'Meu ex espalhou para todo mundo que eu tinha HIV - e era mentira'

Ex-companheiro de Helen passou a persegui-la após término de relacionamento; ela conta que, por causa das mentiras, ficou "muito assustada" e teve que deixar de sair em público.

26 out 2017 - 14h00
(atualizado às 14h24)

O fim do relacionamento de Helen (nome fictício) foi o início de um pesadelo. "Eu passei a receber sem parar ligações, e-mails, mensagens. Em um único dia, chegaram 457 mensagens", diz ela à BBC.

Ela estava sendo perseguida por seu ex-namorado.

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"O conteúdo das mensagens era horrível. Muito abusivo, me chamando de 'escória da humanidade', perguntando como eu podia terminar aquele relacionamento, que ninguém iria me querer", conta.

'Helen'
'Helen'
Foto: BBC News Brasil

"Depois, piorou", acrescenta.

Em uma rede social, o homem mentiu dizendo que Helen tinha infecções sexualmente transmissíveis e HIV.

"Vivia em uma comunidade muito pequena. Foi horrível ter que lidar com isso; não podia mais sair em público. Sentia como se todos soubessem e estivessem falando sobre mim. Fiquei muito, muito assustada e paranoica", conta.

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Helen decidiu dar fim àquela situação e procurou ajuda.

Ela diz que, a princípio, a polícia foi muito solícita e notificou seu ex-namorado por assédio. Mas ressalva que o caso nunca foi tratado como perseguição, mesmo depois de o homem passar de carro várias vezes em frente à sua casa enquanto estava reunida com policiais.

Mas o homem violou os termos da notificação policial ao publicar comentários na internet sobre Helen e tentar se comunicar com ela diretamente.

Quando voltou à polícia, Helen sentiu que estava sendo ignorada. Escutou comentários como: "Ele é de uma boa família. Você não pode ignorar as coisas no Facebook, pedir aos amigos para não te mostrarem mais isso?". Chegou a ser aconselhada, inclusive, a se afastar das redes sociais.

Ela diz também que, ao ligar para o disque-denúncia de casos de perseguição, ouviu que deveria esperar de "cinco a sete dias".

Ciberperseguição

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Tela de celular
Foto: BBC News Brasil

São casos como os de Helen que levaram o Centro Nacional de Pesquisa em Ciberperseguição (NCCR, na sigla em inglês) da Universidade de Bedfordshire e a polícia de Bedfordshire, condado no leste da Inglaterra, a criar medidas para ajudar as vítimas e quem investiga esse crimes.

Um aplicativo está sendo desenvolvido para facilitar a coleta de provas de perseguição, como registros telefônicos, capturas de tela do celular, vídeos e gravações.

O app reúne dados por trás das mensagens recebidas para ajudar a achar o criminoso e identifica os períodos do dia ou da semana em que ele está mais ativo para que a vítima possa se planejar para tentar evitar o assédio.

Em julho, dois órgãos do governo britânico divulgaram um relatório conjunto em que alertam para a vulnerabilidade das vítimas de assédio e perseguição por falhas na atuação de policiais e promotores da Inglaterra e do País de Gales no registro e investigação desse tipo de crime.

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Mais de 1,1 milhão de pessoas são alvo por ano de algum tipo de perseguição nestes dois países, segundo estatísticas oficiais.

Emma Short
Foto: BBC News Brasil

O NCCR também criou um questionário para ajudar policiais a avaliar o risco que o criminoso representa para uma vítima.

O psiquiatra forense Frank Farnham diz que a reação inicial da polícia é vital e que, "em média, uma pessoa suporta a situação por três meses antes de procurar ajuda".

"Se um policial considerar o que ela está vivendo como trivial, a pessoa pode não retornar", acrescenta o especialista.

Frank Farnham
Foto: BBC News Brasil

O grupo de trabalho de Bedfordshire ainda se dedica a tratar o criminoso. A polícia do condado quer entender por que uma pessoa comete esse tipo de crime e educá-la sobre o impacto de seu ato.

Farnham defende que a recuperação é possível em alguns casos.

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"Depende da motivação e do estado mental do criminoso", assinala.

"Há certos indivíduos que compreendem em certa medida que seu comportamento é inaceitável, mas carecem das habilidades necessárias para lidar e dar fim a isso. Se você puder intervir cedo, oferecendo terapia e tratamento para doenças mentais, isso pode ser benéfico", acrescenta.

Ele diz que, como a taxa de reincidência entre perseguidores é alta, uma pequena mudança em sua forma de agir pode ter um grande impacto no número de incidentes com os quais a vítima tem de lidar.

Para Helen, isso representaria um grande avanço. Ela diz que seu ex-namorado deixou de fazer contato com ela há vários meses.

"Ser perseguida fez eu sentir como se eu não tivesse nenhum valor. E sou uma pessoa muito forte, independente e animada", afirma.

"Fiquei com muita raiva de mim mesma por ter entrado nessa, nunca pensei que estaria em um relacionamento assim. Fiquei com muita raiva dele também e decidida a superar tudo isso", conclui.

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