A cannabis medicinal tem sido usada no tratamento de diversas doenças e distúrbios psíquicos, como ansiedade, Parkison, esquizofrenia, entre outros. Mais recentemente, porém, alguns médicos passaram a receitar fórmulas com 2% de canabidiol para o combate de problemas de pele, tais quais prurido, acne, dermatite atópica e mesmo queda de cabelo.
Porém, parte da comunidade médica ainda hesita em receitar o composto para problemas dermatológicos. Durante o 76º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, realizado no mês passado (setembro/2023), em Florianópolis, o coordenador do núcleo de dermatologia do hospital Sírio-Libanês, Reinaldo Tovo Filho, declarou que o futuro dos derivados da maconha é promissor, mas ainda é cedo para recomendar o seu uso na pele ou no cabelo.
Segundo Tovo Filho, só mais recentemente a ciência passou a se dedicar aos efeitos do canabidiol na dermatologia, e ainda faltam pesquisar para comprovar a sua eficácia. Contudo, os resultados dos estudos são promissores; eles mostraram que derme, epiderme e folículos capilares possuem receptores dos chamados endocanabinoides, canabinoides produzidos pelo próprio corpo.
De acordo com o médico, o objetivo da pesquisa deve ser utilizar derivados da maconham que atuem nesses receptores endocanabinoides e ajudem a produzir uma substância que "dede alguma maneira, bloqueie os receptores relacionados à inflamação da pele, à coceira".
"Teoricamente, o canabidiol pode ajudar, mas são mecanismos muito complexos. Não é uma ou outra substância, há diversas substâncias envolvidas na coceira, por exemplo. Precisamos estudar mais, senão podemos melhorar uma coisa e piorar outra. Carecemos de mais estudos", repetiu o médico em entrevista à Folha de São Paulo.
Mercado em crescimento
Os consumidores e pacientes, contudo, parecem não ligar para a falta de estudos que comprovem a eficácia total dos benefícios da cannabis para a pele. Um relatório de análise publicado recentemente pela GrandView Research mostrou que o mercado global de cosméticos a base de cannabis foi avaliado em 964 milhões de dólares no ano de 2022.
Ainda, existe a previsão de crescimento do mesmo em 31,5% de 2023 até 2030, podendo alcançar a casa dos 8,62 de bilhões de dólares de lucro até ano. O mercado norte-americano ainda é o que domina o setor. Mas, aqui no Brasil, este setor também está em crescimento.
Juliana Guimarães, co-fundadora do ODispensário - primeiro espaço físico de acolhimento, compartilhamento de informações e comercialização de produtos lícitos do mercado canábico brasileiro, localizado em Brasília, afirma que o uso de terpenos extraídos da cannabis em produtos de cuidados pessoais está se tornando uma tendência de beleza. Ela explica que os produtos podem proporcionar efeitos relaxantes, antioxidantes, anti-inflamatórios e hidratantes.
"Os produtos terpenados com cannabis representam uma revolução na indústria de beleza e bem-estar”, conclui Fernando Santiago, também co-proprietário do O Dispensário.