Médicos lançam novo consenso para tratar alopecia areata, que causa queda de cabelo; veja o que muda

Doença pode atingir pessoas de qualquer idade e pode provocar perda de pelos também nas sobrancelhas ou na barba

21 jan 2025 - 14h42

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) atualizou, em dezembro, o consenso para o tratamento da alopecia areata - uma doença inflamatória crônica e autoimune que acontece quando o sistema imunológico ataca involuntariamente os folículos capilares, levando à queda de cabelo de forma súbita e localizada.

É diferente da "calvície", termo popular usado para descrever a alopecia androgenética, condição caracterizada pela perda progressiva de cabelo por fatores hormonais e genéticos. Embora não represente risco imediato à saúde, a alopecia areata pode afetar significativamente a autoestima e o bem-estar emocional de quem a enfrenta.

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O último consenso sobre a doença havia sido publicado em 2020, mas a SBD decidiu renovar o documento por conta das grandes modificações, novos estudos e melhor compreensão do processo inflamatório que ocorre nos pacientes.

"Hoje nós reconhecemos melhor os mecanismos de como a doença se desenvolve, os estudos evoluíram muito", afirma a dermatologista Fabiane Brenner, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenadora do ambulatório de alopecia areata no Hospital de Clínicas de Curitiba há mais de 20 anos e uma das autoras do consenso da SBD.

Entre as principais novidades estão a inclusão dos medicamentos inibidores de Jak (Janus quinase), que são drogas mais modernas, com melhores resultados e menos efeitos colaterais. Dois deles (baricitinibe e ritlecitinibe) foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e estão disponíveis no Brasil, o último há menos de um ano. Os estudos mostraram eficácia sustentada no crescimento capilar de pacientes com alopecia areata grave, com taxas de resposta de até 38,8% em 36 semanas para o baricitinibe e 31% em 24 semanas para o ritlecitinibe.

Segundo a dermatologista e tricologista Barbara Arruda Fraletti Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein, esses medicamentos podem ser considerados revolucionários para o tratamento, especialmente em casos graves, em que outras opções terapêuticas costumam apresentar resultados limitados. Ela ressalta, entretanto, que embora eles tenham mostrado resultados significativos, as respostas podem variar. "Alguns pacientes apresentam uma resposta excelente, enquanto outros têm resultados parciais."

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Outro ponto de atenção é o preço - o valor do tratamento pode variar de R$ 1,5 mil a R$ 6,5 mil por mês. "Por ser uma doença crônica, o tratamento geralmente precisa ser mantido por longo prazo. Ainda enfrentamos desafios importantes, incluindo o acesso", pondera a especialista.

De acordo com Fabiane, a inclusão desses medicamentos no consenso é importante não apenas para ampliar o leque de opções de tratamento, mas também para dar subsídios à sua incorporação na cobertura de planos de saúde e no Sistema Único de Saúde (SUS).

Além disso, alguns medicamentos anti-inflamatórios que eram recomendados, como a sulfasalazina, devem cair em desuso. "Esse remédio era valorizado em consensos anteriores, mas acabamos diminuindo a importância dele no novo documento, já que os resultados são muito inferiores em comparação com as novas opções", explica Fabiane.

Nova classificação

Outra mudança contemplada no documento é a nova forma de identificar a extensão e a gravidade da alopecia areata. Antigamente, explica Fabiane, a classificação era baseada na área atingida pela doença: casos com menos de 20% do couro cabeludo afetado eram considerados leves; entre 20% e 49% eram moderados e acima de 50%, severos.

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Agora, outros fatores devem ser considerados, como o impacto social negativo (depressão associada ou piora na qualidade de vida), resposta clínica inadequada ao tratamento nos últimos seis meses e múltiplas áreas positivas no teste de tração (puxão de cabelo), indicando várias áreas de atividade da doença no couro cabeludo.

As causas da doença não são completamente compreendidas, mas os pesquisadores sabem que fatores genéticos, ambientais e gatilhos como estresse estão envolvidos. "A doença não tem predileção por raça e acomete igualmente homens e mulheres. Estima-se que o risco de desenvolver alopecia areata ao longo da vida seja de 2%", afirma Barbara.

Normalmente, o diagnóstico é feito pelo médico dermatologista ao avaliar as falhas no couro cabeludo. "Em situações de dúvida, pode ser necessário um exame anatomopatológico", conta Barbara. Dada a variedade de apresentações clínicas da doença, é fundamental que essa avaliação seja conduzida por um profissional qualificado.

A doença não tem cura, mas tem tratamento — e este deve ser escolhido levando em consideração a gravidade da condição, a saúde global do paciente e tratamentos prévios.

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"Por se tratar de uma doença com um curso imprevisível, o acompanhamento regular com um dermatologista é essencial, não apenas para ajustes terapêuticos, mas também para oferecer suporte emocional ao paciente", afirma Barbara, frisando que a adesão ao tratamento é um fator decisivo e exige paciência e persistência para a obtenção dos melhores resultados.

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