os países será rapidamente sobrecarregado", escrevem.
"É provável que esse efeito seja mais grave em contextos de baixa renda onde a capacidade é mais baixa. Como resultado, prevemos que o verdadeiro ônus em ambientes de baixa renda que buscam estratégias de mitigação podem ser substancialmente mais altos do que refletido nessas estimativas", continuam os pesquisadores.