A médica Carolina Biscaia, investigada pela Polícia Civil do Paraná por emitir falsos laudos de câncer de pele, não possui registro para atuar como dermatologista. A informação foi divulgada pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) nesta semana.
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O CRM publicou uma "censura pública" à médica com base em dois artigos do Código de Ética Médica. São eles:
- Art. 18. Desobedecer aos acórdãos e às resoluções dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina ou desrespeitá-los;
- Art. 115. Anunciar títulos científicos que não possa comprovar a especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de Medicina.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) se posicionou após a divulgação do caso da médica Carolina Biscaia. A organização publicou uma nota em que alerta a população para sempre checar os registros profissionais do médico que busca.
"Ao procurar um médico que se intitula dermatologista é importante verificar se o especialista tem o Registro de Qualificação de Especialista, também conhecido como RQE. É um cadastramento com número exclusivo, utilizado para identificar o especialista em diversas áreas da medicina. Este registro é emitido após a conclusão de Residência Médica reconhecida ou após a aprovação na prova de título de especialista da AMB com a Sociedade de especialidade médica especifica para cada área", informa a nota.
A entidade acrescenta que tais registros podem ser consultados no site do Conselho Federal de Medicina (CFM) e, no caso específico dos dermatologistas, também no site da SBD.
Falsos laudos de câncer
Até o momento, 22 pacientes denunciaram a médica Carolina Biscaia por falsificar laudos de câncer de pele. A dermatologista, que atuava em Pato Branco, no interior do Paraná, é suspeita de usar resultados falsos de exames para cobrar por procedimentos para extração de câncer que não existe.
O advogado André Luiz Hamera, que representa três pacientes vítimas da médica, afirma que tem conhecimento de apenas um que não precisou de um procedimento invasivo para remover o falso tumor. "No restante das 22, todas as pessoas tiveram que se submeter a procedimento. Seja para retirada, então, do suposto tumor, do suposto câncer na perna, no rosto, nas costas, enfim, foram várias", afirma ao Terra.
Um dos pacientes teria desembolsado R$ 13 mil para a remoção do suposto câncer, detalha o delegado Helder Andrade, da Polícia Civil. "Algumas vítimas foram lesionadas, tanto fisicamente quanto monetariamente. Algumas pagaram R$ 10 mil, R$ 5 mil, chegou vítima a pagar R$ 13 mil, dependendo dos procedimentos que foram realizados".
Ainda segundo o advogado, até o momento, o primeiro registro encontrado de fraude seria de meados de dezembro de 2023. Os primeiros pacientes a denunciarem notaram que os laudos que receberam da clínica de Carolina Biscaia tinha algumas falhas de visualização. Então, eles procuraram o laboratório onde o exame havia sido feito e constataram que não era o mesmo resultado.
"O laudo apresentado pela médica e o laudo encaminhado pelo laboratório, pelo laudo oficial, eles eram completamente divergentes. Comunicado o laboratório, o laboratório foi muito claro e falou: 'Não, esse laudo que a clínica está encaminhando não é nosso, não tem nada a ver com o nosso laboratório'", explica Hamera. Daí, surgiu a suspeita de fraude.
Como médica atuava
A investigação mostrou que as vítimas procuravam a médica para consultas dermatológicas e eram informadas de que algumas pintas presentes no corpo tinham características de câncer. Assim, era retirada uma amostra para ser examinada no laboratório de patologias.
Na sequência, a médica informava a necessidade da paciente retornar ao consultório, em virtude de o laudo de exame constatar que a vítima estaria com câncer. Em uma nova consulta, ela mostrava um laudo que indicava a presença da doença e realizava o procedimento de ampliação de margens, cobrando os valores pertinentes.
A Polícia Civil do Paraná realizou, no fim do mês passado, uma operação de busca e apreensão tendo como alvo a médica Carolina Biscaia. "Foram recolhidos computadores, celulares e também diversos documentos no consultório médico, que agora estão a cargo da perícia. Nós estamos aguardando o laudo pericial para juntar todas as evidências e encaminhar para o Poder Judiciário e o Ministério Público para a continuidade do procedimento", disse à época o delegado Helder Andrade.
Segundo o advogado André Luiz Hamera, o inquérito policial ainda não foi finalizado. Os pacientes também entraram com uma ação no âmbito judicial, na Comarca de Pato Branco, para pedir reparação e ressarcimento monetário.
O Terra entrou em contato com a Dermatto Clínica, onde a médica atende, e não obteve retorno até o momento. A defesa da médica também foi procurada, mas ainda não retornou. O espaço segue aberto para manifestações.
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) disse, em nota, que irá instaurar procedimento sindicante para apurar denúncia de possível desvio ético cometido pela médica. O trâmite ocorre sob sigilo.