Nesta semana, a jogadora Cristiane Rozeira e a esposa, Ana Paula Garcia, anunciaram que vão ser mães pela segunda vez! Mães de Bento, as duas esperam o nascimento de mais um bebê, que será uma menina e que foi gerada por meio da gestação compartilhada. Este procedimento foi feito com o uso do óvulo de Cristiane e o útero de Ana Paula, promovendo a oportunidade de que as duas tenham uma participação importante na geração do embrião. Para entender mais sobre o procedimento, a CARAS Brasil conversou com o médico Vinicius Bassega, que é ginecologista especialista em reprodução humana e que foi o responsável pelas duas gestações de Cris e Ana.
O Dr. Bassega contou que Cristiane e Ana Paula optaram pela fertilização in vitro para aumentarem a família. Na primeira gravidez, que deu origem ao Bento, primeiro filho delas, Cristiane precisou passar pelo processo de retirada dos óvulos para a fertilização in vitro e o embrião foi colocado no útero de Ana. Além disso, elas congelaram os embriões restantes do processo para futuras gestações. Agora, o casal pegou um dos embriões que estava em criopreservação e implantou no útero, dando origem a segunda gestação delas.
Como é feita a retirada dos óvulos para a FIV?
O Dr. Vinicius Bassega explicou que, como Cristiane Rozeira é uma atleta de alta performance, ele precisou pedir autorização de organizações do futebol para que ela pudesse usar os medicamentos necessários e não prejudicar sua atuação em campo. "No processo que a Cris fez lá atrás, antes da gestação do Bento, nós organizamos tudo com o Comitê Olímpico Brasileiro e a FIFA, organizei as medicações que eu precisava utilizar, pedi autorização para usá-las por ela ser uma atleta de alta performance e começamos o tratamento", afirmou ele.
E completou: "O tratamento consiste em usar as medicações, que fazem o crescimento dos folículos, que estão dentro do ovário, e que a gente espera que dentro de cada um deles tenha um óvulo. Ela utilizou as medicações por volta de 10 dias e fez o acompanhamento com ultrassom para acompanhar o crescimento dos folículos. Decidimos o melhor dia para a coleta dos óvulos, fizemos a coleta e foi feito a junção do óvulo com o espermatozoide, ou seja, a fertilização in vitro. E aguardamos o desenvolvimento dos embriões num período de 5 a 7 dias, até chegarem no estágio de desenvolvimento embrionário final, que nós chamamos de blastocisto".
Análise genética dos embriões
Depois da FIV, os embriões passam por exames para identificarem possíveis anomalias. "No caso da Cris e da Ana, nós fizemos a análise genética dos embriões e foram congelados. Aguardamos sair o resultado das análises genéticas dos embriões para, posteriormente, fazer a transferência embrionária, já sabendo o status genético do embrião que ia ser transferido", afirmou ele.
Na hora de implantar no útero de Ana, o casal e o médico escolheram colocar apenas um embrião. "As transferências que nós fizemos - da gestação do Bento e esta gestação - fizemos a transferência de um embrião único, que nós já sabíamos que o embrião é genéticamente normal. Nós sabemos que nem sempre na primeira tentativa a gente consegue obter o sucesso. No caso delas, nas duas tentativas, de primeira transferência, nós tivemos um resultado positivo", declarou.
Será que os cuidados da gestante por FIV são diferentes da gestação natural?
Ao ser questionado sobre algum cuidado diferente que a gestante que engravidou por FIV precisaria ter em relação a uma gestação de forma natural, o médico disse que são as mesmas orientações para os dois casos. "No geral são os mesmos cuidados que devem ter em uma gestação de forma natural. Mas a gente deve atentar a algumas coisas que podem aumentar os riscos obstétricos, seja numa gestação natural ou por FIV. Por exemplo, pacientes com gestação acima de 35 anos ou que já tenha alguma comodidade, como pressão arterial crônica, diabetes, hipotireoidismo. A gente não vai olhar só para a FIV como fator de risco. A gente tem que olhar se não existe algum outro fato associado que pode tornar a gestação de alto risco. Por exemplo, uma gestação natural que a mulher tem 39 ou 40 anos, pode se tornar uma gestação de alto risco", definiu.
As duas opções para os casais homoafetivos femininos
Dr. Bassega também explicou que existem duas formas de um casal homoafetivo feminino ter uma gestação: a FIV ou a inseminação intrauterina. Saiba quais são as diferenças:
"No caso de casais homoafetivos femininos, teríamos a possibilidade da inseminação intrauterina e da fertilização in vitro. Na inseminação intrauterina, a mesma pessoa que está fazendo o tratamento é a pessoa que vai engravidar. Já na fertilização in vitro, tem a vantagem de poder fazer a análise genética dos embriões, que somente é possível fazer na FIV, e também podemos fazer o tratamento da forma que a Cris e a Ana fizeram, que é a gestação compartilhada. Ou seja, formar os embriões com os óvulos da Cris e transferir para o útero da Ana para que ambas participem do processo. E isso só é possível na fertilização in vitro", disse.
Possíveis limitações para fazer a FIV
As mulheres que desejam fazer a fertlização in vitro (FIV) devem estar atentas a algumas limitações que podem surgir no caminho. "Quando nós falamos em idade, o Conselho Federal de Medicina coloca como limite para gestação 50 anos de idade, e acima dessa idade ela pode engravidar caso não tenha nenhuma contraindicação de saúde e tenha passado por uma avaliação médica, e que o médico esteja de acordo com a gestação além dos 50 anos de idade, e tendo feito a avaliação", afirmou.
"Sempre deve-se avaliar se a paciente não tem uma hipertensão de difícil controle, associada com alguma outra patologia e que possa expor a paciente a algum risco durante a gestação e chegar a conclusão de que existe o risco e pode ser prejudicial para a saúde da paciente se ela engravidar, existe sim a contraindicação. Como por exemplo, quando tem alguma cardiopatia, algum problema cardíaco que possa ter alguma contraindicação absoluta para a gestação. Sempre a paciente deve ser avaliada de forma minuciosa, ver se preenche os critérios de liberação pelo CFM e também que o médico que está acompanhando tenha avaliado de forma detalhada para liberar com segurança que a paciente possa engravidar", finalizou o Dr. Bassega.