Uma fórmula que se diz natural, mas não informa o que tem. Várias promessas de melhorias de saúde feminina tomando apenas 20 gotas ao dia para encher de ilusões mulheres que sofrem com um problema sério: infertilidade.
Esse marketing obscuro é um dos motes do produto Vita Baby gotas, que nas redes sociais continua a ser propagado, mesmo com a proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em março último. No Tik Tok, há uma enxurrada de vídeos sobre a solução oral, totalizando 7,9 milhões de visualizações.
“O produto não informa no seu rótulo o que tem, mas se diz natural. É necessário tomar cuidado com promessas milagrosas, principalmente com um problema tão sério quanto a infertilidade. Carências nutricionais podem ser uma das questões envolvidas na dificuldade de engravidar, no entanto nem sempre é a única e, mesmo que seja, é necessário investigar para saber quais são essas carências. Existem macro e micronutrientes que ajudam a melhorar a fertilidade e não existe uma fórmula mágica”, destaca Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
“Além disso, não é porque é natural que o produto não pode causar problemas. O fato de omitir a formulação já torna o produto perigoso para pacientes com alergias”, acrescenta o médico.
Infertilidade cresce no mundo todo
A infertilidade é um problema que vem crescendo no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma em cada seis pessoas é infértil.
“Aqueles que não engravidam em um ano certamente têm problemas na saúde reprodutiva ou de fertilidade e devem buscar ajuda de um especialista. A idade é o motivo mais comum para problemas de fertilidade em mulheres, mas ambos os parceiros devem fazer uma avaliação de fertilidade, porque também há causas masculinas”, destaca Fernando.
Esse, aliás, é um problema do marketing desse tipo de produto: ele reforça a infertilidade como uma questão exclusivamente feminina.
“Sempre temos que entender que a análise deve ser completa, no casal, com exames para identificar a reserva ovariana, a contagem de espermatozoides, análise das trompas, do endométrio, entre outros”, diz o médico.
Cuidados naturais que melhoram a saúde reprodutiva
Segundo o Fernando Prado, até existem cuidados naturais que podem melhorar a saúde reprodutiva, como:
- • Não fumar e nem beber;
- • Manter um peso corporal adequado;
- • Dormir de 6 a 8 horas de sono de qualidade;
- • Exercitar-se regularmente, mas sem exagerar;
- • Tomar suplementos contendo ácido fólico e outras vitaminas (orientados por um especialista);
- • Limitar a carne ultraprocessada em sua dieta.
“Mas técnicas de reprodução assistida como a fertilização in vitro (FIV) também são uma possibilidade. A FIV pode ser a primeira escolha em alguns casos. Mas, acima de tudo, o importante é procurar um especialista e não desistir do seu sonho de constituir família. A Medicina evoluiu muito possibilitando novas formas de melhorar a saúde reprodutiva”, diz o médico.
Alegações consideradas "absurdas"
Além de prometer gravidez, o “milagre em gotas” promete curar a endometriose, miomas e até reverter a laqueadura.
“A laqueadura é uma técnica de esterilização definitiva, que só pode ser revertida por cirurgia ou atingindo a gravidez por fertilização in vitro. Dizer que 20 gotinhas podem fazer uma mulher laqueada engravidar beira o estelionato”, afirma o médico.
Além disso, a endometriose, por exemplo, é uma doença que é severa com a fertilidade feminina.
“É a principal causa, inclusive. A endometriose é uma doença inflamatória que ocorre quando as células do endométrio, o tecido que reveste a parede interna do útero, em vez de serem eliminadas durante a menstruação, movimentam-se no sentido oposto, caindo no interior do abdômen e se implantam nos órgãos e tecidos internos. Ela se relaciona com a fertilidade, porque essas células se espalham pelo aparelho reprodutivo, dificultando desde a fertilização do óvulo até a implantação do embrião”, diz o médico.
Sintomas que são negligenciados
O número de mulheres com endometriose atualmente pode ser maior do que o relatado, pois, até hoje, os sintomas da doença são negligenciados, levando a um cenário de subdiagnóstico.
“A endometriose tem como principal sintoma dor pélvica intensa durante a menstruação, que geralmente não recebe atenção por ser confundida com cólicas menstruais. Isso faz com que o diagnóstico da condição seja realizado muito tardiamente, quando as mulheres encontram alguma dificuldade para engravidar”, explica Fernando.
Mulheres com endometriose podem precisar de cirurgia e outros tratamentos. “Para engravidar, a FIV pode ser necessária. Procure sempre um especialista”, finaliza Fernando Prado.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.